António José de Carvalho era o filho mais velho do Dr. Dionísio de Carvalho, clínico municipal do Sabugal, na primeira metade do século XIX. Os outros dois filhos eram: Agostinho José de Carvalho, professor da Escola Normal de Lisboa e director da Escola Rodrigues Sampaio, tendo sido conferencista apreciado; e Luís José de Carvalho, funcionário das Obras Públicas, em Lisboa.
Desconhecemos a data de nascimento de António José de Carvalho, mas supomo-lo nascido cerca de 1850, porque, em 1866, tendo já cursado estudos secundários, se revela como escritor.
Com efeito, no jornal «Pharol da Beira», que se publicava na Guarda, escreveu ele o que terá sido a sua primeira novela, com o título «O Remorso», que o mencionado jornal publicou em folhetim. Rondaria, na altura, a idade dos vinte anos, se considerarmos uma imaturidade de estilo e de visão e de visão. Cremos que se estreou nesse jornal, para onde também enviava uma «correspondência do Sabugal». A propósito de uma dessas «correspondências», manteve uma polémica com o publicista A. V. Teixeira de Sequeira, que escrevia no semanário progressista «O Districto da Guarda». O «Pharol da Beira» era a voz do alternativo Partido Regenerador.
Em 1867 efectuou a sua própria experiência jornalística, fundando um semanário de pouca dura, publicado na Guarda, cujo título foi o «Egitaniense», de carácter regenerador. No entanto, em 1867, já o encontramos a colaborar no «Districto da Guarda», onde publica uma novela poética, em verso, intitulada Gonçalo, ao jeito dos poemas biográficos de Almeida Garrett que, segundo nos parece, é o escritor romântico que mais o influencia.
Neste mesmo ano escreveu e publicou um ensaio de carácter sócio-religioso, Discurso sobre o Padre Cristão, ensaio esse que nunca vimos nem lemos, mas que o autor anuncia entre as suas obras.
Colaborador habitual da imprensa, já da Guarda, já de Lisboa, acabou por se fixar na capital, pois, tendo seguido a carreira de funcionalismo público, entrou para o quadro de funcionários do Liceu Central de Camões, atingindo o posto de Secretário do mesmo Liceu.
No aceso da polémica sobre o poder temporal do Papa – que foi um dos aspectos da unificação dos estados italianos num único estado –¬ o catedrático coimbrão, natural da Covilhã, doutor Manuel Nunes Giraldes, publicou um importante manifesto doutrinal – O Papa-Rei e o Concílio (1870) – em que expõe os argumentos pelos quais o Papa não deveria ter direito a um estado próprio. Na opinião de Giraldes, o Papa, como soberano espiritual, não devia ter qualquer espécie de poder temporal, nem sequer território onde sediar, que fosse sua propriedade. Aos estados competia proporcionar ao Papa lugares onde residir, ou seja, residindo em Roma, o Pontífice seria um hóspede do estado italiano. O livro de Giraldes causou uma longa refrega. Parece que o autor, mais tarde, renegou as teses que tanto defendera com tanto ardor.
O mais competente opositor às teses de Giraldes foi António José de Carvalho, que escreveu e editou, de sua conta, o livro «O Poder Temporal dos Papas», em resposta ao Papa-Rei e o Concílio do sr. dr. Manuel Nunes Giraldes (Lisboa, 1871), onde rebate, tese a tese, a posição doutrinal do jurista covilhanense. O escritor sabugalense conclui pela legitimidade do poder temporal do Papa. Além de legítimo acha-o conveniente e vantajoso. Trata-se de um documento doutrinal de alto valor, e revelador de uma amplíssima erudição canónica, jurídica, histórica e teológica.
Amigo do poeta João de Deus, com ele escreveu e publicou, uns anos antes de falecer, o «Dicionário Prosódico de Portugal e Brasil» (1916), obra de consulta e de orientação para escritores e estudantes. Todos esses escritos são, em nossos dias, raridades bibliográficas.
O ano de 1871 foi muito produtivo para António José de Carvalho. Nesse mesmo ano deu à luz a novela romântica, de costumes rurais e de natureza lírico-sociológica intitulada «A Rosa da Montanha», que tem, por cenário, a serra de Malcata, a Marvana, Valverde del Fresno, Quadrazais e Sabugal; e, por entrecho, o amor que une uma jovem, sequestrada na Marvana pelo amotinado Montejo, e um jovem caçador do Sabugal.
Novela bem dimensionada, parecerá algo ingénua aos leitores de hoje, mas, na época, exprimia uma vertente do amor romântico, sem qualquer exagero. O livro, com 269 páginas, e 27 capítulos, é apresentado como romance, dedicado à Sr.ª D. Isabel Augusta Bigotte, que veio a casar com o autor. Como história de amor é de agradável leitura, com enlevos cor-de-rosa, a crítica do mal – incarnado por Montejo – e a apologia do bem, incarnado pelos enamorados. Além desta novela, o autor ainda escreveu uma outra, Martírio do Amor, que temos procurado, sem efeito, pois não existe em nenhuma das bibliotecas onde a temos requerido. Faleceu cerca de 1930.
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Este artigo, agora reeditado por Pinharanda Gomes, já fora publicado em 1996 na coluna «Quem é Quem» do Jornal «Sabugal», boletim informativo da Casa do Concelho do Sabugal em Lisboa.
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«Gente Nossa», por Jesué Pinharanda Gomes
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