Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.
AMADURAR – amadurecer.
AMAGAR – abaixar; acocorar; esconder; o m. q. achicar.
AMAINAR – acalmar; serenar.
AMALINADO – doente; pessoa ou animal com malina (doença).
AMANCORNAR – atar uma vaca dos cornos à pata dianteira, para que não fuja do lameiro. Abel Saraiva refere acabramar com o mesmo significado, mas para as cabras.
AMANHAR – preparar; tratar; compor. Amanhar a terra: tratá-la e prepará-la para produzir. Mais a Sul (Monsanto) significa também abrandar; afrouxar (Maria Leonor Buescu).
À MÃO-TENTE – muito perto; à mão de semear.
AMAREJAR – traçar margens ou regos na terra lavrada e semeada, para esgotamento das águas (Manuel Santos Caria).
AMARELA – gema do ovo (geralmente diz-se marela) – já a clara do ovo designa-se por branca.
AMARELO – sol – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
AMARFOLHAR – o crescer da seara, ficando tenra e forte. Criar marfolho: assim se diz quando os pastos estão a crescer. Pão amarfolhado: seara de centeio muito viçoso, sendo necessário ceifá-lo para depois voltar a rebentar.
AMARGOSO – amargo; ácido.
AMARMALHAR – apressar; acabar à pressa qualquer trabalho (Júlio António Borges).
AMARUJAR – amargar. Diz-se sobretudo da fruta quando ainda tem acidez.
AMASSADEIRA – mulher que amassa o pão.
AMATRIZ – amanhã – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
AMEIXOA – ameixa.
AMENDOEIRA – mulher que nas festas vendia amêndoas de açúcar e rebuçados de caramelo em cartuxos, que transportava e expunha em tabuleiros de madeira.
AMERCEAR – compadecer. Que Deus se amerceie da sua alma.
AMEZIDADE – amizade (Clarinda Azevedo Maia). Os dicionários registam amizidade.
AMIGAR-SE – amancebar-se; juntar-se com amante ou amásia.
AMIGO – amante.
AMIGOIÇO – amigo falso, que não merece confiança (Júlio António Borges).
AMOÇAR – esticar e reordenar os molhos de linho após a maçagem (José Pinto Peixoto). Clarinda Azevedo Maia escreve amossar, que traduz por: operação a que se submete o linho antes de espadelar para o limpar das arestas (também refere refregar, a que dá o mesmo significado).
AMOCHAR – aguentar com o peso; carregar; suportar. Baixar; amagar. Também se diz amouchar.
A MODO QUE – de maneira que. Também se diz ómode que.
AMOJO – úbere dos animais. Duardo Neves refere amoijo.
AMOJAR – tomar amojo; crescimento das tetas e do úbere dos animais com o evoluir da gravidez. Duardo Neves refere amoijar. Aquilino Ribeiro, na sua linguagem regionalista escreve muitas vezes o termo amojar, com o mesmo significado de amochar – carregar, suportar.
AMOLANCAR – amolgar; fazer mossa.
AMOLACHIM – afiador ou amolador de facas (Leopoldo Lourenço). Pessoa que andava de terra para terra a afiar facas, que à entrada de cada aldeia soprava um apito característico. Clarinda Azevedo Maia refere também molanchim, termo que recolheu nos Forcalhos.
AMOLADOR – o m. q. amolachim.
AMOLAR – tramar; molestar; dificultar. Afiar no rebolo: acto praticado pelo amolador de facas e tesouras que visitava as aldeias.
AMONADO – triste; cabisbaixo; amuado. Acocorado (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia da Ponte).
AMONAR – ficar mono, amuado, triste, pensativo, preocupado. Baixar, agachar. Amona-te antes que te vejam.
AMONTAR – montar.
AMONTONAR – pôr tudo num monte; amontoar (Clarinda Azevedo Maia).
AMOROSO – agradável; ameno – tempo amoroso. Júlio António Borges traduz por: sossegado.
AMORTALHADA – mulher que, após promessa, vai na procissão de branco, com saiote e com grandes velas acesas (Franklim Costa Braga). «Muitas pessoas amortalhadas atrás dos andores e algumas debaixo deles» (Joaquim Manuel Correia).
AMOVER – abortar (animais) – Júlio António Borges.
AMUCHAR – amuar; agastar (Joaquim Manuel Correia). O m. q. amonar.
ANACO – carrego de fazenda – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
ANAFADO – cheio; gordo.
ANAGALHAR – casar; atar com nagalho (Júlio António Borges).
ANÁGUA – saia branca muito usada; saiote. Francisco Vaz refere anauga com o mesmo sentido, expressão igualmente recolhida por Clarinda Azevedo Maia, que, contudo, lhe confere um significado diferente: combinação (peça da roupa interior feminina).
ANAGUEL – cadeira sem pernas, onde o bebé era colocado para deixar a mãe livre (Júlio António Borges).
ANAIFADO – bem penteado; bem vestido; limpo (Júlio António Borges). Também se diz anifado.
ANAZADO – pequeno; que parece anão. Júlio António Borges acrescenta: apressado.
ANCHO – contente; vaidoso; orgulhoso. Cheio; amplo.
ANCINHO – travessa de madeira com pentes de igual material (em geral seis), fixa a um cabo comprido, utilizado para juntar e emborregar palha ou feno.
ANDAÇO – epidemia; endemia (José Pinto Peixoto).
ANDADOR – membro de uma irmandade que tem por missão pedir esmola para as almas.
ANDANTE – membro de uma irmandade que tinha por atribuição avisar a comunidade da morte dos irmãos e do horário das cerimónias fúnebres, tendo ainda por missão transportar a lanterna no funeral (António Cerca). Manuel Leal Freire acrescenta que cabia ao andante distribuir círios e velas no funeral dos irmãos. Caminho – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
ANDAR AO PÉ COXINHO – saltitar num só pé. Clarinda Azevedo Maia recolheu duas variantes deste termo: andar ao pinicoxo (Aldeia da Ponte) e andar à perna coixa (Batocas).
ANDAR A RABO – andar à trás de alguém, segui-lo. «Andavam de rabo dele» (Joaquim Manuel Correia).
ANDAR DE AJUSTO – trabalhar contratado. Também se diz simplesmente andar justo.
ANDAR DE BURRAS – andar de gatas (Clarinda Azevedo Maia).
ANDAR DE CANGÃO – pessoa que anda a mando de outra (como se andasse de canga ao pescoço).
ANDAR DE CARAS – mostrar desagrado ou ressentimento.
ANDAR DE NALGA – andar de gatas (as crianças), mas assentando uma nádega no solo (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
ANDAR DE TROMBAS – o m. q. andar de caras.
ANDARILHO – instrumento da cultura do linho, ao qual as meadas são enroladas, a partir das maçarocas (o m. q. sarilho). Estrutura de madeira, em T, com pequena roda em cada extremidade, nele assentando um aro rectangular, que servia para as crianças aprenderem a andar. Indivíduo que anda muito depressa.
ANDOR – interjeição pela qual se manda alguém embora. O mesmo que dizer: «vai-te embora», «desaparece», «ala».
ANEIXO – dependente; anexo (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
ANGINAS – inflamação da garganta; amigdalite.
ANGORETA – pequena barrica para o vinho. Abel Saraiva recolheu engoreta: «todo ele se esvaía em cabaças, garrafões e engotetas».
ANHO – borrego; cordeiro. Estranho (José Prata). Só (José Pinto Peixoto). Desolado; vaidoso (Júlio António Borges).
ANICHAR – acocorar; esconder.
ANJO DA MORTE – nome dado à borboleta que aparecesse a sobrevoar pessoa agonizante (Francisco Vaz).
ANJINHO – criança que morre antes dos cinco anos de idade. Se baptizada a criança iria imediatamente para o Céu, se não estivesse baptizada a criança ia a enterrar num canto do cemitério que estava por benzer. Maria Leonor Buescu diz que em Monsanto se chama anjinho à criança que morre antes dos sete anos.
ANOQUE – chupeta feita com um trapo, onde se punha açúcar (Júlio António Borges).
A NOVE – depressa; a grande velocidade. Andar a nove: expressão que derivou da velocidade máxima dos primeiros carros eléctricos (Dic. Expressões Populares Portuguesas, de G. A. Simões). «Iam a nove, dá-lhe que dá-lhe, quando aconteceu rebentar uma grande estreloiçada no motor» (Aquilino Ribeiro, in «O Homem que Matou o Diabo»).
ÂNSIA – água – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
ANTEVÉSPERAS – tempo que precede a véspera; dias mais próximos.
ANTONTE – anteontem; o dia anterior a ontem.
ANTRE-LUZ – fase da lua, entre o quarto minguante a lua nova (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia Velha).
ANUAL – prestação que se paga em cada ano à irmandade, destinada à celebração de missas pelos irmãos defuntos (António Cerca).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»
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