Damos continuidade à apresentação do léxico «O Falar de Riba Côa» com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.
Entre as palavras: CORNICA e COSTIL.
CORNICA – dobra; ruga; gelha (Clarinda Azevedo Maia – Batocas) – de encornicar.
CORNICHA – pequeno funil de lata, usado para meter o recheio nos enchidos (Júlio António Borges). O m. q. enchedeira.
CORNICHO – bico traseiro da albarda; ponta ou canto de um saco cheio.
CORNO – chifre de boi que o gadanheiro prendia ao cinto para guardar a aguçina. Manuel dos Santos Caria chama-lhe caçapo. Marido a quem a mulher é infiel.
CORNUDO – marido a quem a mulher é infiel.
COROA – oração religiosa, constituída por dois terços. Chamando-lhe croa, Maria José Bernardo Ricárdio Costa explica que se rezava durante nove dias, após o falecimento de alguém.
CORPETE – peça de vestuário, usada pelas mulheres para segurar os seios; espartilho.
CORRÉCIO – rapaz mal comportado; traquina.
CORREDOURA – mó de cima, que se move sobre a mó fixa (pousa), triturando o cereal (Júlio António Borges). O m. q. pedra andadeira.
CORREIA – tira de cabedal; soga; cinto; atacador das botas.
CORREIÇÃO – vadiagem; gandaia (Carlos Guerra Vicente).
CÓRRELA – vómito de água de cor amarela, provocado pela acidez do estômago e sobrecarga do fígado (Duardo Neves).
CORRELEIRO – vagabundo, que anda sempre na rua (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia da Ponte). Nos Forcalhos diz-se corrilheiro ou corriol, em Aldeia do Bispo corrião (Clarinda Azevedo Maia).
CORRER A COXIA – vadiar; andar na boa vai ela ou na gandaia (Júlio Silva Marques).
CORRER CHARAU – passear; vadiar; picar a potra (Rapoula do Côa).
CORRER O CÃO – passear; vadiar; vaguear.
CORRER OS CAMBAIS – correr todas as ruas da povoação (Clarinda Azevedo Maia – Forcalhos).
CORRIÃO – vagabundo (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia do Bispo). O m. q. correleiro.
CORRICHAS – mamas (José Pinto Peixoto).
CORRICHO – porco. Corricha, corricha.. – fórmula de chamamento do porco (Joaquim Manuel Correia).
CORRILHEIRO – vagabundo (Clarinda Azevedo Maia – Forcalhos). O m. q. correleiro.
CORRIOL – planta daninha, que cresce entre o centeio (Nuno de Montemor). Clarinda Azevedo Maia, acrescenta: vagabundo.
CORRO – cerco onde têm lugar as capeias (touradas com forcão), formado com recurso a carros de vacas carregados de lenha.
CORRÓVIA – grupo; súcia (Júlio António Borges).
CORSA – pau bifurcado, que, ligado ao cambão, servia para os animais de tracção arrastarem grandes pedras. Também se diz corso.
CORTADOR – guia; aquele que segue à frente da fila de contrabandistas, que tem a responsabilidade de escolher o caminho, de «cortar mato» para que as cargas cheguem ao destino. O cortador não transporta carga e é melhor pago do que o cargueiro.
CORTA-FENO – réptil pequeno e sem pernas que vive no meio das ervas.
CORTE – casa onde dormem os animais; estábulo; loja.
CORTELHA – instalação dos porcos; pocilga; chiqueiro. Também se diz cortelho.
CORTIÇO – saleiro grande; base para espadelar o linho; o m. q. corcho. Abrigo para abelhas, formado por uma casca de cortiça enrolada, formando um cilindro.
CORUJEIRA – lugar com penhascos e fragas.
CORUTA – parte cimeira; topo de uma árvore; alto da cabeça; cimo de uma serra. Duardo Neves refere cruta. Clarinda Azevedo Maia acrescenta queruta, expressão que recolheu em Aldeia Velha. Nas terras do campo (Monsanto) diz-se coruito (Maria Leonor Buescu). Também se diz coruto.
COSCAS – cócegas. Também se diz cosquinhas.
COSCO – tostão – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
COSMA – nome depreciativo com que se designa um grupo de rapazes ou de homens (Júlio António Borges).
COSQUE – casa – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
COSTAL – fios que atam uma meada de linho para que não se emaranhe.
COSTANEIRO – tábua que se retira de cada lado do tronco que vai à serra.
COSTELA – armadilha para apanhar taralhões vivos, que consiste em dois aros de verga e rede que se justapõem quando desarmados pelo pássaro que toca no isco (Vítor Pereira Neves). Cada uma das partes em que fica dividida a cana da roca (Clarinda Azevedo Maia – Fóios).
COSTELUDO – corcunda; marreca (Júlio António Borges).
COSTIL – armadilha de arame para pássaros. Os dicionários chamam-lhe costela e costilha. Aliás, José Pinto Peixoto chama-lhe costilho.
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»
leitaobatista@gmail.com
No Casteleiro, dizemos coisas como: CORPETE, CORRÉCIO, CORRER o CHARAU, CORTELHA, CORTIÇO (mas só para as abelhas), CORRER mas não O CÃO: correr os cães. Diz-se CORRIÃO, mas também correio para dizer o mesmo (portanto, nessa lógica, escreveremos com «e», digo eu – se é que isso importa, quando falamos das pronúncias populares.
Não sabemos o que é CORNICA, COROA, CORREIÇÃO, CORRIOL nem CORRÓVIA.
Não dizemos CORNICHA nem sabemos o que isso seja: para o mesmo, diz-se «inchedêra». Não sei se por «enchideira, de enchidos, se por enchedeira, de encher…
Uma nota final, sobre o termo COSTIL – usamos, melhor, sabemos o que é, mas no Casteleiro quase não se usa no singular: «Vou ali para o olival a armar os costis». Porque ninguém tinha só um: era aos 20 e 30, única forma de garantir uma passarada na brasa ou na frigideira – fosse lá em casa, fosse com a malta, os amigos…