Quando em artigo anterior referi a um grupo de renegados, estava implícito que referia um grupo de governantes e não a todos. Saliento que no Governo, embora em grande minoria, também existem dedicados e prezados cidadãos.

Sem pretender fazer idolatria governativa, realço o bom desempenho de Jorge Barreto Xavier, «recentemente» empossado como Secretário de Estado da Cultura. Não posso deixar de realçar a dignidade e abnegação demonstrada pelos seus antecessores, Francisco José Viegas e Elísio Summavielle. O segundo, para além de ter prestado, enquanto Secretário de Estado do Governo anterior, um meritório serviço à Cultura, foi a convite do primeiro, que com tal procedimento demonstrou grande sentido de Estado, o responsável máximo pela fusão de vários organismo da Cultura e pela estruturação da actual Direcção-Geral do Património Cultural. Com o trabalho estrutural já efectuado, Jorge Barreto Xavier fica com o caminho aberto, apesar do mau estado de alguns troços, para colocar a Cultura como charneira da política e da sociedade.
Com a honrosa presença no IV Capítulo da Confraria do Bucho Raiano, Jorge Barreto Xavier emprestou a sua notoriedade para a projecção do património cultural do concelho do Sabugal. Contudo, torna-se impossível que alguém com tamanha responsabilidade consiga estar num evento público, a título pessoal, dissociando-se do cargo governamental. Estabeleceu-se assim uma relação biunívoca, ou seja, o Secretário de Estado emprestou a sua notoriedade à Confraria do Bucho Raiano, mas ganhou a admiração, a popularidade e a legitimidade que tantos almejam.
Mas se a participação no almoço da Confraria do Bucho Raiano foi importante para o desenvolvimento local, passados dois dias, Jorge Barreto Xavier organizou um marcante seminário a nível nacional. Refiro-me ao seminário «Quais as Perspectivas para a Cultura no Quadro Estratégico Europeu 2014 -2020?», no qual participaram oradores de diferentes orientações políticas e académicas e onde se abordaram questões culturais e económicas com grande profundidade e acuidade.
Do seminário resultou a convicção da mudança no paradigma de pensar a política nas áreas da Cultura e da Economia. Curioso foi ouvir conceituados académicos e políticos reconhecerem a Cultura, não como um obstáculo ao desenvolvimento e um sorvedouro de receitas, mas como o motor da criatividade e da identidade, ou seja, da diferenciação que nos atribui vantagens comparativas. Ficou patente que a obtenção de resultados económicos deve ter sempre em conta as condicionantes culturais. Em síntese, relevou o facto que a Cultura e a Economia se alimentam mutuamente e que o Desenvolvimento só resulta se estas se mantiverem indissociáveis.
Voltando ao IV Capítulo da Confraria do Bucho Raiano, é espectável que Jorge Barreto Xavier transmita ao restante executivo as preocupações das gentes que se esforçam por preservar os seus produtos artesanais e as actividades económicas relacionadas. É hora dos responsáveis da Cultura e da Economia lutarem em conjunto para que as práticas de obtenção dos produtos artesanais, o saber fazer, seja seriamente protegido como parte integrante do património cultural e que a sua produção e comercialização goze de benefícios fiscais e outros incentivos.
Estas medidas são a base da preservação de uma parte do nosso património cultural, pois podem estimular as populações a dar continuidade às práticas tradicionais, transmitindo o saber e os costumes às gerações vindouras. Esta é também uma medida de salvaguarda, para que no futuro nos possamos alimentar sem ter que recorrer a balcões de fast food, para comer uma plastificada salsicha alemã ou outro qualquer pré-embalado, confeccionado com todo o tipo de misturas e aquecido num micro-ondas produzido e alimentado por empresas chinesas.
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«Estádio Original», opinião de Luís Marques Pereira
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