• O Primeiro
  • A Cidade e as Terras
  • Contraponto
  • Cronistas
  • Documentários
  • Ficção
  • História
  • Personalidade Ano
  • Ficha Técnica

Menu
  • O Primeiro
  • A Cidade e as Terras
  • Contraponto
  • Cronistas
  • Documentários
  • Ficção
  • História
  • Personalidade Ano
  • Ficha Técnica
Página Principal  /  Terras do Jarmelo  /  Descrevo-me!
20 Junho 2012

Descrevo-me!

Por Fernando Capelo
Fernando Capelo
Terras do Jarmelo fernando capelo 2 Comentários

Descrevo o que sou descrevendo o que sinto. Descrevo-me, portanto, nas palavras que escrevo.

Pôr-do-sol

Descrevo-me retratando vidas, contextos e ambientes construindo narrativas sobre vilas e aldeias antigas, sobre vales e sobre os montes que os cercam.

Existo em palavras de vento e frio, em palavras de neve, geada e névoas, em palavras de sol e calores excessivos, em palavras de cor «verde natureza», em palavras de sabores e odores inócuos e campestres.

Descrevo-me na calma clara das noites de luar e na morna atmosfera das noites estivais. Descrevo-me também nas tempestades que empurram o Inverno. Descrevo-me, ainda, quando escrevo sobre as verduras primaveris ou sobre castanhos outonais.

Descrevo-me no nascer avermelhado das manhãs e no crepúsculo alaranjado do sol-pôr.

Descrevo-me na admiração de montanhas, na contemplação das fundas ravinas que as separam e na gostosa observação das curtas planuras que as intercalam.

Descrevo-me nas maneiras de ser, nos saberes ancestrais, nos hábitos seculares, nos gostos e nas preferências, no trabalho e na alegria, no sofrimento e na dureza, no rigor e na seriedade, enfim, nas vidas das gentes do Interior profundo, encostado à Raia onde nasci e onde partilhei, partilho e partilharei a maior parte da minha existência.

Descrevo-me, assim, na tradição, nas lendas, nas estórias e na história destas terras, nos castros, castrejos e castelos, nas ruas e praças, nas capelas e igrejas, nos monumentos, no antigo e no presente de gente simples e franca, nas festas e romarias, nas diversões, na religiosidade, nos esquecimentos e nos reconhecimentos e também nas palavras de esperança de quem acredita assim como me descrevo nas palavras de amor de quem gosta e de quem ama.

Descrevo-me em palavras de céu e luz, em palavras de noites ou de dias e, ao descrever-me, transformo-me nas palavras que escrevo.

Descrevo-me em palavras de alma cheia que encontro ao fechar os olhos quando quero ver melhor.

Descrevo-me escrevendo de alma exposta e, tudo quanto escrevo, assume em mim uma força interior e infinita que me faz erguer e me faz existir.
Sinto, por isso, que vivo e toco o que vivo, em função do que escrevo. Tudo o que escrevo é tudo o que, para mim, existiu e existe ao alcance do meu sentir e, enquanto escrevo, obtenho a certeza de escrever sobre um mistério de beleza difícil de descrever e custoso de desvendar. Um mistério impossível de existir e, paradoxalmente, de existência verdadeira.

Foi no seio desse mistério que nasci, que me moldei e é nele que me apresento a este presente em que escrevo. Descrevo-me, portanto, tentando descrever tal mistério.

:: ::
«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo

Partilhar:

  • Tweet
  • Email
  • Print
Fernando Capelo
Fernando Capelo

Origens: Jarmelo (Guarda) :: :: Crónica: Terras do Jarmelo :: ::

 Artigo Anterior Afinal o que é a poesia e um bom poeta? (4)
Artigo Seguinte   O volfrâmio

Artigos relacionados

  • Respirar é viver!

    Quarta-feira, 10 Fevereiro, 2021
  • Afinal o mundo é redondo!

    Quarta-feira, 27 Janeiro, 2021
  • Estranha realidade

    Quarta-feira, 13 Janeiro, 2021

2 Comments

  1. Avatar António Emidio Responder a António
    Quarta-feira, 20 Junho, 2012 às 12:31

    Amigo Capêlo:

    Um dos maiores problemas dos portugueses é a sua superficialidade, isto obriga-os a serem controlados pelos mass media e por populismos políticos. O que seria um País formado por cidadãos com a tua profundidade de espirito? Um paraíso? Não. O homem é muito débil para construir paraísos terrenais, mas uma coisa é certa eramos um Povo com muitos mais valores e ideais. um exemplo para todos é o que tu és.

  2. Avatar António Santos Responder a António
    Quarta-feira, 20 Junho, 2012 às 11:28

    Belíssimo texto!

Leave a Reply Cancel reply

RSS

  • RSS - Posts
  • RSS - Comments
© Copyright 2020. Powered to capeiaarraiana.pt by BloomPixel.
loading Cancel
Post was not sent - check your email addresses!
Email check failed, please try again
Sorry, your blog cannot share posts by email.