Damos continuidade à apresentação do léxico «O Falar de Riba Côa» com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.
Entre as palavras: COTA e CUTENAS.
COTA – parte oposta ao gume de um objecto cortante; parte oposta à palma da mão.
COTANA – nódoa forte (Joaquim Manuel Correia ). Duardo Neves chama cotena.
COTENAS – pontos mal dados na cosedura de um remento (José Pinto Peixoto).
COTE – uso contínuo, diário (Vítor Pereira Neves e Duardo Neves). Ando com a botas a cote.
COTILHA – colete usado pelas mulheres para apertar o corpo; espartilho (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
COTO – maneta. Braço que ficou sem a mão. Resto de uma vela ardida.
COTORNO – côdea de pão (Aldeia Velha).
COTURNOS – meias, peúgas (José Pinto Peixoto). Nas terras do Campo (Monsanto) designa botas grosseiras de homem (Maria Leonor Buescu).
COURA – pedaço de couro que se ata ao peito para resguardo dos ceifadores.
CÔVADO – antiga medida, equivalente a 0,66 metros.
COVÃO – buraco em forma de paralelepípedo, de forte inclinação, com uma saída estreita ao fundo, por onde corre a água que move as pás do rodízio do moinho (Francisco Carreira Tomé).
COVELA – fila de cereal disposto na eira, pronto a malhar. Várias covelas formam a eirada (Manuel dos Santos Caria). Também se diz carreira. «Iam estendendo o centeio na laje em sucessivas covelas, deixando as carreiras de espigas bem à vista e alinhadas, sobrepostas à tora da camada anterior» (Abel Saraiva).
CRAVAR – pedir com intenção de não retribuir.
CRAVEIRA – tábua rectangular com a indicação exacta da medida do metro, utilizada como aferidor oficial dessa medida.
CRAVELA – ventoinha rudimentar que quando gira faz barulho e afugenta os pássaros. Cambalhota (Júlio António Borges).
CRAVELAR – comer o cravelo (pequena refeição das ceifas).
CRAVELHA – peça de madeira com que se trancam portas e postigos – também se diz caravelha. Cada uma das hastes da canga em que se encaixa o pescoço do animal e a que se prende o barbante. Dente – Bater as cravelhas: bater os dentes. Mais a Sul (Monsanto) usa-se a expressão cangalho para definir cada cravelha da canga (Maria Leonor Buescu).
CRAVELHUDO – homem que tem os dentes grandes (Júlio António Borges).
CRAVELO – pequena refeição que se come a meio da manhã, pelas ceifas.
CRAVETO – pau para o lume. «Olha aquele craveto que está a cair para a pilheira» (Joaquim Manuel Correia).
CRAVO – verruga; prego para segurar as ferraduras aos animais e as ferragens das alfaias agrícolas (Duardo Neves).
CRESCENTE – fermento que se mistura na massa do pão, para que levede.
CRAVINETA – cravo pequeno (flor).
CRESTA – aquecimento excessivo, quase a queimar ou a provocar ferida (Duardo Neves). Tarefa de retirar o mel das colmeias (Júlio António Borges).
CRESTADEIRA – instrumento composto por lâmina de ferro, achatada e encurvada, com pequeno cabo de madeira, que serve para retirar os favos do mel do cortiço.
CRESTAR – tirar o mel das colmeias ou dos cortiços.
CRISTO – aquele que sofreu um acidente, ou que levou uma sova, ficando visivelmente ferido. Parecia um cristo.
CRIVO – ciranda de madeira com fundo de arame entrelaçado (ou de lata com furos), usada para limpar os cereais. Também se diz criva.
CROSTOS – colostros; primeiro leite após o parto. Manjar muito apreciado pelas suas qualidades nutritivas. Francisco Vaz refere acrostos, Júlio António Borges calhóstros.
CRUNHIR – querer – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
CRUTA – parte cimeira, topo. O m. q. coruta. Também se diz cruto.
CRUZES – via sacra. Reza ou andar as cruzes. Procissão das cruzes (ou dos passos). Ancas; região lombar. Ai as minhas cruzes!.
CUADA – remendo no fundilho das calças (Júlio António Borges).
CUBEJÃO – manta de trapos (Franklim Costa Braga).
CUBO – abertura ou canal por onde entra a água no moinho (Franklim Costa Braga, Clarinda Azevedo Maia). O m. q. caboco.
CUCO – marido a quem a mulher é infiel. Clarinda Azevedo Maia refere a expressão cuco ramalheiro, a que dá o mesmo significado.
CUEIRO – fralda para bebés.
CUIDAR – pensar; supor; julgar: cuido que sim. Tomar conta ou tratar de algo.
CUIO – qualquer coisa que existe só na imaginação. Julgava ser um burro e saiu-lhe um cuio.
CULHAMBANAS – indivíduo mal arranjado.
CULMIEIRA – cumeeira; fieira do telhado. Carvalho muito alto (Francisco Vaz). Tronco que sustenta as tábuas do soalho (Franklim Costa Braga). Duardo Neves fala em colmieira: árvore muito alta e direita, usada na empena e no travejamento das casas. Os dicionários registam cumeeira.
CUNANA – homem reles, fraco, incapaz de fazer algo correcto.
CUNCA – caçoila de madeira. Clarinda Azevedo Maia define: vasilha de madeira tosca que se põe nos poleiros para as galinhas beberem água (Aldeia do Bispo). Maria José Bernardo Ricárdio Costa diz por sua vez que se trata de vasilha para se colocar a alimentação humana: «Vou já encher as cuncas da merenda».
CUNCO – banco de lavar roupa (Aldeia Velha). Clarinda Azevedo Maia diz tratar-se de uma selha de madeira (Fóios) – cunco de lavar a loiça. Do Castelhano: cuenco.
CUNCUNHOSA – mulher reles; ordinária.
CUNHAL – pedra forte e bem talhada que serve para colocar na esquina das paredes.
CURA – longo processo de secagem e endurecimento de alguns alimentos. Cura do queijo (inclui sucessivas lavagens, salagens, e viragens), cura do enchido (no fumeiro).
CURRAL – pátio murado defronte das casas, onde se estacionava o carro de vacas e outras alfaias, onde as galinhas esgravatavam e se erguiam as moreias da lenha e do esterco retirado da loja dos animais.
CURRO – local onde se metem os toiros para uma tourada. Preço do curro: preço dos toiros.
CURRÓVIA – grupo ruidoso de pessoas (Carlos Guerra Vicente).
CURTIMENTO DO LINHO – afundar os feixes do linho num ribeiro por uma ou duas semanas.
CURTO – sem cauda; saroto. Aplica-se ao porco e ao cão (Clarinda Azevedo Maia) – do Castelhano.
CURUNHES – queres – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
CUTENAS – algo ou alguém de mau aspecto (Júlio Silva Marques).
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»
leitaobatista@gmail.com
Realmente é um grande trabalho. Mas vale a pena. Eu dou-lhe difusão nos meus perfis de Twitter e Facebook logo que saem!
Mas que grande dicionário, caro Paulo. E que perseverança. Admiro isso.
Agora, umas dicas sobre a minha terra – o Casteleiro.
Nós lá conhecemos assim mesmo palavras como COTA, COTE, COTO, CRAVELHA, CRAVELAR, CUEIRO, CUIDAR – no sentido em que aqui é trazido – ou, por exemplo, ou COVELA (palavra muuuuito antiga lá – hoje a miudagem já nem imagina o que seja).
Usamos CULHAMBANAS mas no singular e para dizer o mesmo. «Estás um bom culhambana».
Mas nem por sombras sei o que é COTANA ou outras, como: COTILHA, CUNCA, CUNCUNHOSA, CURRÓVIA ou CUTENAS.