Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.
BODO – banquete comunitário, promovido por alguma instituição, mordomia ou confraria, em cerimonial festivo, em honra da Senhora ou de algum santo (Francisco Vaz). Tradicionalmente o bodo está associado às festas do Espírito Santo, que se realizam numa boa parte do território português e em que era uso dar um festim de comida com vista a alimentar os pobres.
BOFES – pulmões do porco, fessura. Também se diz boches. «Mostra coração e há-de ter bofes» (Nuno de Montemor).
BOGALHADA – brincadeira de carnaval que consistia em lançar para dentro das casas latas cheias de bogalhas. O m. q. cacada ou panelada.
BOGALHO – nódulo que se forma nas folhas dos carvalhos. As bogalhas eram usadas pelas crianças para brincar: imitavam ovelhas, adornavam paus, serviam de berlinde. Entre as crianças era uso dizer: O ninho tem bogalhos, querendo afirmar que tinha ovos. Também se chamava bogalhos aos testículos ( o m. q. tomates).
BOGULHO – aquele que se atrasa a comer.
BOJO – coragem – ter o bojo de…
BÔLA – pequeno pão feito da arrebanhadura da masseira, que se deixava mal cozido e era comido quente (Júlio Silva Marques). Pão de ló escuro, com canela (Vítor Pereira Neves). Pequeno descanso oferecido ao ceifador, para que coma algo e retempere forças (José Prata).
BOLACHA – bofetada; estalada.
BOLACHADA – bofetada forte.
BOLERCA – castanha que se não chegou a criar (Clarinda Azevedo Maia). Também se diz chocha.
BOLETA – bolota ou lande; fruto do carvalho e da carrasqueira, usada para a ceva dos porcos. Clarinda Azevedo Maia recolheu a expressão beleta em Aldeia da Ponte.
BOLETA ANZINA – bolota doce (Clarinda Azevedo Maia).
BOLO – pão espalmado e comprido que é uso comer pelos Santos; o m. q. bica.
BOMBAZINA – tecido riscado, que imita o veludo.
BOMBILHA – lâmpada (Maria José Ricárdio Costa).
BOM-SERÁS – bom homem, que não se ofende e que tudo aceita resignado (Nuno de Montemor).
BONAIRO – farrapo; bocado de tecido (Júlio António Borges).
BONDA – o suficiente; basta; chega. Também se diz abonda.
BONDAR – bastar; chegar; ser suficiente.
BONECA – rapariga muito bonita e airosa, que dá nas vistas.
BONECO DE PÃO – pequeno pão de formas variadas, geralmente feito a partir da arrebanhadura da masseira, a que tinham direito as crianças após a fornada (Luís Monteiro da Fonseca).
BONECRO – homem afeminado; boneco (Francisco Vaz).
BONICA – excremento de animal; bosta. «Rodeira de bonica das vacas leiteiras» (Carlos Guerra Vicente).
BONITA – fatia de pão (Júlio António Borges).
BOQUE – buraco aberto no solo, para plantar árvores (Júlio António Borges).
BOQUERNA – boca – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
BORBORINHO – remoinho de vento usual no Verão. Vítor Pereira Neves escreve basborinho e Júlio António Borges diz barborinho. Desordem, acrescenta José Pinto Peixoto, que escreve burburinho, forma, aliás, dada por preferível pelos dicionaristas. O povo também diz redemoinho (Célio Rolinho Pires). Na crença popular o borborinho indica a passagem do Demónio.
BORDA – côdea de pão; a primeira fatia que se corta.
BORDALO – peixe pequeno dos rios e ribeiros. O m. q. escalo.
BORDOADA – pancada com recurso a um pau ou vara (de bordão).
BORGA – pândega; festança; patuscada.
BORNAL – farnel; saco da merenda. Saco com ração que se enfia no pescoço dos burros (Júlio Silva Marques). Pessoa que come demais; lambão (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
BORNECA – castanha que não chegou a criar (Clarinda Azevedo Maia – Forcalhos). O m. q. chocha. Em Trás-os-Montes diz-se boneca.
BORNIL – chumaço de palha, envolvido em pano ou em cabedal, que se coloca no pescoço dos burros para se jungirem à carroça ou ao arado; coalheira. O m. q. belfa.
BORNO – morno; tépido.
BORRA – depósito que os líquidos deixam no fundo da vasilha; o m. q. sarro.
BORRA-BOTAS – pessoa reles; desgraçado.
BORRACHA – pequeno odre de couro para vinho, muito usado por jornaleiros e gadanheiros. O m. q. bota.
BORRACHICA – biberão (Júlio António Borges).
BORRACHÃO – bêbedo incorrigível. Indivíduo natural de Pousafoles (Clarinda Azevedo Maia).
BORRACHO – bêbado.
BORRALHEIRA – lugar da lareira onde se coloca o borralho; fogueira grande, que expele muito calor.
BORRALHO – braseiro envolto com cinza.
BORRASCA – chuva súbita.
BORREGA – bolha que se forma nas mãos, em geral devido à ferramenta, ou nos pés, devido ao calçado. Em Trás-os-Montes (Mogadouro) usam a expressão burra com o mesmo sentido.
BORREGANA – nome próprio, ligado a vendedores de borregos (Francisco Vaz).
BORREGO – molho de feno preparado com o ancinho – dois borregos atados fazem uma facha. Cordeiro com mais de dois anos. Homem calmo, pacífico. Aquilo que os bêbedos vomitam (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
BORREGUINHO – castanha ainda mal criada (Clarinda Azevedo Maia – Fóios).
BORREIRA – soltura; diarreia.
BORRISCAR – borrar. Borriscou-se de medo.
BORRISMAR – chover miúdo. O m. q. chuvisnar.
BOSTA – mulher indolente (Júlio António Borges). Excremento de vaca.
BÔ’STÁ – interjeição: ora essa! essa agora! (José Pinto Peixoto).
BOTAR – atirar; deitar; lançar.
BOTAR A BARRIGA – abortar (relativo a animais).
BOTAS FERRADAS – botas com protectores de ferro no rasto.
BOTELHA – abóbora (Sabugal). Garrafa; cabaça usada para transportar o vinho. «Com um ancinho ao ombro e uma botelha no braço» (Abel Saraiva).
BOTELHO – abóbora pequena. Variedade de pimentos, de grande dimensão (Clarinda Azevedo Maia).
BOTIFARRA – bota grosseira e grande.
BOTIM – bota de cano alto, usada pelos homens. Antigamente era bota de borracha, comprada em Espanha (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
BOTÕES – brincos (Clarinda Azevedo Maia).
BOUÇA – terreno inculto, aproveitado para nele se roçar mato e periodicamente semear. Também se diz bocha.
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»
leitaobatista@gmail.com