«São a força e a liberdade que fazem os homens virtuosos. A fraqueza e a escravidão nunca fizeram nada além de pessoas más», Jean Jacques Rousseau.
Permito-me introduzir esta crónica com a citação de J. J. Rosseau porque, parece-me, haver por aí uma confusão enorme pelo país. Sejamos claros, nestas coisas da política, felizmente, não somos neutros, a subjectividade é inerente ao ser humano. Por isso, as tomadas de posições sobre o mesmo assunto tão díspares. Todos aceitam, ainda que muitos de forma hipócrita, a greve como um direito. Mas, pelos vistos, só é legitima se for a nosso favor. É a cultura democrática cá do burgo. A greve é um direito que levou muitas décadas a conquistar, pelo meio houve quem o tenha conquistado à custa da própria vida, e ela traduz-se no último recurso que os trabalhadores têm para defender o que consideram justo.
Assim, considero que o mais justo motivo para se fazer greve é pelo emprego. E é por causa do emprego que a greve dos professores é justa. E se é justa ela é livre. Porque a liberdade não pode estar fora da justeza. É que, sobre educação, aparecem sempre pavões de todo o lado a comentar. Infelizmente, a maior parte deles sem qualquer conhecimento sobre o mundo das escolas, a começar pelo ministro da educação. A entrevista dada na quarta-feira, na RTP, não lhe chamaria de mentira, mas um rol de omissões. Ficou provado que o sr. ministro procurou negociar a própria greve, recorrendo à ansiedade e emoção dos alunos e das famílias, com o único objectivo de ganhar pontos no conflito com os sindicatos. Procurou tirar proveito de um conflito. Conclusão, poderia ter mudado a data do exame e não o fez. Veio fazê-lo mais tarde com a mesma garantia que tinha antes. Mera teimosia. Uns fizeram exame, outros não e uns fizeram-no em condições inaceitáveis. E vem este senhor pregar a defesa dos alunos?!
Ficou provado, nessa mesma entrevista, que mesmo quem entrevista nada percebe de educação, então, se são retiradas duas horas da Direcção de Turma como componente lectiva, mais o aumento de alunos por turma, basta multiplicar para perceber que são milhares de horas que vão desaparecer, equivalendo a uns milhares de horários que desaparecem.
Logo (e isto é lógica pura), são milhares de professores que ficam sem horário. Isto é, mobilidade especial e no fim desemprego, e desemprego puro para milhares de professores contratados. Ou o sr. pensa que somos estúpidos? O sr. ministro limitou-se, porque a televisão pública se presta a esses favores (e só me admira como não levou consigo os seu dois capangas, aqueles dois figurões que sempre aparecem por trás do ministro na leitura dos comunicados), e enrolar um rol de omissões e mentiras, procurando lavar a face, depois de um, mais um, episódio em que fica mal na fotografia.
E esta fotografia não é a de um ministro da educação que procura ser livre nos seu pensamentos e ideias, presta-se a uma servidão que o torna uma pessoa má e a prestar um mau serviço. Mas quê, nunca foi professor de andar com saco às costas ano após ano, e mesmo assim, a dar o melhor de si. Sim, a favor dos alunos e não a uma servidão a que o senhor se presta! É isso que fazem os professores. Não se prestam à servidão. Servem livremente os alunos e a escola. Porque se fosse pelas condições, pelo salário ou por servidão ao ministério…
E já que falo de servidão, veja-se o dobrar de espinha do sr. Presidente da República em mais uma promulgação que nega todos os discursos que tem proferido. É uma servidão que o torna inócuo e imprestável. É um mau contributo para a democracia e desonra a Presidência da República. Mas ele bem disse, no Jardim Botânico, na plantação de árvores, que ele era especialista a abrir buracos. Eu diria, Portugal sabe.
O mal, é a servidão a que nos submete quem nos governa e submetem o país. Tornando-nos fracos. Eu, prefiro a liberdade.
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«A Quinta Quina», opinião de Fernando Lopes
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