Damos continuidade à apresentação do léxico «O Falar de Riba Côa» com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.
Entre as palavras: CHOCHEIRO e CIZÂNIA.
CHOCHEIRO – o que diz chochices; palermices (Duardo Neves).
CHOCHICE – palermice, insignificância.
CHOCHO – tremoço. Pessoa que não diz coisa com jeito, palerma, pateta – também se diz chochana. Fruto oco, sem suco. Na linguagem de Monsanto significa: sujo (Maria Leonor Buescu).
CHOCLATEIRA – caneca para bebidas (Francisco Vaz). Maria Leonor Buescu (linguagem de Monsanto) refere chocolateira: cafeteira, chaleira.
CHOCO – diz-se do ovo que ficou estragado ou podre. Estar no choco: ficar na cama para além da hora normal de levantar.
CHOÇO – cabana de palha onde se abrigam os pastores ; também se diz choça. Espiga vazia, sem grão (Júlio António Borges).
CHOINA – noite – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
CHOLDRA – gente desprezível; turba.
CHOLRO-BOLRO – ao desbarato (Júlio Silva Marques).
CHONA – jogo tradicional, disputado entre rapazes. Manejando um pau comprido bate-se noutro, mais curto, enviando-o para longe. O vencedor tem direito a uma cavalgada nas costas do vencido. Nalgumas terras chamam-lhe bilharda e noutras pata. Júlio António Borges refere abelharda. Franklim Costa Braga refere que em Quadrazais se diz jogo da tchoiné e que há algumas variantes deste jogo, utilizando os mesmos instrumentos: A raia, o bolarão e os malhões. Nas terras do Campo (Monsanto) dizem bilharda e o jogo consiste em fazer entrar um pequeno pau num círculo traçado no chão, por meio de pancada com outro pau (Maria Leonor Buescu).
CHONINHAS – pessoa fraca; insignificante; sem préstimo.
CHOQUEIRA – pessoa suja (Júlio António Borges).
CHOQUICE – imundice; sujidade (Júlio António Borges).
CHORAMINGAS – eterno descontente (Francisco Vaz); pessoa que chora por tudo e por nada.
CHORAR O ENTRUDO – ridicularizar alguém na altura do Carnaval, através de ditos mordazes, a roçar o indecoro. Júlio Silva Marques refere para este acto o termo choradeira. Também se diz dito do Entrudo (Pêga). Na zona de Arganil chamam a este divertimento surra ou corridela do Entrudo (António dos Santos Vicente).
CHORELHO – murcho; enrugado. Batata chorelha.
CHORREÃO – lugar por onde passam enxurradas (Júlio Silva Marques).
CHOSTRA – mulher pouco asseada e desmazelada no vestir (Abel Saraiva).
CHOTO – bezerro; vitelo até seis meses (Clarinda Azevedo Maia).
CHOUPANA – telheiro; alpendre.
CHOVE QUE DEUS A DÁ – chove muito. Quem ouve responde: Que Deus a mande.
CHUCHA – semente de fruto; pevide; graínha (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
CHUCHEIRO – vaidoso (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia da Ponte).
CHUCHO – castanha que não chegou a criar; pinhão (Clarinda Azevedo Maia – Batocas). Também se diz chocha.
CHULA – antiga dança dos arraiais.
CHULO – duro (moeda espanhola) – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
CHUMBADEIRA – utensílio em ferro, numa espécie de sertã, próprio para derreter chumbo e introduzi-lo nos chumbadouros das portas para assim as segurar.
CHUMBADOURO – gonzo ou dobradiça de uma porta com um espigão para espetar (chumbar) à parede.
CHUMBRO – nome que se dá ao figo que é fruto da chamada figueira da Índia (Clarinda Azevedo Maia – Lageosa).
CHUPA-MEL – planta comestível de raiz adocicada. Indivíduo natural dos Fóios (por comerem essa planta).
CHUPÃO – chaminé da lareira.
CHURRA – ovelha com lã muito abundante e grosseira, de fraca qualidade (por oposição à ovelha merina, de lã fina e valiosa). Lã grosseira.
CHURRO – touro escuro. «Churro dos espanhóis» (Manuel Leal Freire). Sem viço; sem vitalidade (Júlio António Borges).
CHUS – nada (Leopoldo Lourenço). Nem chus nem bus.
CHUSMA – muita gente; multidão; turba. Grande porção.
CHUVISNAR – cair chuva miúda; chuviscar. Outros termos equivalentes: borrismar; molinhar; morinhar; musmenhar; merujar.
CIBO – pequeno pedaço de alimento. Cibo de queijo. Também se diz cibato. «Algum cibato com que tapear o estômago» (Abel Saraiva).
CIEIRO – vento frio e seco, vindo de nordeste – de Espanha nem bom vento nem bom casamento. Feridas nos lábios provocadas pelo frio.
CIGARRAR – atormentar; chatear; importunar (Júlio António Borges). Atiçar; incitar (Carlos Guerra Vicente).
CIGARREGA – cigarra (Clarinda Azevedo Maia). Maria Leonor Buescu, referindo-se à linguagem de Monsanto, registou cegarrega.
CIGUTA – nevoeiro (Júlio António Borges).
CILHA – correia que cinge a albarda ao corpo da cavalgadura.
CIMEIRO – superior; no cimo. Andar cimeiro: andar superior de uma casa.
CINTA – faixa usada para apertar as crianças recém-nascidas (Clarinda Azevedo Maia – Forcalhos).
CIRANDA – peneira grossa para limpar os cereais. Era feita de palha ou junco, na forma circular, revestida com pele, tendo no fundo junco entrelaçado. Passou depois a ter aro de madeira, com fundo de arame.
CIRANDAR – peneirar com a ciranda. Andar de lado para o outro; não parar.
CIRCO – círculo (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
CIRIEIRO – pessoa que anda de monco no nariz.
CÍRIO – monco de ranho que pende do nariz.
CIRULETA – diarreia (Júlio António Borges).
CISCO – resto de palhiço fica no chão; resíduo.
CISGALHO – bocadinho; pequena porção (Júlio António Borges).
CISMA – mania; devaneio; teimosia.
CISMAR – não abandonar um pensamento; teimar; matutar. Tinha aquela cisma.
CISMÁTICO – o que cisma; teimoso; pensativo (Duardo Neves).
CITOTE – fiscal das finanças que andava pelas aldeias a cobrar as contribuições.
CIZANA – mania (José Pinto Peixoto). Já estás co’as cizanas?.
CIZÂNIA – discórdia; desarmonia (Júlio António Borges).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»
leitaobatista@gmail.com
OK. Já me falaram disso – pelo menos no Norte do País seria assim.
Mas outra coisa: cumpre-me pedir aqui desculpa por um lapso:
– Afinal, desde garoto que sei muito bem o que são os cocilhos.
No Casteleiro, dizemos estas duas: CHOCHICE, CHOCHO. Mas com uma pronúncia algo especial. «És um tchoucho» quer dizer: «Não sabes o que dizes», «Não vale a pena ouvir-te». «Só dizes coisas sem interesse». Mas é preciso aperfeiçoar a grafia para a aproximar da pronúncia ou explicá-la muito bem. É que se pronuncia como o som francês «oe», de «boeuf». Quero dizer: mais ou menos isso.
Jogávamos à CHONA.
E chamamos CHONINHAS a um tipo que não diz nem faz nada que interesse.
Também chamamos CHOSTRA a uma mulher porquinha.
No Casteleiro não se fala de CHUMBADEIRA, mas os CHUMBADOUROs são mesmo as dobradiças das portas cravadas na parece.
Também não dizemos, por exemplo: CHURRA, CHURRO ou CHUS.
Mas dizemos CHUSMA, sim, senhores.
Ah! E tínhamos muitas vezes CIEIRO, sobretudo nos lábios. E a CILHA também lá serve para prender a albarda ao burro.
Não falamos de CIRULETA, mas chamamos CISCO ao palhiço, também.
Bom dia Pelo que eu sei a pronuncia tch para as letras ch é a mais antiga em Portugal. Por exemplo, a palavra chave pronunciava-se tchave