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Página Principal  /  A Minha Aldeia • Casteleiro  /  Casteleiro – uma história de espíritos de brincar
30 Abril 2012

Casteleiro – uma história de espíritos de brincar

Por José Carlos Mendes
José Carlos Mendes
A Minha Aldeia, Casteleiro josé carlos mendes, Teatro 3 Comentários

Era a brincar, mas ia saindo a sério. Um sapateiro do Casteleiro, meio com os copos, meio na paródia, tinha o hábito de fazer esse número de expulsar os diabos do corpo imaginário de uma vítima… Mas havia quem acreditasse e depois lhe pedisse mesmo que o fizesse a sério… e ele fazia.


O Ti’ Luís Pinto era sapateiro. Um homem muito bem disposto, muito alegre, dentro dos padrões de uma aldeia isolada dos idos de 50 – década de 50 do século XX: lá por alturas de 1950 e poucos.
Era uma pessoa cheia de problemas mas que os vencia por recurso a dois patamares de comportamento: por um lado, enfrascava-se nas tascas até mais não; por outro, de tudo fazia uma brincadeira.

A miudagem adorava passar lá uns minutos na sua lojita de sapateiro, a ouvir as histórias e as brincadeiras de alguém já velho (devia ter aí uns quarenta anos – velhíssimo).

Também fazia de «espírita»

A Praça era no Casteleiro desse tempo um dos largos mais frequentados, sobretudo aos domingos à hora de missa (cada um ficava na Praça pelas suas razões, mas da parte masculina de certeza que ver as beldades era razão suficiente). Nos dias de semana, a Praça também tinha gente, sobretudo ao fim da tarde.

A casa e sapataria do Ti’ Luís Pinto era a menos de 50 metros da Praça.
Como se sabe, nas aldeias desse tempo, ir à tasca beber um copo (um??) era o equivalente a ir tomar um café ali à esquina nos dias de hoje.

O Ti’ Luís Pinto também. E muito. E muitas vezes. E muitos copos.

Na paródia, em certas tardes talvez já bem bebidito (como era habitual), fazia teatro: imaginava um possesso do diabo ali mesmo e procedia ao exorcismo. Ou seja: a brincar, expulsava o demónio daquele corpo. E fazia isso com uma lenga-lenga por todos apreciada:

Foge daí,
Espírito mau.
Lagarto, lagartixa, lacrau.
Eu tenho aqui um pau.

(Batia três vezes com o pau no chão: Pum! Pum! Pum!)

Conforme entraste
P’rò corpo deste infeliz,
Assim hás-de sair,
Nem que seja pelo nariz.

(Pum! Pum! Pum!)

Com ossos de defunto,
Um bocado de presunto,
Cinco réis de mel coado,
Um paninho bem molhado,

Óleo de noz,
Borras de algeroz,
Azeitonas de cabrito,
Línguas de periquito,

Eu te afugento,
Rabugento,

Para onde não haja
Nem ar,
Nem rei nem roque,
Nem eira nem beira,

Nem pipas,
Nem batoque,
Nem gatas aluadas.

(Pum! Pum! Pum!)

O teatro da expulsão do diabo de um corpo ficava feito. Só que o Ti’ Luís Pinto começou a ganhar a fama… e sabemos como isso é contagioso nas aldeias.

Havia depois pessoas que à socapa lá iam a casa pedir-lhe o favor de expulsar o mafarrico que lhes tinha tomado conta do corpo. Ele tentava desmobilizar a coisa e dizia que era tudo uma brincadeira dele. Mas as pessoas insistiam.

Então, malandreco, o Ti’ Luís Pinto lá fazia o jeito. E parece que o trabalhinho era bem feito – pois nunca se ouviu falar de qualquer reclamação!

Nota
À falta de melhor, ilustra-se este texto com uma foto do Festival das Bruxas de Vilar de Perdizes.

:: ::
«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes

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José Carlos Mendes
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3 Comments

  1. Avatar Fernando Latote Responder a Fernando
    Quinta-feira, 3 Maio, 2012 às 8:57

    Conta-se também que esse tal “ti Barroco”, pedreiro de profissão, fumava muito… tabaco de enrolar….
    Um dia a mulher resmungava ao vê-lo fazer um cigarro:
    – “Rais parta os cigarros, assim se acabasse o tabaco duma vez”
    – Ó mulher, olha que eu bastantes faço e bem grossos…

    Doutra vez estava a trabalhar no fundo dum poço, a empedrar…
    Avisado pelos companheiros que chegavam “os secretas” (fiscais que controlavam o tabaco espanhol e a licença para uso de isqueiro) o ti Barroco engoliu o tabaco que trazia com ele.

  2. José Carlos Mendes José Carlos Mendes Responder a José
    Quarta-feira, 2 Maio, 2012 às 0:06

    Caro FL,
    Mas… lá nos Forcalhos a coisa parece-me bem mais sofisticada, com várias figuras de estilo à mistura, para lá da banal prosopopeia do Ti’ Luis Pinto do Casteleiro…
    Agora a sério: quem pensasse que o nosso Povo não se divertia há umas décadas, engana-se. Havia muita, mas muita malandrice. Muita gargalhada sonora e vejo muita ironia em quase todas as histórias de antanho…

  3. Avatar Fernando Latote Responder a Fernando
    Terça-feira, 1 Maio, 2012 às 19:57

    Amigo José Carlos as suas belas histórias trazem-me sempre à lembrança outras histórias que ouvia contar na minha terra…
    Falavam-me que em tempos também por lá havia um brincalhão que de tudo e todos troçava e arranjava maneira de arrancar gargalhadas aos mais sisudos.
    …Quando alguém desaparecia (perdido, por exemplo), ou desaparecia um animal, havia na terra alguém que sabia dizer, ou fazer o responso (uma espécie de reza ou oração, para recuperar o ser perdido,,,)
    Ora, certo dia, alguém aflito, porque lhe tinha escapado o burro há dois dias sem dar sinal de vida procurava alguém que soubesse responsar… e mandam a pessoa a casa do “ti Barroco”, o tal brincalhão…
    Eis o responso:
    Lobos e lobas do mato!!!(1)
    Que andais de rabo estendido
    Comei o burro do ti Dias
    Que por aí anda perdido.

    Se este responso não valer
    Burro do Diabo, não voltes a aparecer!

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