Há cerca de quatro meses o amigo Paulo Leitão Batista contactou-me para me comunicar que, caso a Junta de Freguesia concordasse, gostariam de poder levar a efeito o IV Capítulo e Entronização do bucho raiano, no auditório do Centro Cívico de Foios…

Claro que a minha resposta só poderia ser de concordância e dizer-lhe que a Junta de Freguesia se disponibilizaria para colaborar em tudo quanto fosse necessário e possível.
O Paulo disse-me que havia contactado com a Imelda e com o Antoine, proprietários do viveiro Trutalcôa no sentido de poderem servir o almoço do bucho aos confrades e respectivos convidados.
Depois de terem dialogado chegaram à conclusão que o espaço do restaurante não seria suficientemente grande para as cem pessoas que julgavam poder estar presentes.
Mas rapidamente surgiu a ideia do pavilhão multiusos de Foios e que até faria sentido uma vez que as cerimónias iriam decorrer no auditório desta localidade.
A Imelda e o Antoine puseram-se em campo e toca de confecionar buchos caseiros.
Quando já tinham buchos para cem pessoas eis que lhes comunicam que irão estar presentes cerca de cento e cinquenta pessoas. Toca de fazer mais buchos. Mas fazê-los não era muito complicado. Complicado era poderem secá-los a tempo e horas. Mas mesmo assim avançaram para mais uma dezena e meia de buchos.
Mas para surpresa de todos as pessoas não paravam de se inscrever e já a poucos dias do evento comunicaram à Imelda que estavam quase nas duas centenas. Então a Imelda respondeu que já estava a ver o filme e pelo sim pelo não confeccionou mais alguns buchos pelo que não iria haver problemas.
Mas os dois briosos e responsáveis «mordomos» Paulo Leitão e José Carlos Lages não paravam de telefonar tanto para mim, como para o Tó e Imelda, com receio de que alguma coisa pudesse falhar. Eu compreendia-os e sempre lhes disse que tudo faríamos para que a deslocação aos Foios não os deixasse frustrados e muito menos arrependidos por terem escolhido a terra onde nasce o rio Côa.
As mesas redondas, as toalhas, os trajes para as moças que iriam servir, e muitos outros aspectos eram motivo de preocupação, como entendo ser normal.
Parabéns a estes dois confrades, Paulo Leitão e José Carlos Lages, porque não descoraram nenhum aspecto para que esta vinda aos Foios pudesse constituir sucesso e ficar na história quer da confraria quer desta simpática freguesia raiana. Assim, de facto, aconteceu.
Do dia 9 de Fevereiro, Sábado de Carnaval, os representantes das confrarias gastronómicas convidadas começaram a concentrar-se a partir das 11 horas no Largo da Praça onde se localiza o Centro Cívico Nascente do Côa e onde decorreu a recepção de boas-vindas.
Também por volta das onze horas chegou o Senhor Secretário de Estado da Cultura, Dr. Jorge Barreto Xavier, que se fazia acompanhar pelo pai que é pessoa muito estimada no nosso concelho.
Um quarto de hora depois chegava o Sr. General Pina Monteiro, Chefe de Estado Maior do Exército (CEME), que se fazia acompanhar pela esposa.
O IV Capítulo foi precedido de uma assembleia geral interna onde apenas participaram confrades do bucho raiano tendo, de seguida, acontecido um belíssimo momento musical a cargo do Grupo de Concertinas do Safurdão.
Por volta das 12 horas o Presidente da Junta de Foios proferiu algumas palavras de boas vindas tendo dito que era uma honra para a Freguesia ter o auditório a abarrotar e com Personalidades tão Ilustres.
A cerimónia de sapiência esteve a cargo de Albino Lopes, professor catedrático e coordenador da Unidade de Gestão no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), natural de Vale de Espinho, tendo-o feito de forma brilhante.
A benção das insígnias dos novos confrades foi feita pelo Senhor Padre Américo, por ser o pároco da freguesia de Fóios.
Tal como estava previsto subiram ao palco os onze novos confrades que prestaram juramento e receberam as insígnias das mãos do Grão-Mestre Joaquim Leal.
Subiram ainda ao palco o Sr. Secretário de Estado da Cultura e o Sr. General CEME, que foram homenageados como confrades de honra, com o título de cancelários.
Após estas cerimónias todos os presentes se incorporaram no desfile que, por algumas ruas dos Fóios, se deslocaram em direcção ao pavilhão multiusos.
À frente do desfile o Grupo de Concertinas do Safurdão enchia de animação as ruas que dão acesso ao pavilhão.
Depois de todas as pessoas terem ocupado lugar nas mesas, de forma muito ordeira, foram servidas aquelas trutas fritas, em postas muito fininhas, que se podem comer como se fossem peixinhos do rio. E para compor os estômagos foi servido um caldo de vagens secas que agradou a todas as pessoas.
De seguida deu entrada na sala o «Rei Bucho» que, numa cerimónia quase comovente, foi colocado na mesa de honra tendo sido aberto pelos Ilustres e estimados conterrâneos Sr. Secretário de Estado da Cultura e Sr. General Artur Pina Monteiro.
Depois começaram a surgir as travessas com as saborosas batatas e grelos e, de seguida, as travessas mais desejadas com o saboroso bucho que poderemos classificar de excelente.
Cabe aqui e agora prestar a merecida homenagem à Imelda e ao Antoine que foram brilhantes. Cumpriram, à risca, as regras sugeridas pelo Paulo Leitão Baptista e pelo José Carlos Lages a quem, no final, se notava no semblante a alegria e a vaidade a que sinceramente tiveram direito.
Também o meu reconhecimento àquelas e àqueles jovens que serviram às mesas como se fosse um grupo treinado no ramo da gastronomia.
Já quase ao fim da tarde, quase ao escurecer, a equipa de sapadores dos Foios também brilhou com o típico magusto feito no assador gigante que é propriedade da Junta de Freguesia e que vai fazendo furor por onde tem passado com particular destaque na cidade de Salamanca.
A Junta de Freguesia de Foios ofereceu a jeropiga e a empresa Sabugal+ os quarenta quilos de castanhas que haviam sido conservadas nas câmaras do amigo Ramos, que tem um lugar de venda na praça do Sabugal, a quem também agradecemos a amabilidade.
Interpretando fielmente o sentimento da população que represento pretendo agradecer a todos os confrades, quer do bucho raiano, quer de outras confrarias que estiveram presentes, a alegria e a honra que nos deram por terem proporcionado um dia de animação e movimento como só a capeia arraiana nos pode aportar.
Para terminar um grande bem-haja aos dois Ilustres Conterrâneos – Senhor Secretário de Estado da Cultura e ao Senhor General Pina Monteiro, Chefe de Estado Maior do Exército. Venham mais vezes porque nos dão força e alento.
:: ::
«Nascente do Côa», crónica de José Manuel Campos
(Fojeiro)
Normalmente, neste tipo de eventos, a peça mais importante é a oração de sapiência e o seu autor, quando o seu produto se revela de superior qualidade artística, é sempre objecto de merecidos encómios.
Surpreendentemente, porém, este ano os relatos alusivos à efeméride omitiram, em absoluto, qualquer referência a esta peça processual, contrariamente ao que aconteceu o ano passado com o Prof. Carvalho Rodrigues que, brilhantemente, dissertou sobre a matança do porco. Em vez disso, constato que os holofotes se viraram, sobretudo, para ilustres figuras do Governo e da hieraquia militar cujo valor e mérito, aliás, não está em causa mas que, por demais enfatizadas,ofuscaram o brilho que outras outras pessoas, por certo,emprestaram à cerimónia e não tiveram a devida relevância.
Assim, porque o lauto e opíparo banquete, pelos vistos, mereceu honras de superior iguaria primorosamente degustada, muito agradecia que o “Capeia Arraiana” publicasse a oração de sapiência atempadamente anunciada e, por ora, ainda desconhecida.
Ao ler este relato, desse momento memorável, para além de nos fazer “crescer água na boca”, fico com vontade de enviar um forte abraço ao Presidente da Freguesia Prof. Zé Manuel, e dizer que é com vontades assim ,que alguma esperança fica, para que este concelho tenha História. Ele foi capaz de pegar em mais este desafio e congregar todos os intervenientes, para que o sucesso fosse alcançado.