Martim Codax foi um poeta das Rias Bajas de Vigo que também o poderia ter sido dos picos de Xalma.
Escreveu Hugo Rocha, que foi no Porto ilustre crítico literário e não menos ilustrado membro da Academia Galega, que não se concebe facilmente nos dias de hoje o que teria sido um poeta do século XIII, como Martin Codax e os seus pares.
Pelo menos, não se concebe facilmente o que tenha sido um poeta votado a cantar e declamar urbi et orbe a sua poesia.
É certo que,muito antes dos trovadores, dos jograis, dos segreis da Idade Média, a Grécia da Idade Antiga teve os rapsodos que foram os divulgadores da poesia do seu tempo, os cantores e declamadores de então.
Mais perto de nós, os celtas tiveram os bardos e as valemachias gaulesas eram canções de amor levadas pelos bardos de terra em terra, como o haviam de fazer depois os jograis e menestreis da Idade Média.
A fantasia lírica dos escaldos fez das sagas escandinavas os cantos mais típicos do Norte. A Islândia do passado conheceu as edas. A poesia escandinava e inseparável das tradições runicas. As lendas caledónias poetizadas por Ossian tiveram os seus divulgadores populares.
Falar dos nibelungos, dos poemas do Rei Artur e da Távola Redonda é falar dos famosos minessingueres germânicos. O canto épico de Rolando, os poemas cíclicos de Carlos Magno, o romanceiro de Cid Campeador eram poesia declamada, cantada e estruturalmente acompanhada a música instrumental.
Sabe-se o que todos eles declamaram mas desconhece-se-lhes o canto. Os registos musicais são muito mais difíceis de fixar, além de os acordes sofrerem o influxo transformador do meio – até do geográfico.
Efectivamente, dizem os entendidos, as czardas russas repercutem tanto as grandes estepes como o tango argentino se filia na sintonia do pampas.
Como entre nós, o cante alentejano se modela nos barros de Beja, o fandango estremenho nas pradarias do Tejo e Sado, o vira minhoto nas colinas ondeantes das arribas de Viana…
Não sabemos que toadas terá cantado Martim Codax. Conhecemos-lhe já perfeitamente o trovar, a sua fusão idiossincrática com o mar de Vigo, as cantigas de amar e amigo:
Ondas do mar de Vigo
Si vistes meu amigo
E, ay Deus, se verra cedo
Ondas do mar levado
Se vistes meu amado
E, ay Deus,se verra cedo
Se vistes meu amigo
O por que eu suspiro
E, ay Deus, se verra cedo
Se vistes meu amado
Por que hei gran coidado
E, ay Deus, se verra cedo
Ay ondas que eu vin veere
Se me saberedes dicer
Por que tarda meu amigo
Sen min
Ay ondas que eu vin mirar
Se me saberedes contar
Por que tarda meu amigo
Sen min
Se tivesse vivido no Ribacoa, Martin Codax teria igualmente cantado o amor em cantigas de amigo. Só que o estro sopraria da serra, que não do mar. Mas a língua seria a mesma – um romanço com muito de charro.
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«O Concelho», história e etnografia das terras sabugalenses,
por Manuel Leal Freire
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