O ser é insólito; é dentro de si, a ciência de ser é-lhe infusa, mas dela não possui consciência, porque, o que possui cons-ciência, já não é insólito puramente, pois, pela consciência, comunica com o outro que, próximo ou distante, se lhe apõe, expõe ou opõe.
A minha chegada ao Sabugal teve também um certo impacto nas Colegas, nas meninas. Esquisito, mas elas olhavam para mim com ar de quem via uma ave rara… Se calhar era porque viam sempre os mesmos rapazes da Vila, ano após ano. Eu era sangue novo naquela acalmia social!
Um destes dias de uma Primavera tardia que parece querer disfarça-se de Verão fui chamado, pela festa, a Castelo Mendo e tive oportunidade de me sentar em sítio propício à observação. Surgiu-me, assim, pretexto para contar e, o que a vista me ofereceu, levou–me a começar por «era uma vez…»

Os poetas, nas palavras de Erasmo, «formam uma raça independente, que constantemente se preocupa em seduzir os ouvidos dos loucos com coisas insignificantes e com fábulas ridículas. É espantoso que com tal proeza se julguem dignos da imortalidade». E continua: «esta espécie de homens, está, acima de tudo, ao serviço do Amor-Próprio e da Adulação». E dizia isto Erasmo, não por julgar a poesia um género literário menor, mas por saber que o mudo da poesia é o da adulação e da crítica elogiosa, com que de poetas medíocres, se fazem poetas da moda. (Parte 2 de 4.)