Jogava-se muito à bola, nessa altura. Estaremos em 1955/57. Muitas vezes o Casteleiro jogava contra as terras vizinhas. Mas sobretudo contra a Moita. Esses jogos eram um primor. Leia a reportagem que podia ter sido feita há 55 anos e nunca ninguém fez, de certeza…

Como a Moita fica mesmo ali ao lado, é fácil: ou os do Casteleiro pegam nas pernas, bicicletas, tudo o que ande e vão de vez em quando à Moita divertir-se e divertir as pessoas – que não perdem esse espectáculo por nada deste mundo. Ou então os da Moita fazem o mesmo e zás: tudo direito lá em cima ao campo da bola, por detrás da padaria, para um jogo renhido.
Estes jogos fazem parte da honra de cada terra: ninguém, mas mesmo ninguém os quer perder. Um empate, ainda se admite, vá lá. Mas perder em casa? Nunca.
A reportagem que se segue podia ter sido publicada no «Gazeta do Casteleiro» dessa época… se tal jornal existisse. É uma reportagem imaginada, apaixonada, sectária, a favor do Casteleiro e contra a Moita – como convém no futebol. Já nessa altura era assim…
Dois espectáculos num
Em cada um desses domingos, há dois actos em paralelo: o que decorre no campo e o outro, bem mais interessante, que decorre nas barreiras onde a maltosa está toda a ver: as bancadas, por assim dizer.
Hoje o jogo foi o Casteleiro contra a Moita.
A tarde, como sempre em dia de futebol, foi de grande arraial. Todos os que se mexem foram ao campo. Até porque os jogadores são famosos. O Ismael, o Daniel, o Betinho, o Neca, os Nobres – e tantos mais.
Os da Moita são uns coxos. Tropeçam na bola. Não vêem boi daquilo. São mesmo broncos.
Os nossos são grandes artistas da bola. Sabem da coisa. Dão uns toques, guardam a bola, fazem cá cada finta… e fazem uns passes bem encaixados. Mas o golo nunca mais aparecia. Até porque a cada pé de passada lá estava o árbitro a apitar e a travar a nossa malta. De repente, dois golos seguidos.
Mas o árbitro ainda hesitou. E as encostas, cheias de gente protestavam, protestavam. E muitos apontaram o dedo ao árbitro quando, estando o Ismael mesmo à boca da baliza e era certo, certinho que ia meter a bola no meio dos postes da baliza da Moita, o árbitro apitou e interrompeu a jogada.
Fora o árbitro
Tal como muitos anos depois havia de começar a acontecer, sempre em todos os jogos em que se perde, também esta tarde foi um desastre. Tudo por culpa do árbitro.
Mas é preciso explicar primeiro quem é o árbitro: é o Zé Cavaleiro.
É do Casteleiro mas casou na Moita, vejam lá.
E, pior do que isso tudo, não sabe arbitrar.
Em caso de dúvida, apita sempre contra o Casteleiro.
Quando fez aquela falta ao Ismael, foi o fim. As bancadas entraram pelo campo fora. O sr. Narciso e o sr. Campos, esses, então, foi demais: só faltou baterem no Zé Cavaleiro. Até lhe tiraram o apito e atiraram-no para o pinhal. Assim, o jogo terminou antes de acabar.
Ganhou o Casteleiro por dois a zero. Mas devia ser por muitos mais.
Daqui por 15 dias, o Casteleiro vai jogar à Moita. Vão saber o que dói.
Notas
1. Claro que as fotos são mais uma vez apenas simbólicas. E volto aos dias de hoje, depois deste mergulho imaginário no nosso passado desportivo…
2. Agora uma nota de actualidade. Vá acompanhando aqui o evoluir das candidaturas à Assembleia Municipal e à CM Sabugal, bem como às várias Freguesias. E faço um apelo: as equipas de apoio às várias candidaturas devem enviar a informação actualizada para o «mail» lá indicado.
3. No Casteleiro de hoje prosseguem as obras do novo recinto de festas, bem como a requalificação de espaços públicos (agora em torno do cemitério). Por outra parte, já se conhece mais um pouco do programa da Festa da Caça, a 4 e 5 de Maio. Assim, nos dias 4 e 5 estarão na minha terra os «Manta de Ourelos», que pode ouvir para ver a animação que aquilo é… (Aqui.)
No dia 5, às 14, começa o Torneio de Tiro ao Alvo. Vai valer a pena ir ao Casteleiro também nestes dias.
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Abril de 2012.)
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Infelizmente, sim.
Acho que a desertificação é o nosso maior flagelo regional.
Julgo que é isso que explica que nos dois distritos da Beira, Guarda e Castelo Branco, ambos com índices dos mais baixos de criminalidade, se veja que esses números aumentaram tanto de 2011 para o ano passado – ler os dados do RASI: Aqui.
Desculpem a deriva, mas isto hoje anda a intrigar-me menso… e vem a propósito do comentário.
Um abraço beirão.
Um retrato bem focado.Permita-me partilhar a minha vivência nos anos 50. Na minha aldeia não havia campo da bola. O local do jogo era uma incógnita. Iamos mudando de lameiro em lameiro, com uns barrocos pelo meio e umas giestas que tinhamos que fintar.Normalmente o jogo não acabava: ou era o dono que vinha de vara em punho a descascar umas bordoadas, a bola que rebentava, ou a trivial cena de pancadaria. Para as balizas, ía-se a uma moita e cortavam-se uns carvalhos. Botas? Para os mais afortunados, umas alpergatas porque normalmente os pés estavam bem calejados. Agora temos campos de futebol, campos de ténis, piscinas e até multiusos, em troco de uns votos. Infelizmente não temos gente !
Dulce Martins, bom dia.
O gostar não se agradece mas não posso deixar de lhe confessar que foi, para mim, muito bom ler o seu comentário.
Bem haja por ler os meus textos.
Fernando Capelo.
O José Carlos Mendes escreve este texto com muita piada.
Não fora ele um mestre da escrita!
O FC escreve coisas de uma sensibilidade comovente.
Textos bonitos que me tocam sempre.
Apetece imaginar o mundo cheio de gente assim.
Seria certamente um mundo melhor.
Escreva sempre e delicie-me/nos.
Dulce Martins
Obrigado.
Nem imagina o gozo que me deu escrever a peça.
Mas note que é humor mas com base real.
Coisas daquelas aconteceram mesmo e toda a gente se lembra das guerras com as terras vizinhas em dias de futebol.
Aquele árbitro é que as pagava…
Ótimo texto. Diverte, retrata, enfim, a transbordar de “boas intensões”. Humor do melhor. Gostei muito.
Um abraço.