Um grupo de renegados com diplomas, uns contrafeitos, outros obtidos em países estrangeiros, cujas doutrinas económicas carecem de ser adaptadas à nossa realidade, a qual desconhecem, decidiu aquilo que o «padrinho» já preconizava, a intolerância ao Carnaval.
![Os caretos](https://i0.wp.com/capeiaarraiana.pt/wp-content/uploads/2013/02/azeite_caretos.gif?resize=600%2C354&ssl=1)
A nossa Cultura está ancorada em crenças e rituais que sobrevivem no tempo e no espaço. Nesses rituais inscreve-se o Carnaval, originário numa das muitas festas dos romanos, a Saturnália, o qual chegou aos dias de hoje imbricado no calendário lunar e religioso. Da sua antiguidade e da sua universalidade pode-se inferir a importância desta festa como reguladora da sociedade.
As festividades cíclicas que combinam natureza e cultura, foram são e serão fundamentais para a vida do Homem na Terra. Para além do respeito pela cultura portuguesa, o tal grupo que serve de testa de ferro aos mandantes da troika deveria dar mais atenção ao factor humano na Economia. Pois que, a real alavancagem da Economia está na rentabilização dos recursos naturais e humanos e não nos resultados ilusórios das operações virtuais e fraudulentas nos mercados bolsistas.
Se o tal grupo olhasse, com olhos de ver, para o outro lado do Atlântico, veria que o Carnaval no Brasil é o maior evento da cultura popular à face do globo e um poderoso factor de incremento da Economia, com especial incidência e reflexo no sector do turismo. Na origem desta manifestação, que resistiu às invasões bárbaras e muçulmanas, está a tradição medieval europeia, absorvida e transmitida pelos portugueses a outros povos e a outras culturas. Mas cá também existem carnavais, e por serem diferentes e menos participados, o de Bragança, o da Guarda, o de Torres Vedras, o de Sesimbra, o de Silves, o de Loulé, o do Funchal e tantos outros, não deixam de ser relevantes para as economias locais e merecedores do reconhecimento como manifestações do nosso património cultural.
O Carnaval é um momento de suspensão da ordem, durante o qual o Rei Momo permite excessos, normalmente censuráveis e proibidos. A inversão carnavalesca do poder funciona como um ritual de despressurização.
Face à lei, a transgressão e a impunidade funcionam como catarse, colocando a desordem ritualizada ao serviço da ordem institucionalizada e do equilíbrio social. Cumpridos os rituais ancestrais, ou seja, cumprido o dever para com o passado, voltamos ao quotidiano com mais vontade e mais coragem, pois a participação nos ritos de tradição comunitária retempera-nos as forças e liberta-nos das tensões quotidianas.
Os momentos de desordem pública, permitem às sociedades verificarem de forma momentânea e teatralizada, o nível da violência e de desordem a que estariam expostas se a ordem não reinasse. Assim, não é por acaso, que a seguir aos exageros dos dias de Carnaval se segue a Quaresma, período de jejum e de reflexão que nos prepara para a Morte e Ressurreição de Cristo.
Mas os tais renegados, das duas uma, ou sabem disto e têm prazer na mutilação da cultura e da sociedade portuguesa, ou então têm os movimentos de tal forma limitados que não conseguem sacudir o «pó dourado» com que os Ulrichs, Borges & Companhia os impregnam durante os festins.
O tal grupo, «apadrinhado» presidencialmente, em vez de deixar gozar a tolerância do Carnaval, deleita-se com a nomeação para Secretário de Estado de um administrador da maior associação de malfeitores da história portuguesa.
Por mim, funcionário público em Lisboa, aproveitaria a tolerância para rumar com família à terra dos antepassados e assistir ao Julgamento do Galo na Guarda. Sem tolerância, irei para o local de trabalho. Como acalento a esperança de vir a ser ministro no exílio, irei mascarado de Dias Loureiro, ou então de Victor Constâncio.
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«Estádio Original», opinião de Luís Marques Pereira
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