Um dos fenómenos mais interessantes e importantes do nosso tempo é, por certo, o enorme desenvolvimento daquilo a que se pode chamar indústria de informação. Mas, se durante muito tempo, a opinião pública se viu praticamente indefesa perante ela, acabou por instalar-se um permanente clima de desconfiança.
Todos os dias, mesmo o homem mais desprevenido o nota, somos assaltados por uma extraordinária quantidade de notícias de toda a espécie, rapidamente difundidas e apresentadas da forma mais persuasiva.
E esta prodigiosa extensão da informação faz dela uma potência indiscutível, pois da simples ou complicada maneira como uma notícia é apresentada, o pensamento das massas pode ser voltado num ou noutro sentido.
Mas como em tudo o que é excessivo o excesso de informação mata o interesse por ela ou até a sepulta.
Depois, recebemos informação sobre tudo. Tudo o que se passa no nosso dilatado universo nos é apresentado como sendo do nosso interesse directo e imediato.
Antes só nos chegava informação sobre quem seria o próximo regedor ou o próximo administrador do concelho.
Agora, mantêm-nos atentos à eleição do sucessor de Chavez. Ou de sátrapa em qualquer sultanato deste nosso vasto mundo.
Antes só a eventual nomeação dum novo cura nos concitava interesse.
Agora estamos suspensos da cor do fumo da chaminé da Capela Sistina.
Mas as notícias acotovelam-se. Destroem-se reciprocamente. Autofagem-se.
O que se passa na Síria obscurece as zaragatas de ciganos no terreiro da Sacraparte.
A falência de um banco, na Quinta Avenida ganha em importância ao desfalque na associação de moradores, mais à mão.
O informador, a substância da informação, o modo de informar tomam especial relevância.
E há informadores que operam para o Universo, com meios que atingem também todo o Orbe Terráqueo.
Como há notícias de interesse para o mundo todo, ao lado de outras só vividas no pequeno povoado da arribana.
No meio de toda esta terrível confusão em linguagem mais diversificada que a da Torre de Babel é pouco o que se retém. E o pouco que se retém é por pouco tempo.
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«Caso da Semana», análise de Manuel Leal Freire
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