Venho manifestar a minha reflexão sobre o programa «Jornada de Turismo» realizadas no Sabugal no dia 14 de Dezembro, a qual pretendo que seja interpretada como incentivo. O que mais desejo, para bem das pessoas e da nossa região, é que as jornadas do turismo tenham permitido dar a conhecer os projectos que se podem desenvolver no concelho e que as próximas jornadas já possam contemplar algumas das ideias que aqui expresso.

Parabéns pela excelente iniciativa! Muito importante reflectir sobre uma região em geral e concelho em particular que tem uma das maiores e mais diversificadas potencialidades turísticas do país:
– Cinco castelos um deles é «único em Portugal» e é orgulho das gentes do Sabugal;
– É atravessado por um dos rios mais emblemáticos de Portugal (Rio Côa) com praias fluviais que se apresentam como recantos inefáveis;
– Tem uma barragem com uma excelente bacia hidrográfica;
– Tem a Reserva Natural da Serra da Malcata e Serra das Mesas, Serra do Homem de Pedra de valor e beleza únicas;
– Esta é a região onde estão as «ossadas do país» (barrocos e pedras de beleza singular) passíveis de lhe atribuir como conotação a de ser «a estrutura óssea do País»;
– Uma aldeia histórica (Sortelha) de características impares e considerada uma das mais belas de Portugal;
– Tradição cultural (capeia) única no mundo;
– termas moderníssimas que estão a implementar-se com maior força e projecção nacional;
– alojamento turístico que tem vindo a oferecer uma diversidade excelente de charme e ruralidade turística, estando já implementados vários projectos de turismo rural.
A juntar a tudo isto a extensa região da beira interior que nos circunda, que está pejada de património histórico semelhante…
Mas… Mas… Eis que consultado o programa, verifica-se que foram umas jornadas sobre projectos de turismo para promover todas as outras regiões menos as do próprio concelho onde se realizam as próprias jornadas. Não se vê no programa, menção específica a uma única das potencialidades referidas.
Vai sendo urgente desbravar e reflectir para potenciar a divulgação da diversidade de oferta turística riquíssima que existe na região.
Importa, à semelhança dos passeios marítimos criados noutras regiões do país, devolver o rio Côa às pessoas, criando um passeio fluvial nas suas margens da nascente até final do limite do concelho, para tornar possível passeios a pé, de burro, cavalo, ou de BTT (nem que seja 100 metros por mês, ao final de um ano teremos o passeio fluvial criado) e este poderá chamar amantes da natureza e devolver passeios agradáveis aos que aqui vivem.
E que dizer sobre uma barragem, com uma bacia hidrográfica excelente para desportos náuticos sem motor, provas Caiaque e outros que se afigurem ecológicos, pois entendo que não foi construída só para levar a água para fora do concelho, enquanto ela por ali estiver poderá ser aproveitada.
Importa devolver e difundir as belíssimas Serras (falo apenas das três mais significativas ou que conheço melhor) para trilhos turísticos demarcados para que quem visita a região possa perder-se nas florestas e serranias de beleza ímpar, manter e repovoar de fauna de interesse turístico, sob pena de que a excessiva conservação pode resultar de um momento para o outro em tragédia sem possibilidade de termos pelo menos usufruído do pequeno paraíso ali existente, pois é preciso uma árvore para fazer milhentos fósforos, mas basta um só fósforo para dizimar uma floresta.
As casas da floresta da Reserva da Malcata estão ao abandono. Porquê?
Posso estar a ser demagógico e desconhecer a legislação de quem controla o quê, mas esta reserva é do concelho e como tal, se o Instituto para a Conservação da Natureza não cuida, deve-se pressionar para deixar que outros cuidem.
Não há uma única placa com orientações/indicações para quem se queira aventurar na Serra da Malcata. Quem não conhece não pode entrar, porque corre sério risco de se perder e isto é grave. Este é o nosso «Gerês», a nossa «Faia Brava», mas com o dobro do potencial turístico, assim esteja ele acessível e publicitado.
Sortelha, poderia ser a Vila Natal de excelência do país. Óbidos não suporta mais gente, esgotou a lotação, a procura tornou-se excessiva, e nós temos uma aldeia que está ali só à espera de quem aposte nela e seja apenas criativo, para a tornar mas visitada. Se outros têm que imaginar ambientes de natal para reproduzir presépios, casas típicas e rústicas, nós temos ali as condições à disposição.
Porque não um filme publicitário sobre o concelho, elaborado pelos criativos do Turismo de Portugal, à semelhança do que têm feito para todas as regiões do país, mas a nossa continua votada ao esquecimento, quando temos encanto para oferecer que nunca mais acaba. Quem não aparece… esquece! Poderemos fazer alguma pressão sobre o Instituto do Turismo de Portugal?
E os Castelos senhores! Ai os Castelos! Porque não criar dinâmicas de exposições permanentes ou temporárias de esculturas ao ar livre atractivas com arte de autores da região ou outros de renome nacional ou internacional até, apetrechando este espaços mortos de novas atractividades devolvendo-lhes a dignidade de outros tempos e que tragam mais turistas à região ou se tornem conhecidos e apelativos.
Louve-se a iniciativa dos espectáculos com o grupo Viv`Àrte. Mas outros podem ser ali exibidos, desde o teatro à música, que sairão com toda a certeza beneficiados pelo ambiente ali proporcionado. Um artista de renome, musica étnica, pode ser uma boa aposta e promoção do concelho.
A capeia é uma tradição única no mundo, espectáculo, que pode honrar o concelho na sua conservação e divulgação. Mas esta, per si, já tem uma afluência de pessoas que dificilmente consegue cativar mais gente, pois todos sabemos que se queremos ver gente é ir ás capeias e o quão difícil é arranjar um lugar apara assistir com segurança e dignidade ao espectáculo.
Muito haveria para dizer, pois reconheço que esta seria a via que poderia trazer gente para o concelho onde os descontos das portagens só serviram para levar, os poucos que cá vivem, a ausentar-se daqui para fora e as portagens sem descontos acabaram por afastar aqueles que também amavam a região mas que dada a estucada final com estas portagens atirou com esta região para uma das mais desertificadas do país, levando a que nem estes possam regressar ali com a maior regularidade a que vinham habituados.
Não podemos continuar a centrar-nos numa gestão virada para dentro do concelho, mas sim de abertura ao exterior, sob risco de, caso não consigamos abrir-nos ao exterior e tornar-nos apelativos, continuar a fazer com que os naturais e residentes continuem a fugir porque não há forma de subsistir na região.
A aposta parece-me mais do que nunca ter que ser direccionada para o turismo. Portugal foi considerado recentemente como o melhor país do mundo para turismo. O portal Globe Spots deu a conhecer destinos de todo o mundo que os turistas devem visitar. Este ano, o site internacional de viagens decidiu destacar Portugal no seu «top de destinos» para o próximo ano, atribuindo-lhe a classificação de melhor país para visitar em 2013, para quem quer uma «viagem clássica com grandes vistas».
Destacam o «velho charme europeu» do país e as «cidades medievais e quarteirões históricos», cheios de praças, igrejas e mosteiros, assim como os «bairros típicos, onde a roupa colorida seca à janela».
São estas notícias e informações que podemos privilegiar e estar atentos para dinamizar, pois temos imenso potencial. Deus e a natureza concederam-nos esta benesse, cabe-nos a nós não a desperdiçar e apostar em criar melhores condições para as gerações seguintes, tal como os outros criaram para nós, deixando-nos este legado imenso que queremos cuidar mas desfrutando.
Que ninguém se melindre com esta minha reflexão porque eu também amo as minhas origens, a minha gente, a minha cultura, a minha aldeia, o meu concelho e este país, mas gostava acima de tudo que conseguíssemos mostrar ao país e ao mundo que se Adão e Eva voltassem a ser criados por Deus, o concelho do Sabugal seria o forte candidato a ser o novo paraíso, pois Ele sabe a «riqueza» que ali existe!
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«Território dos Cinco Elementos», crónica de António Martins
(Cronista no Capeia Arraiana desde Setembro de 2014.)
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