«A Ronda» é o tema de um fabuloso quadro de Alcínio, em que o pintor de Aldeia do Bispo retrata uma das mais importantes tradições raianas, que o tempo já derriscou definitivamente das aldeias.
A Ronda era um costume muito antigo que há várias décadas se deixou de realizar devido à perda de população e à absoluta falta de jovens nas aldeias. Consistia num passeio nocturno dos rapazes, que deambulavam pelas ruas, bastas vezes cantando e tocando continuamente.
Essa tradição parece derivar de práticas militares antigas, do tempo em que se fazia a inspecção nocturna à aldeia para garantir a segurança dos moradores. A ronda obedecia mesmo a regras rigorosas, escrupulosamente cumpridas.
Era costume os rapazes da ronda gritarem: ah-gui-gui! Esses uivos, a que chamavam aguiguiares, eram um sinal de poder e de afirmação – de noite a rua era da ronda, a quem cabia zelar pela segurança da aldeia.
Os moços faziam também cantorias, reunindo as vozes em coro. Havia as cantorias ao profano (risos ou gargalhadas sem jeito) e as cantorias ao divino (cânticos religiosos próprios da Quaresma – os martírios, endoenças ou litânias). Para entoarem as litanias dividiam-se em dois grupos, que, em pontos diferentes da aldeia, se iam alternando nos cânticos.
Manuel Leal Freire chama à Ronda a «confraria dos solteiros», por obedecer a regras e rituais apertados, e ter a seu cargo importantes missões, como vigiar a intromissão nocturna de rapazes de fora na conquista das moças da aldeia, entoar as ladainhas e os martírios na Quaresma, velar pela grandeza da fogueira do Natal e pela manutenção de certos rituais na festa do orago, evitar roubos e escândalos nocturnos.
Nalgumas terras havia a tradição da Corcha (colcha) de farrapos. Os rapazes da ronda quando apanhavam os de menor idade na rua, cobriam-nos com uma corcha, sovam-nos com varas e devolviam-nos a casa. Um rapaz era considerado menor de idade enquanto não pagasse o vinho aos rapazes solteiros mais velhos, acto necessário para ser autorizado a sair à noite.
Cada ronda tinha o seu maioral, que era o rapaz mais velho, ou o melhor aceite pelos demais, que exercia funções de liderança e a cujas orientações os outros se submetiam.
plb
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«Vivências a Cor», expressão de Alcínio Vicente
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