Querido(a) leitor(a), irá perdoar-me, mas o artigo de hoje vai para os nossos vindouros, para aqueles que daqui a um século, ou mais, serão os portugueses do futuro. O que tenho para lhes dizer? Leia e verá que não me afasto muito da realidade.
Vindouros, a História já vos disse a razão pela qual no ano de 2012 Portugal estava de joelhos perante a Alemanha e o Fundo Monetário Internacional (mercados), ou seja, porque é que Portugal tinha perdido a sua Soberania e muito da sua Democracia. Eu quero simplesmente escrever sobre uma elite político/partidária e outra económica, causadoras da perca da Soberania e da Democracia, e que levou o País à ruína económica.
A partir dos anos 90 do século XX, surge uma classe política que nada teve a ver com aqueles homens e mulheres que lutaram e conseguiram restabelecer a democracia em Portugal. Essa nova classe política a que eu chamava os «jovens lobos» formada no seio dos partidos políticos, burocratas, tecnocratas, pouca cultura, sem ideias e convicções, depressa integrou governos e chegou à Assembleia da República. Esta nova classe política sempre esteve mais preocupada com a sua progressão dentro do partido e situação económica, do que com os portugueses, com isso criou uma sociedade profundamente dividida, os ricos tornaram-se mais ricos e os pobres ficaram mais pobres.
A classe média começou a proletarizar-se, a empobrecer, e uma das razões de tanta adesão a greves e manifestações em Portugal no ano de 2012, foi a classe média ter tomado consciência de que estava a empobrecer, e esta classe só se manifestava quando isso acontecia. A classe média-alta sobrevivia, a maior parte dela, à custa da especulação imobiliária e de toda uma série de negócios menos claros, muitas vezes subsidiados pelo Estado…
As classes baixas, as mais humildes, abandonadas pelos governantes e grandes empresários atingiam um estado de pobreza que se assemelhava à dos países do terceiro e quarto mundos, devia-se isto em grande parte à perca do emprego, porque quem ficasse sem emprego caía imediatamente na pobreza, Portugal tinha nesta altura um milhão ou mais de desempregados e, tudo indicava que em 2013 o número aumentaria. Esta classe baixa, mais humilde representava já perto de 80 por cento da população portuguesa, suportava sacrifícios económicos impressionantes e nada possuía de seu.
Quem estava no topo da pirâmide, enriquecendo, corrompendo e corrompendo-se cada vez mais? Políticos desonestos, grandes empresários e banqueiros. Essas classes viviam num hedonismo impressionante, passeavam de Verão e de Inverno pelo estrangeiro fazendo compras nas mais sofisticadas e conhecidas casas de moda a nível mundial, possuíam autênticos palácios nos sítios onde iam passar uns momentos de ócio, e tinham luxuosos apartamentos nas cidades. Alguns eram donos de casas de luxo em Paris, Nova Iorque e outras cidades, os carros em que se deslocavam e também os jactos privados eram do melhor que existia, e quase todos os anos os trocavam por outros mais modernos que apareciam no mercado.
A comunicação social falava em milhões de euros roubados por eles em monumentais corrupções tanto no Estado como no sector privado, mas a mesma comunicação social tinha revistas especializadas só na vida privada dessa elite político/económica, desde os vestidos que compravam até aos amores que tinham, eram reis e senhores, rainhas e senhoras de um País com um milhão ou mais de desempregados, de milhares de trabalhadores que recebiam por mês entre trezentos e quatrocentos euros, e também de pobres pensionistas cujo valor das pensões oscilava entre os duzentos e cinquenta e trezentos euros mensais. Vindouros, os portugueses todos a trabalhar não conseguiam alimentar estas elites, quanto mais trabalhavam e eram explorados no seu trabalho, mais elas se corrompiam e gastavam.
Chegou-se à suprema infâmia, essa elite governante tinha uma estratégia de empobrecimento do País, de mais empobrecimento do País! De retirar ainda mais aos fracos rendimentos das classes baixas, médias, pequenos empresários e pequenos comerciantes! Para quê? À espera do investimento estrangeiro, e este investimento só se conseguia com salários miseráveis e horários infinitos de trabalho, Portugal assemelhava-se a um qualquer país pobre da Ásia para onde as multinacionais levavam as suas fábricas.
Pela primeira vez na sua História, Portugal estava a empobrecer propositadamente para se tornar um couto de multinacionais, onde estas pudessem trabalhar sem um mínimo entrave desde social a económico.
Agora vindouro, leia com atenção isto que vou escrever: havia homens e mulheres com funções políticas, de uma dignidade e honestidade irrepreensíveis, gente com ideias e convicções. Na época histórica que atravessávamos, principalmente a partir do ano 2000 até agora, 2012, a classe política foi perdendo o seu prestígio até se tornar a classe mais odiada em Portugal. Compreendia-se, mas não se podia generalizar, infelizmente a maior parte dos portugueses generalizava.
Termino dizendo-lhe duas coisas: primeira, quando ler isto, seja qual seja a data histórica em que o faça, oxalá viva num Portugal mais justo, mais democrático, mais livre e com plena Soberania e Democracia, não num Portugal que seja um protectorado de uma qualquer potência económica e política.
Segunda coisa, quando nos arquivos do «Capeia Arraiana», vamos pôr daqui a um século, 2112, ler este artigo, diga para consigo:
«O tipo que escreveu isto não deixava de ter uma certa razão, mas foi assim, foi com essa política económica que Portugal se transformou no que é presentemente, uma pequena potência económica, onde a pobreza é residual, e a Democracia e Liberdade são das mais invejadas pela maior parte dos países do Mundo.»
Nada me faria mais feliz se fosse vivo!
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«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2008)
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