«Haja saúde e coza o forno», é uma expressão popular que vinca de forma directa e expressa a importância daquela instituição comunal na vida das populações rurais, ou que, numa acepção mais ampla, repercute a dependência em que todos nos encontramos relativamente ao pão.

Gentil Marques, num curioso e bem estruturado estudo a que deu o título «O pão, as padeiras e os padeiros» deixou registado:
«Enfim, o pão está intimamente ligado a todos os sectores da vida. Por isso mesmo, se usam as mais diversas e curiosas expressões, incluindo a palavra pão, para retratar casos e tipos. Assim, ao sabor da memória, vamos lembrando:
Pão, pão, queijo, queijo, para significar que tudo se passa claramente, sem rodeios, nem, subterfúgios.
Comer pão com côdea, indicando uma pessoa esperta, que se não deixa enganar facilmente…
Comer o pão que o diabo amassou, ou seja esgotar-se na luta pela vida…
O pão nosso de cada dia, a simbolizar o esforço do trabalho quotidiano para garantir o sustento…
O pão do espírito, sinónimo de instrução…
Estou no meu pão pingado, que o mesmo é dizer, vivo como quero, vivo à minha maneira…
Mas isto de coza o forno, tem muito que se lhe diga. É preciso aquecê-lo e não é tarefa fácil, especialmente se já está sem cozer há vários dias, isto é, se está amuado…
Obviamente que leva muito mais lenha e exige melhor lenha…
O que, se na algidez do caramelo ainda pode consolar, embora exponha a enfermidades do tubo respiratório, no verão é já penoso.
Donde a prevenção – se tens corpo de manteiga, não sejas forneira.
É o calor que coze. Aliás, o primeiro forno foi o sol.
A cozedura tem por objecto essencial eliminar a água, produzindo uma crosta relativamente dura da qual depende a forma original do pão, impedindo que essa forma se altere.
Convém fazer notar desde já que que o pão se modifica depois da saída do forno. De início, a côdea é dura, mas quebradiça e o miolo é mole. Depois, a côdea deixa de ser quebradiça. Mas o conjunto aguenta bem de quinze dias a um mês.
Reforçando mesmo o tónus alimentar.
:: ::
«O Concelho», história e etnografia das terras sabugalenses,
por Manuel Leal Freire
:: ::
Pão nas nossas terras era o Centeio.
Desamuar o forno era tarefa pesada em termos do consumo de lenha.
O forno e a escala que existia na minha terra para o desamuar eram algumas das coisas que tornavam as aldeias comunitárias. Esse viver comunitário parece às vezes estar um bocado esquecido. Mas nas aldeias mais reconditas esse sentimento de comunidade ainda existe
jfernandes(pailobo)
Á frase ” haja saúde e coza o forno “, eu acrescentaria o seguinte: ” e o pão que lá colocarmos seja o fruto do suor do nosso rosto.”
Quando há fome, não há pão ruim!