A escolha da personalidade do ano 2011 foi muito fácil e evidente. A silhueta de um nome destaca-se na paisagem raiana pelo mérito e reconhecimento que recebeu durante o ano que agora termina. Estamos a falar do poeta, escritor, jornalista e cronista Manuel António Pina. Quis o destino que este ilustre português, nascido em terras raianas do Sabugal, fosse galardoado, em 2011, com o Prémio Camões, a mais importante distinção para autores de língua portuguesa. «A vida é um rio que corre para a nascente», destacou Manuel António Pina, no Sabugal, na apresentação do seu mais recente livro «Como se desenha uma casa».
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Os homens temem as longas viagens,
os ladrões da estrada, as hospedarias,
e temem morrer em frios leitos
e ter sepultura em terra estranha.
Por isso os seus passos os levam
de regresso a casa
às veredas da infância,
ao velho portão em ruínas; à poeira
das primeiras, das únicas lágrimas…
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Manuel António Pina é a escolha (natural) do Capeia Arraiana para «Personalidade do Ano 2011».
O jornalista, cronista, escritor e poeta nasceu a 18 de Novembro de 1943 na vila do Sabugal, terra de origem da família materna enquanto o pai é oriundo de Aldeia Viçosa, no concelho da Guarda. Por força da profissão do pai, que tinha de mudar de serviço e de localidade cada seis anos, Manuel António Pina saiu do Sabugal ainda menino, precisamente aos seis anos de idade, passando a andar de terra em terra e de escola em escola. Do Sabugal foi para Castelo Branco, depois para a Sertã, Cernache de Bonjardim, Santarém, de novo Cernache do Bonjardim, Oliveira do Bairro, Aveiro e Porto, onde acabou por se fixar aos 17 anos. Entretanto licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra e dedicou-se à escrita e ao jornalismo.
Em 1971 ingressou no Jornal de Notícias onde foi editor e chefe de redacção. Actualmente publica diariamente na última página do diário portuense uma coluna de opinião com profundo sentido crítico sobre os grandes temas da actualidade nacional e internacional.
A sua obra, traduzida em várias línguas, divide-se entre a poesia, a literatura infanto-juvenil, o teatro, a crónica e a ficção. Autor de livros para a infância e juventude e de textos poéticos com um estilo único onde «brinca» com as palavras e os conceitos num permanente trocadilho aliado ao «jogo da imaginação».
O Prémio Camões, criado em 1989 por Portugal e pelo Brasil para distinguir um escritor cuja obra tenha contribuído para a projeção e reconhecimento da língua portuguesa, foi-lhe atribuído por unanimidade do júri hoje reunido no Rio de Janeiro.
«A decisão foi consensual e unânime, numa reunião que durou menos de meia hora», diz o comunicado do júri que atribuiu a Manuel António Pina o Prémio Camões, o maior galardão literário de língua portuguesa.
«É a coisa mais inesperada que poderia esperar. Nem sabia que estava hoje a ser discutida a atribuição do prémio», disse Manuel António Pina quando tomou conhecimento da atribuição do Prémio Camões.
O presidente da República, Cavaco Silva, felicitou o escritor Manuel António Pina pela atribuição do Prémio Camões 2011, principal distinção no meio literário lusófono. «A atribuição deste Prémio é o reconhecimento da relevância nacional e internacional que a sua obra representa na literatura em língua portuguesa e é, sem dúvida, um motivo de grande orgulho para todos os que apreciam a sua escrita», refere a mensagem de Cavaco Silva, também divulgada no site da Presidência da República. O chefe de Estado sublinhou que esta distinção «honra a literatura Portuguesa».
Em entrevista ao Capeia Arraiana, em Março de 2009, confessa que «a recordação mais antiga que tenho de mim mesmo é uma criança de dois ou três anos, de chapéu de palha na cabeça, ao pé de uma fonte, acho que uma fonte de mergulho, circular, num largo talvez em frente de minha casa.
Outra criança tira-me o chapéu da cabeça e atira-o à água. Eu – acho que sou eu essa criança – exijo-lhe que o vá buscar e mo devolva. O outro miúdo não o faz, e afasta-se rindo. Então, cheio de orgulho ferido, eu regresso a casa». Um pouco mais à frente acrescenta que todas as outras memórias que tem do Sabugal «são imagens confusas do passado, misturadas com sentimentos presentes de que falo em outros poemas: «Lugar» (de «O caminho de casa») «[Lugares da infância]» (de «Um sítio onde pousar a cabeça»), e ainda «O quarto cor-de-rosa» (sobre a casa onde nasci, que é hoje da mãe da Natália), «Branco», «Forma, só forma» e «Um casaquinho preto» (sobre o casaco, na verdade uma pequenina casaca de cerimónia, feita pela minha «ti Céu», que ainda tenho e que vesti aos dois ou três anos numa festa de Carnaval no Sabugal)».
«Nesta casa nasceu o escritor e jornalista Manuel António Pina», testemunha a placa colocada ao lado da porta da casa onde nasceu o ilustre sabugalense. A homenagem promovida pela Junta de Freguesia do Sabugal teve lugar no dia 4 de Abril de 2009. Os actos da homenagem a Manuel António Pina centraram-se no Auditório Municipal do Sabugal, onde teve lugar uma palestra de Arnaldo Saraiva e a peça de teatro do grupo portuense «Pé-de-Vento».
O programa incluiu, ainda, o descerrar de uma placa e visita à casa onde nasceu, troca de lembranças e oferta de livros do escritor à biblioteca municipal no salão nobre da Câmara do Sabugal, e a finalizar um porto de honra com uma mesa de luxo repleta de iguarias na Casa do Castelo.
Em 2010 a Câmara Municipal da Guarda, criou, em homenagem a Manuel António Pina, um prémio literário com o seu nome, que distinguirá anualmente, e de forma alternada, obras de poesia e de literatura. Ainda em homenagem ao escritor sabugalense realiza-se na Guarda um ciclo cultural repleto de actividades.
Galardões
– 1978 – Prémio de Poesia da Casa da Imprensa («Aquele que quer morrer»).
– 1987 – Prémio Gulbenkian.
– 1986/1987 – «O Inventão».
– 1988 – Menção do Júri do Prémio Europeu Pier Paolo Vergerio da Universidade de Pádua, Itália («O Inventão»).
– 1988 – Prémio do Centro Português para o Teatro para a Infância e Juventude (CPTIJ) (conjunto da obra infanto-juvenil).
– 1993 – Prémio Nacional de Crónica Press Club/ Clube de Jornalistas.
– 2002 – Prémio da Crítica, da Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos Literários («Atropelamento e fuga»).
– 2004 – Prémio de Crónica 2004 da Casa da Imprensa (crónicas publicadas na imprensa em 2004).
– 2004 – Prémio de Poesia Luís Miguel Nava 2003 (Os livros); 2005, Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores/CTT (Os Livros).
– 2011 – Prémio Camões.
José Carlos Lages
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