Há quatro anos publiquei na minha rubrica «Terras entre Côa e Raia», pequenas crónicas que directa ou indirectamente tinham a ver com a febre partidária que assola ciclicamente o concelho, quando se aproximam as eleições, originando delírios nos putativos cabeças de lista e seus acólitos que seguem o «messias» que promete mundos e fundos aos parcos eleitores locais, com «mésinhas» milagrosas (tipo banha da cobra) solucionando num ápice os problemas recorrentes que todos sabemos quais são e que se têm agravado ano após ano.

Basta a passagem de um quadriénio, para os de memória curta se esquecerem do que prometeram e do que não fizeram, para voltarem a utilizar as mesmas tácticas, acreditarem nas mesmas e mais refinadas «patranhas», muitas vezes, dos mesmos actores e cenários. Agora parece haver algo de diferente, só porque alguns protagonistas, vão mudar de palco, de cenário e talvez de acólitos, na esperança que os eleitores mudem também.
Na minha penúltima crónica de 29 de Fevereiro de 2010, alertei os leitores de que faria um longo interregno. O que me levou a escrever novamente foram as recentes crónicas de António Emídio, nomeadamente a 12 e 19 de Fevereiro corrente e a de Leal Freire de 16 de Março. O primeiro com provas dadas de isenção partidária e o segundo declaradamente monárquico, mas que, por caminhos diferentes, até porque se não situam em campos ideológicos idênticos chegam às mesmas conclusões sobre os males da nossa partidocracia.
A democracia nestas paragens, à semelhança do que se passa a nível nacional, assenta na persistência dos partidos do «arco do poder» em manterem, sine die, as suas posições relativas. Os ténues ressurgimentos dos Independentes (leia-se independentes não colados ou atrelados a qualquer forma aos partidos) organizam-se em movimentos cívicos que infelizmente, não ameaçam o monopólio dos partidos por razões várias.
Mas a ausência de soluções do actual sistema partidário português, criado pelos partidos é que tem levado muitos cidadãos a questionarem-se, se vale a pena votarem neles. É por demais evidente que os partidos, não abrem mão do dito monopólio eleitoral, detido desde sempre a coberto da legislação impedindo os movimentos puramente cívicos e de intervenção de concorrerem em pé de igualdade com os partidos tradicionais. As exigências impostas a esses grupos para a formação e legalização das listas, número de proponentes por freguesia necessários e outras formalidades e burocracias «afogam» as intenções. Foi por isso que nas anteriores autárquicas no Sabugal, os independentes tiveram que arranjar «uma barriga de aluguer» para poderem concorrer em pé de igualdade com os partidos.
Apesar destas limitações todas ao exercício pleno da cidadania, têm o mérito de provocar debates relevantes sobre o papel dos partidos políticos e seu mau desempenho. A crise tem levado muitas pessoas a exprimir-se fora dos quadros partidários, tendo sido até agora o ponto mais alto, a manifestação «inorgânica» de 15 de Setembro passado, sem a intervenção nefasta dos partidos, mas que algumas forças partidárias curaram de aproveitar o andamento e a colarem-se às manifestações seguintes que já tiveram um cunho eminentemente partidário, cujo único «fito» é a conquista do poder a qualquer preço.
O futuro peso dos Independentes «poderá não dar solução a todos os problemas, nem alterar decisivamente o ambiente parlamentar, mas serão um contributo válido para se ouvir a rua, sob pena de a rua se tornar violenta», como referem alguns comentaristas.
O Movimento Independente Para a Representatividade Eleitoral, apresentou na Assembleia da República uma proposta de alteração, para permitir a candidatura de grupos de cidadãos independentes, às eleições legislativas. Trabalho em vão pois sabe-se que são necessários dois terços dos votos dos deputados em funções para essa alteração. Nem que fosse só necessária maioria relativa, se conseguiria tal proeza. Embora a lei admita que cidadãos independentes (melhor dito pseudoindependentes) integrem as suas listas, é para benefício dos próprios e dos respectivos partidos, muitas vezes por não terem capacidade de arregimentar figuras gradas entre os seus militantes locais.
Termino com o seguinte aviso de André Breton: «A erosão e o descrédito dos partidos encarregar-se-ão de fazer o trabalho, não sendo necessário um acto de supressão, bastará este processo, já longo, chamado desengano.»
(Continua.)
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«Terras entre o Côa e a Raia», opinião de José Morgado
José Morgado:
Sem dúvida que sou apartidário, mas ideológicamente situo-me no campo do Socialismo Democrático/Social Democracia, jamais um Neoliberal.
O primeiro passo a dar para a transformação política, económica e social do Concelho, tem de vir do Povo do Concelho,só quando ele escolher os candidatos à Presidência da Câmara, isso se poderá concretizar. Dentro dos partidos políticos tem de haver Liberdade para que qualquer militante se candidate à Presidência da Câmara desde que tenha apoios dentro do próprio partido. Nunca se deve escolher um candidato num qualquer gabinete de Lisboa, Guarda, ou outro sitio qualquer, em que dois ou três militantes ou simpatizantes dos mais « notáveis »o desejem.Isto pode obrigar a um enfeudamento do candidato a esses « notáveis » em detrimento do do Povo do Concelho.
Isto que aqui escrevo está simplesmente « alinhavado » e, num Domingo de manhã.
Goste-se ou não de Mário Soares, no último artigo que escreveu para o DN lá diz que os partidos políticos têm que se reformular.
No nosso Concelho todos nos conhecemos, portanto é das coisas mais fáceis tentar escolher os melhores, mas para isso não pode ser tudo cozinhado em gabinetes, o Povo tem de escolher, escolherá pelo coportamento ético, moral,cívico, pela sua sensibilidade social, capacidade, inteligência, e tudo o mais que é necessário que um governante tenha. Dificil de concretizar? Mais dificil é pôr milhões de cidadãos a votar, e consegue-se, para isso é necessário boa vontade e perder algumas regalias…
Adeus José Morgado.
António Emidio
Sei perfeitamente qual é o seu posicionamento, pois já num Post de 19 de Abril de 2009, que irei republicar eu dizia”como diz Paulo Leitão(com o qual eu concordo), o António Emidio é um pensador livre, escritor de intervenção, que analisa de forma descomprometida, a evolução da sociedade”
Sei tambem que nunca foi apologista da Terceira Via, tão cara ao nosso Ex- Primeiro Ministro.