Em qualquer terra, as ruas e praças contam as estórias das gentes que as habitam e habitaram. As grandes ruas do Casteleiro são a Estrada e a Rua Direita. Os grandes largos, que ligam bairros e ruas, são o Largo de São Francisco / o Terreiro de São Francisco, a Praça, o Reduto e o Largo da Fonte. No meio da aldeia, por detrás das casas, entre as ruas, encontramos umas videiras, mas, sobretudo, jardins e jardins… mas de oliveiras: é uma terra bonita e fértil. Melhor: era, porque, como se sabe, hoje as nossas terras estão, todas, meio ao abandono agrícola.

Ruas, largos, praças, bairros e pessoas a circular por eles – assim se faz uma aldeia inteira. É por aqui, por estes bairros e ruas que ficam os nossos locais de memória. Vamos então recordá-los, divulgá-los, fazer a homenagem a quem sempre os habitou e por eles se deslocou.
Foi por estas ruas e largos que crescemos, que nos criámos, que brincámos, estudámos, namorámos, nos divertimos, fizemos amigos, ajudámos quem pediu, gozámos uma infância única, mesmo que os tempos fossem de temer: lá vinha a tropa, lá vinha a emigração, lá vinha a guerra, lá vinham as mortes dos entes queridos que iam partindo: avós, tios-avós, tias, tios, um a um…
Ruas que falamAi, se estas ruas falassem!
Estas ruas, estes largos, estas quelhas contam tudo da minha terra, se quiserem falar.
Ruelas estreitas, apertadas, larguitos que se chamam largos mas são conitchos pequeninos (agora lixei os leitores que não conhecem a palavra…).
No Casteleiro, como em qualquer outra aldeia da zona, era para a rua que se atiravam as penicadas – quase sempre pela calada da noite e era preciso ter todo o cuidado para não sofrer um desses banhos. Era nas ruas que se matava o porco. Era para a rua que se tirava o estrume dos cortelhos para depois o carregar na burra ou no carro de vacas.
Era na rua que se namorava – o postigo dizem que também era para isso: para impedir os namorados de avançarem demasiado depressa… sei lá. Eu já namorei à moda mais moderna: sobe a escada, entra, está.
Largos e praças
O Largo de São Francisco é o centro de todas as festas até hoje. Com a obra que agora começou, dentro de um ano ou dois esse centro passará para o local onde hoje é o olival atrás da futura sede da Junta.
A Praça é o sítio onde arde o madeiro desde que me lembro.
O Reduto era o local das touradas.
O Largo do Chafariz é ponto de passagem da Estrada para o Reduto.
O Largo da Fonte é um dos principais.
O Largo do Poço já não tem poço e sempre foi um conitcho pequeno, onde um carro nem consegue dar a volta sem fazer marcha-atrás.
O Baturel é outro larguito pequenino.
Mas, lá porque são pequenos, não significa que não tenham a sua graça.
A Estalais (Estalagem) é grande, mas já a caminhar para fora da povoação. A calçada já lá não chegava. Estava abandonadita.
Mobilidade
Sendo a mobilidade a possibilidade de nos deslocarmos de um ponto a outro, devo dizer que ela era e anda é muito simples na minha terra: duas ruas principais e meia dúzia de outras que delas partem e na prática cobrem toda a povoação. Assim:
– A Estrada (Estrada Nacional 18-3), hoje chamada Rua da Estrada para efeitos de toponímia e distribuição de correspondência. É a rua mais habitada. Casas de um lado de do outro, ao longo do quilómetro e meio que a povoação terá de extensão neste sentido – digamos: de placa a placa. Nasci «na» Estrada, mais ou menos a meio da terra, uns metros acima do Terreiro de São Francisco. Portanto: bem no centro do mundo aldeão…
– A Rua Direita liga a Estrada à Estalais.
– A Rua do Ribeirinho liga a Praça ao Cemitério.
– A Rua do Forno, a Quelha do Medo, a Rua do Caramelo, a Rua da Igreja fazem as outras ligações principais.
A aldeia está toda ligada por ruas e ruelas em quadrícula. Não há sentidos proibidos, não há ruas sem saída, não há placas de velocidade reduzida…
A segurança é total. Até porque em boa parte delas mal cabe um carro.
O Casteleiro não é diferente das outras terras da nossa região.
Nota
Registo que o «Capeia» está esta semana de parabéns pela popularidade demonstrada neste número de visitas: 2.001.220. Um abraço a quem o faz e a quem o lê. A região fica mais rica assim.
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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