A Tauromaquia apresenta-se como uma moeda de faces distintas, nas quais esse mítico animal que é o Touro e o distinto ser que é o Homem estão sempre presentes como figuras centrais.

De um lado, os espectáculos de natureza artística, de nível nacional e regulamentados pelo Estado. Do outro, as manifestações locais de cultura popular. Num caso somos remetidos para um aspecto da identidade cultural nacional e no outro para identidades culturais locais.
A Tauromaquia formal manifesta-se em espaços delimitados e licenciados, as praças de touros, com artistas e promotores profissionais e é supervisionada pela Inspecção-Geral das Actividades Culturais, com base em normas legais. Destaca-se o Decreto-Lei n.º 306/91, que considera a Tauromaquia, indiscutivelmente como parte integrante do património da cultura popular portuguesa, e o Regulamento do Espectáculo tauromáquico (RET), aprovado pelo Decreto-Regulamentar n.º 62/91.
As Tauromaquias populares consubstanciam-se na organização de festas em espaço aberto, de livre assistência, onde participam as massas populares. A sua realização depende do voluntariado e quotização dos grupos culturais e recreativos e/ou das organizações representativas. Nelas os rituais são regulados pelas comunidades que lhes conferem sentido. É aqui que, entre outras, se inserem a Capeia Arraiana, as Largadas de Toiros e o Touro à Corda.
Mas, a cultura popular, apesar do seu enraizamento também é dinâmica. Assim, das festas populares com touros, surgem dois tipos de espectáculos de cariz misto. Ambos são casos de excepção ao enquadramento legal e merecem alguma reflexão. Refiro-me às Corridas do Forcão realizadas em praças de touros (festival Ao Forcão Rapazes e Capeia da Casa do Sabugal em Lisboa), e aos espectáculos de Recortes. Por ora aborda-se aquela que para aqui releva, a Corrida do Forcão.
Em minha opinião, este tipo de espectáculos deve estar fora da alçada do RET. Contudo, a hipótese de se divulgar e «exportar» a Corrida do Forcão leva à necessidade de existência de mecanismos para controlar algumas questões, nomeadamente, a segurança dos recintos, o direito dos espectadores, a sanidade animal e acima de tudo, a salvaguarda do património cultural associado.
Com a massificação e a actividade turística em torno das representações culturais corre-se o risco de se adulterarem algumas tradições. Mas, o grande risco é a actividade de muitos oportunistas, que encontrando terreno fértil e não vigiado, podem depreciar e explorar até à exaustão um valioso património que foi sendo construído ao longo de muitas gerações.
Julgo que as Corridas do Forcão podem coexistir com as tradicionais Capeias Arraianas e promoverem-se mutuamente. As primeiras constituem espectáculos realizados em espaços fechados, que se abrem ao público pagante, e são protagonizados por grupos de rapazes «artistas», mais aptos no manejo do forcão e no afoliar dos touros. As segundas são efectuadas em espaços abertos e abertas à participação do povo, nas quais se celebram rituais e se evoca o prestígio social dos Mordomos. Por outras palavras, umas são mais espectáculo e outras mais Festa.
Embora amputadas de actos que compõem as tradicionais Capeias Arraianas, as Corridas do Forcão, à imagem dos casos acima referidos, podem ser efectuadas com regularidade nas praças de touros do Sabugal e partilhadas com mais portugueses em outras praças do país e também junto das comunidades de emigrantes. As receitas de bilheteira e de publicidade e o merchandising de produtos e marcas associadas, podem trazer proventos directos aos seus produtores e actores, e indirectos aos sabugalenses em geral. Para além desta vertente, os jovens da região que como todos gostam de demonstrar as suas qualidades (coragem, força e destreza), e de ver o seu trabalho recompensado, sentir-se-ão mais cativados para preservar e dinamizar o seu património cultural.
Todavia, a «exportação» das Corridas do Forcão para fora do concelho deve ser certificada por entidade credenciada para o efeito, a Câmara Municipal do Sabugal. Esses espectáculos que podem ser complementados com outras representações tradicionais, funcionarão certamente como importante cartaz turístico da região do Sabugal, melhor dizendo, importante fonte de Desenvolvimento.
A confirmar facto inserido no artigo anterior sugere-se a leitura do artigo de um jornalista francês que diz o que a nossa comunicação social de maior impacto esconde… (Aqui.)
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«Estádio Original», opinião de Luís Marques Pereira
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