Agora, que o Entrudo está aí, resolveu o governo fazer uma mexida aos seus secretários de estado. E entre tantos, resolveu escolher um que, pelos vistos, esteve ligado à SLN, a holding que detinha o BPN.

Foi uma das personagens que foi ouvida no parlamento numa daquelas muitas comissões, que não sabemos a que conclusões chegou, e se apresentou aí como Pílatos no credo católico. Sabia mas não disse. Lavou as suas mãos e pronto. Para nos aparecer agora como um dos secretários de estado escolhido pelo ministro da economia e pelo primeiro-ministro. Parto do princípio que o homem até pode estar inocente, contudo, politicamente é uma asneira. Tudo o que possa levantar poeira sobre o BPN, é uma nódoa que fica agarrada. O BPN é o maior assalto feito a uma nação e ao seu povo. Seria, num país em que a justiça fosse a sério, o maior caso de prisões de colarinhos brancos da história. Aqui não se passa nada. Todos os culpados se pavoneiam por aí tranquilamente. Portanto, o convite a este senhor foi um erro político e, ele aceitar, uma falta de vergonha. Uma entrudada!
Têm surgido neste blogue uns textos interessantes sobre a questão do funcionamento da democracia, concretamente, no respeitante à representatividade, isto é, à relação directa entre o eleitor e o eleito. O caso do secretário de estado e a polémica à sua nomeação, trouxe a público o funcionamento do sistema.
Disse o primeiro-ministro que a escolha tinha sido do ministro da Economia e dele pessoalmente, que o PSD e o CDS nada tinham a ver com tal escolha. É aqui que me mete confusão, então nas eleições não se escolheram partidos? Não são os partidos que sustentam os governos? Então, não deveriam os partidos ser chamados a ter palavra? É que, como defendo, nas eleições legislativas, os paridos deveriam ser obrigados a dizer quem seriam os ministros e secretários e, estes, deveriam fazer arte das listas concorrentes às eleições, gostaria de ver quantos daqueles que já foram ministros e aqueles que o são actualmente, a candidatar-se. Neste sentido, são muito mais democráticas as eleições autárquicas. Depois deste episódio, na Assembleia da República, assistimos ao maior acto de falsidade e de hipocrisia. Vemos os mesmos que há uma semana se demarcavam, e que não era nada com eles, da nomeação do tal senhor para secretário de estado, a defenderem-no intransigentemente. A seriedade, a coerência, a verticalidade, a ética e a moral, há muito que abandonaram tal sala.
E ainda vem o líder da bancada do PSD, feita virgem, anunciar que é um atentado à democracia, a oposição não aceitar fazer parte da tal comissão da reforma do estado. Então, e é democrático, criar uma comissão para um debate com condições prévias? Ou a democracia só é boa quando nos favorece a nós?!
Deve ser por estarmos mesmo no entrudo, porque a política está uma verdadeira entrudada!
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«A Quinta Quina», opinião de Fernando Lopes
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