As obras em curso na Praça da República levaram-me a escrever uma carta ao Sr. Presidente da Câmara Municipal do Sabugal, de que lhe dei, naturalmente, conhecimento e que aqui transcrevo.
Exmo. Senhor Presidente da Câmara do Sabugal
Caro Eng.º António Robalo
Alertado por vários sabugalenses de que se tinham iniciado obras na Praça da República, não quis tomar qualquer posição pública antes de conhecer e ver no local o que se estava a passar.
Por motivos pessoais, fui ao Sabugal no passado dia 10, tendo-me deslocado à Praça, podendo agora expressar a minha opinião.
Permita-me, no entanto que relembre o que escrevi em janeiro de 2012, aquando do corte das árvores existentes naquele local:
«(…) a decisão de mandar abater as árvores da Praça da República (Praça simplesmente para os da minha idade), foi para mim, não só incompreensível, como revelador de uma grande insensibilidade para os sentimentos dos sabugalenses.»
Na verdade, a Praça não é um qualquer espaço público da cidade do Sabugal. A Praça faz parte da memória dos sabugalenses: era ali que as pessoas iam buscar água para as casas sem água canalizada (muitas vezes ali fui com a minha avó…); era ali que se comprava a fruta e os legumes trazidos pelos agricultores (quantas vezes ali comprei, eu e a minha irmã, figos…); era ali que duas vezes por mês se realizava parte do mercado; era ali que ficava o escritório do Dr. César Tavares (que saudades das discussões no Café do Sr. Abílio!), mas também o consultório do Dr. Raul; era ali que se juntavam pessoas conversando e crianças brincando.
Não defendo que as coisas devam manter-se como eram antigamente, mas quero com isto dizer-lhe que uma intervenção num espaço como a Praça não é uma questão meramente técnica, é uma questão eminentemente cultural e de identidade e sentido de pertença dos sabugalenses.
Parafraseando um célebre político: «Intervir na Praça da República é um assunto muito importante para ser deixado apenas aos técnicos.»
E com isto não quero dizer que, do ponto de vista técnico, o que está a ser feito é bom ou é mau, pois para isso não tenho competência. Mas, claramente, o processo de elaboração do projeto, que não conheço, atendeu sobretudo a questões técnicas e estéticas, e pouco ou nada à importância cultural e identitária da Praça da República.
Mas, caro Presidente, a obra em curso levanta-me outra questão, talvez tão grave como a anterior.
É que em fevereiro de 2012, os Vereadores do Partido Socialista apresentaram uma proposta que foi aprovada, penso que por unanimidade, e que dizia:
«Assim, os Vereadores do Partido Socialista propõem que a Câmara Municipal inicie o processo de elaboração de um Projeto de Requalificação da Praça da República, incluindo os edifícios ali construídos na segunda metade do século passado.»
Estava assim o Senhor Presidente e os serviços municipais mandatados expressamente para elaborar um projeto de requalificação da Praça com uma dimensão que, claramente, a obra em curso não tem.
Intervir da forma como está a ser feito não me parece estar de acordo com a proposta aprovada, nem tenho conhecimento que a revogação daquela proposta tenha sido objeto de decisão do Executivo Municipal.
Haverá certamente razões ponderosas para que a Câmara Municipal tenha decidido elaborar um pequeno projeto minimalista e, pelo que vi, descaracterizador da Praça, mas que o mesmo não cumpre o que foi aprovado em fevereiro de 2012, lá isso não.
Caro Eng.º Robalo
Penso que ainda se está a tempo de parar para pensar, de colocar o projeto à discussão pública, de ouvir os sabugalenses e de decidir da forma melhor.
Sou técnico como o Senhor é. Trabalho em requalificação urbana há muitas décadas e sei, de experiência própria, como as melhores soluções técnicas, não são, obrigatoriamente as melhores soluções políticas, culturais e identitárias.
Mexer com a memória e a identidade popular é questão muito sensível que é aquilo que, em meu entender, desde o corte das árvores, não tem havido no que diz respeito à Praça da República.
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ps1. Embora já tenha prestado, pessoal e presencialmente, a minha solidariedade com o meu grande amigo Alcino «Palhinhas» no falecimento da sua esposa, não quero deixar de, publicamente, aqui lhe mandar e à restante família, um grande abraço. Eu, a minha mãe e a minha irmã, não podemos esquecer o quanto foram e o quanto o Alcino e, também, o seu filho bombeiro são amigos.
ps2. Realiza-se no sábado de manhã uma jornada de discussão sobre o Plano Estratégico do Concelho do Sabugal. Eis uma oportunidade de ouro para, coletivamente, discutirmos o futuro da nossa terra.
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«Sabugal Melhor», opinião de Ramiro Matos
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Setembro de 2007)
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Homem da “vila” , Castelo , partilho lembranças como o Amigo Ramiro , da Praça, dos mercados, mas !!!!!
Todas as intervenções , com mudanças , permitem que cada um de nós Tenha a Melhor Solução e por certo diferente da do outro.
Não deviam ter sido cortadas as àrvores , foram e não são recuperáveis !1
Passei no último fim de semana pelo local em causa e tentei perceber a “polémica” não a entendo. Voltar ao ANTIGO antes existente , não pode ser , não desgosto da intervenção, mas tb confeço quero esperar pelo resultado final.