No próximo fim-de-semana, toda a gente no Casteleiro vai vestir a sua melhor roupa. Porquê? Porque é a Festa da Caça. Edição 3. Com muito bom programa.

Falo da roupa de propósito, para introduzir o tema de hoje: cada camada popular usava os tecidos que podia comprar, claro. Havia tecidos muito populares e baratos. Mas havia outros muito caros, que só as famílias abastadas podiam comprar. Vamos dar um olho a esses aspectos.
Não falo sequer da fatiota de domingo e da semana. Falo do essencial: as roupas eram feitas com materiais à medida do bolso de cada um.
Não falo também do fato de ver a Deus. Nem do fato ou do vestido de casamento. Não falo do fatinho do crisma. Não!!!
Falo de uma coisa mais séria e anterior a tudo isso: de que materiais eram feitos esses fatinhos todos?
Da chitazinha ao «voile» de lã
A «georgette» e o «voile» de lã eram dos tecidos mais caros (leia à francesa: «vuale»). Só as famílias com dinheiro de bolso eram capazes de os comprar. E não era para usar «à cote»: só para ir ao fotógrafo e fixar para sempre a foto da família, só para os casamentos para que se era convidado ou algum baptizado ou crisma.
O «voile» de lã em geral era liso e assentava muito bem nos corpitos das pequenas senhoritas que assim se apresentavam.
A «georgette», essa, era temperada com umas ramagens em azul suave para adamar a figura da senhora mãe.
Na outra extremidade do leque dos tecidos usados, encontro o cotim: o material mais barato e mais utilizado para fatos de trabalho e de andar todos os dias, sobretudo os homens e rapazes, sendo que para as raparigas e mulheres era a chita:
– Uma chitazinha (dito com carinho, quando se falava das filhas e família); ou,
– Uma chitazita (quando se falava da vizinha).
E quando se queria valorizar a chita que se tinha comprado para o vestido da filhota, a mãe ao conversar com a vizinha dizia:– É assim de uma chita ma quèi popelina.
É assim uma chita (boazinha) como se fosse popelina (que era um tecido de que se faziam as camisas, portanto já de melhor qualidade). Floreados e às riscas eram os padrões mais frequentes de chita. Os saiotes, esses, eram feitos de pano cru.
Assim era a vida e assim era a filosofia de família e vizinhança.
Ter ou não ter dinheiro, eis a questão
Como sempre, nas famílias endinheiradas, compravam-se tecidos mais finos e caros para o vestuário. Quem não tinha, usava tecidos mais baratos, naturalmente. O fato para ser bom era de fazenda. As calças e coletes, para serem quentes, eram de surrobeco (sarrubeque ou mesmo xarrebeque, dizia o Povo). Com uma peça de riscado faziam-se aventais, blusas, camisas.
A popelina é de boa qualidade e portanto mais carota para quem vive só do seu trabalho. É de algodão fino, muito macia e serve para camisas, vestidos, blusas…
Da novidade chamada cretone eram feitos cortinados, coberturas de malas, debruados de passadeiras e colchas.
O tecido brocado, que tem bordados e desenhos em relevo e recortados, dava para os vestidos femininos.
Falava-se então também de tecidos estampados e com determinado padrão.
O tafetá era usado para os forros de peças de roupa: saias, casacos, chapéus de chuva (das senhoras chiques). Era caro: na sua confecção, ao que se sabe, era usada lã, seda e produtos sintéticos.
Quando um tecido já estava muito fino de tanto uso e até a começar a ficar rafado, dizia-se que estava «laninho».
Havia dois outros tipos de tecido fino que tinham muita aceitação: a organza e o chifon (tecidos fininhos). Os vestidos de noiva, quando havia dinheiro para isso, eram feitos com estes tecidos.
O fioco era um tecido baratinho, para roupa de todos os dias, com menos valor e para roupinha menos boa.
Já o tule servia para enfeitar e para véus de noiva.
O merino de algodão era de lã e usado em lenços de cabeça, xailes, vestidos e fatos.
O chantungue era de seda e, atenção, parece que vinha (já nesse tempo) da China. Dava para cortinas e similares.
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Nota muito importante: «Festa da Caça»
Nos dias 4 e 5 de Maio, a 3.ª Festa da Caça inunda o Casteleiro de gente. Você já pensou em passar por lá também? Veja o programa completo e a explicação das actividades previstas e vídeos das músicas, tunas académicas, etc. Programa completo… (Aqui.) e… (Aqui.)
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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