A celebração dos primeiros dois dias de Novembro (dia 1 – Dia de Todos Os Santos; dia 2 – Dia de Recordação de Todos os Fiéis Defuntos) teve origem no Mosteiro dos Beneditinos de Cluny em França. Das duas datas importantes, a primeira não mais acontecerá, pois o feriado religioso foi retirado e as pessoas já não terão pelo menos um dia disponível para recordar os seus mortos mais queridos. Muito se deve às más e incríveis negociações da Igreja com o Estado Português.
É importante que nestas datas façamos uma reflexão da Fé que vivemos, e acreditemos numa vida nova e imortal. Na primeira, festejamos todos aqueles e aquelas que a misericórdia de Deus admitiu na sua presença, na entrada do Seu Reino. Na segunda, é o tempo da oração, da reflexão dos Fiéis Defuntos, por todos aqueles que partem com a necessidade de algumas purificações além-túmulo.
Há dias um amigo, em conversa sobre estes temas da Fé, perguntava-me se na sociedade em que vivemos ainda há santos e onde estão. Respondi-lhe de imediato que sim e muitos. Porém, quis explicar-lhe, na minha opinião, quem são os santos. Se nos deslocarmos a uma qualquer Igreja, lá encontraremos muitos, muitas vezes desconhecendo a sua vida e obra.
Todos os anos levo as crianças da Catequese de Aldeia de Joanes à Igreja Matriz, para lhes proporcionar uma lição de história sobre esse monumento de interesse municipal e verifico que a maioria não sabe nem conhece as imagens dos santos, que ali estão para todos venerarmos.
Numa das aulas de Catequese, há uma lição muito interessante, sob o título «Sede Santos». Ali está a resposta muito concreta e simples: um santo é todo aquele que detesta o mal e se apega ao bem; aquele que se mostra firme nas dificuldades com muita alegria e esperança; aquele que cultiva o fervor sem perder a humildade; aquele que procura viver em paz com todos, ajudando os mais necessitados.
Estas minhas respostas, que foram ouvidas com muita atenção pelo meu interlocutor, convenceram-no, apresentando-lhe de seguida inúmeros nomes de santos, que através dos tempos subiram aos altares.
Também lhe acrescentei que o Concílio Vaticano II afirma que a santidade consiste na plena e perfeita identificação com Jesus Cristo. Todos os cristãos são chamados a ser santos, é um chamamento que abrange todos sem exceção. Há imensos caminhos, imensas maneiras, cada um com o seu modo de vida, na vida de todos os dias, na família, no trabalho, nos tempos livres, em todas as atividades.
Volto à pergunta: ainda há santos hoje? Recordo novamente as crianças da Catequese. A maioria responde-me que os seus avós são uns santos.
Ajudam-nas, dão-lhe bons conselhos, amparam-nas contra o mal, ensinam-lhe os caminhos do bem com o seu exemplo, rezam com elas, ensinam-lhes os valores da vida, enfim são os seus companheiros dia-a-dia. E também muitos pais responsáveis fazem o mesmo.
E os jovens que se dedicam voluntariamente em muitas ações de solidariedade social e de prática da caridade. E aqueles e aquelas que partem com destino a terras de missão, trabalhando no progresso social, cultural e religioso e dão a vida por essas causas. E aqueles visitadores de hospitais, que limpam as lágrimas de doentes que já não têm força nas suas mãos, transmitindo-lhes palavras de fé e esperança. E os homens e mulheres que fazem pontes de amizade e união e são semeadores da paz e da concórdia.
E caro amigo leitor, podia apontar muitos mais trabalhadores que nos dias de hoje sobem as escadas da santidade. E não são necessariamente católicos. Aqui tens os santos dos nossos dias. Andam junto de nós, vivem perto de nós. Estão aí. Estão ao teu lado.
O Evangelista São Lucas, diz-nos: «Hão-de vir do Oriente, do Ocidente, do Norte e do Sul, sentar-se-ão à mesa do Reino.»
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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