Chegado à Pousada, tenho um recado: o organizador do passeio daquele dia convidava-me , a troco de 100 reais (40 euros) no dia seguinte à mesma hora, visitar a cidade Presidente Figueiredo, 120 kms a norte de Manaus, na Estrada Nacional (BR no Brasil) que vai em direcção a Caracas, Venezuela. Claro que aceitei, estava ali para a aventura…
A viagem foi num ónibus luxuoso (autocarro) pelo interior da verdadeira floresta amazónica, a norte. Que força senti naquela violência de verde, naquele infindável mar de arvoredo bem alto, lutando entre si para obter a maior quantidade possível de raios solares!
Chegado a Presidente Figueiredo diversas surpresas me esperavam. Foi anunciado o almoço num determinado restaurante onde havia como ementa (cardápio no Brasil) comida à discrição, havendo carne de boi assada na brasa e sardinhas assadas em óleo, portanto fritas. Assadas, dizem eles…
Sardinhas, aqui nesta lonjura? Vou já atacar!
Eram sardinhas sim, mas outras… de água doce, sabor bom mas totalmente diferente das sardinhas portuguesas. Que não, as verdadeiras são aquelas, disseram-me! O que é certo toda a gente preferiu comer sardinhas (com arroz de feijão preto) a comer carne de boi assado.
Vi toda a gente do passeio comendo à farta: sardinhas, picanha, carne de sol (carne dessalgada antes de cozinhar), picanha, saladas, frutas diversas…
O que vou contar é surpreendente, eu vi com os meus olhos: toda aquela gente que comeu «à la gardère» e durante mais de uma hora… de seguida foram todos mergulhar num pêgo das tais águas negras e que havia ali ao lado de um rio. Mergulharam várias vezes e ficaram horas a fio dentro de água!! Chamaram-me para entrar na água, recusei obviamente, invocando o receio de congestão. Riram-se todos:
– Isso é mania de europeu, não mata, não…
Fiquei quedo e mudo e o que é certo todos regressaram a Manaus vivos, sem congestões das tais que pelos visto só existem na Europa!
Enquanto o grupo se refastelava dentro de água com a barriga cheia , fui pesquisar o ambiente.
Outras surpresas! Na outra margem do rio, vi diversas mulheres baixar as cuecas (calcinha no Brasil) e com o rabo virado para cá faziam as suas necessidades para dentro do rio… como a água corre rápida, a respectiva limpeza era automática… havia crianças e muitas outras pessoas, ninguém ligava nem olhavam, só eu, o gringo portuga olhou…
Esse rio é de águas velozes. A água corre em plano inclinado acentuado.
Vi com os meus olhos esbugalhados muitos rapazolas fazerem surf sobre a água, de pé ou sentados, sem prancha, apenas com o corpo estendido de costas!
Podem crer – no regresso, dentro do ónibus, ainda se riram de mim, porque não fui tomar banho depois do almoço… caprichos de europeu, dizia um, riam-se todos – troçando sem ofender o gringo-portuga!
(A aventura na Amazónia continua na próxima crónica)
«Estórias de um filho de Vale de Lobo e da Moita», crónica de José Jorge Cameira
Mais uma aventura, amigo José Jorge, talvez com menos emoções, que as anteriores. Só a descrição das árvores da floresta, enormes como em despique, umas com as outras, para serem banhadas pelo sol, pelo memos nas ramadas mais altas. Agora a descrição do “ALMOÇO”, está uma maravilha…Sardinhas de água doce? Olhe um segredo, sabe que eu nem das de água salgada gosto? Pode ter a certeza que ia para a carne grelhada. A sua “reportagem” de os seus companheiros, depois de comerem eu diria, não “à la gardère”… Mas como “LAMBÕES”. Irem todos, mergulhar nas águas? Ou as saladas e frutas que comeram, têm um efeito, para digestão rápida, ou então é uma aventura, querendo mostrar, valentia, esperando que nunca lhes acontece mal. A sua descrição das outras cenas, incluídas na pesquisa quando ficou só…Estão bem descritas, ao ponto de as ver-mos também!!! Se meu amigo, você não fosse tão…”CUSCO”, afastava-se, fingindo que não tinha visto nada. Gostei mais uma vez, desta sua aventura em terras, tão diferentes de tudo, ao que por cá se vê…Até a rapaziada a deslizar na força da corrente, sem prancha, só em países tropicais se lembram dessas brincadeiras. Até as pessoas, mesmo adultas, são mais alegres e comunicativas, em comparação com esta triste Europa. Meu amigo, quando me falam dos países, tão parecidos, com a ÁFRICA, que nunca esqueço…Olhe até me esqueço que, tenho que parar de escrever!!! Beijinhos de grande amizade, com o meu agradecimento. Parabéns pela, sua maneira, tão natural, de nos mostrar, paisagens e emoções por si sentidas, nessas viagens de aventura.