A plutocracia existe. Não é uma mera figura de retórica. Sigamos um artigo da revista «Politique Éclair» que explica admiravelmente os mecanismos do que chama o «Sistema Financial-Colectivista».
A maior parte das demo-plutocracias ou seja dos estados que não tenham à frente um chefe independente das forças que devia controlar vivem de empréstimos, sim de empréstimos.
Os orçamentos só na aparência são equilibrados. E pela intercorrência de empréstimos.
Aquela revista exemplifica com o caso da Quinta República Francesa, em que as emissões são mais do que muitas, referindo só alguns empréstimos para o Estado, para o Crédito Agrícola, para as colectividades locais, para a Habitação, para a Electricidade, para o Carvão e o Aço, para as Auto-Estradas e para muitas outras rubricas. É um estado mendicante.
Mesmo assim, todas essas emissões são cobertas em tempo recorde. Mas não é o público que entusiasticamente acorre às emissões. A operação corre pela banca pública e parapública e mesmo pela privada, pois todos têm fundos especialmente afectados para o efeito.
Outros tomadores são as caixa de aforro, as mútuas e as seguradoras em geral, todas constrangidas à subscrição num segundo estádio que é o de la carte forcée. O sistema é parasitário.
Por isso, interroga-se o articulista de Politique Éclair:
«O que acontece a todo esse dinheiro, fruto do trabalho e da poupança dos cidadãos?»
Depois, a resposta:
Como a moeda perde todos os anos, cerca de cinco por cento do seu poder de compra, facilmente se constata que ao fim de dez anos, os cupões de obrigações perderam metade do seu valor. E quanto ao capital representado por títulos, o destino é ainda pior.
Efectivamente, o seu valor em bolsa está à mercê do credor estado e cai sempre que este se lembra de fazer uma nova emissão ou lhe apetece intervir no sentido da baixa.
Este processo de destruição da riqueza privada é mascarado muitas vezes por jogos financeiros. Mas manifesta-se inelutavelmente pelo afundamento sempre progressivo e mais ou menos rápido, segundo as políticas e as épocas, do poder de compra da moeda.
No Politique Éclair estima-se que nos últimos vinte e cinco anos, noventa e oito por cento da riqueza acumulada em França foi consumida pela demo-plutocracia. Por isso, o problema essencial do nosso tempo é o de erguer instituições que, pela sua natureza, não dependam dos interesses que tem de controlar, disciplinar e conciliar.
Ora, a democracia, quer sob a forma parlamentar, quer sob a forma plebiscitária, não satisfaz este requisito. O dinheiro perverte e corrompe a opinião que molda a seu bel-prazer.
Os regimes tradicionais também perderam já a sua independência face à plutocracia. E daí o grande mal do nosso tempo que vive muito mal com a plutocracia, mas não sabe, não pode, nem quer viver sem ela…
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«Politique d’Abbord – Reflexões de um Politólogo», opinião de Manuel Leal Freire
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