Os tempos são difíceis e nada parece tão fundo que não se possa cair ainda um pouco mais. Enquanto o turbilhão de acontecimentos arrasta o comum dos cidadãos, estes não entendem a razão de certas opções.

No momento em que escrevo estas linhas debate-se a quarta moção de censura ao Governo. Os diversos partidos, com assento parlamentar, vão esgrimindo argumentos, a favor e contra, conforme estejam no poder ou na oposição, defendendo, muitas vezes, uma coisa e o seu contrário conforme o lado da barricada onde se situam.
Como sabemos o País investiu no alcatrão e no cimento, esquecendo a dinamização da economia, o que nos levou a baixas taxas de crescimento do PIB, enquanto a despesa não parava de aumentar, numa tendência que acabaria por nos levar à intervenção da Troica. O País estava sem liquidez o que poderia levar à rutura completa das estruturas do Estado e da Economia. Foi assim, que após o «chumbo» do PEC IV se tornou inevitável a assinatura de um Memorando, com os termos das medidas de intervenção em troca de financiamento, processo conduzido pelo governo de José Sócrates, com a participação de alguns partidos da oposição e dos parceiros sociais.
Ora, apesar daquilo que salta à vista do comum dos mortais os políticos continuam praticando os seus jogos dialéticos, muitas vezes completamente desprovidos de qualquer razão. Os partidos do chamado Arco do Poder sabem que mais tarde ou mais cedo vão alternando a governação e isso serve para todo o tipo de atitudes, quantas vezes baseadas na mentira, como o passado tão bem nos tem elucidado. Foi nestes pressupostos que José Sócrates tomou medidas ao arrepio do bom senso nas últimas eleições. Foi também assim que vimos Pedro Passos Coelho prometer que não subia os impostos, que não reduziria as pensões, que não confiscaria os subsídios de férias e de Natal, etc., etc.. Enfim, um «contentor» de mentiras da esquerda à direita, com o Povo a ser ludibriado, com alternância, mas sem alternativa. Uma verdadeira tragédia!
É esta tragédia de falta de esperança no futuro que os diversos partidos vêm disponibilizando aos portugueses. Foi neste quadro de referências que com uma total falta de sensatez o novo governo resolveu ir para além do Memorando da Troica, e ao arrepio das suas próprias promessas, numa estratégia que deixava adivinhar o resultado: maior recessão, não redução do défice, aumento da dívida, aumento do desemprego, emigração e miséria, muita miséria, que só a completa falta de sensibilidade social pode ignorar. Estava-se a adivinhar!
Mas se em Portugal os políticos parece estarem loucos, o que dizer daquilo que se passa na União Europeia e na Zona Euro. Os alemães, que não conseguiram dominar a Europa pelas armas, querem subjugar os outros povos, com verdadeiros enxovalhos, como acontece agora no Chipre. A verdade é que esta irracionalidade pode terminar numa completa rutura de relações entre países e, no extremo, numa nova guerra mundial. A verdade é que não pode haver União sem harmonização fiscal e outros princípios gerais que façam sentir aos cidadãos de toda a Europa, nomeadamente da Zona Euro, que estão em igualdade de oportunidades, de direitos e de deveres.
Gostaríamos de ter uma solução milagrosa para tanta falta de bom senso, mas a política faz-se com pessoas e a classe política vai-se reproduzindo, com os seus defeitos e os seus interesses de classe. Só estes podem permitir que os ricos sejam cada vez mais ricos, que os pobres não parem de aumentar e sejam cada vez mais pobres. Enfim, resta-nos acreditar em Deus porque os homens já há muito perderam toda a credibilidade.
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«Raia e Coriscos», opinião de António Pissarra
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