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12 Dezembro 2011

Casteleiro – Figuras típicas da minha meninice

Por José Carlos Mendes
José Carlos Mendes
A Minha Aldeia, Casteleiro figuras típicas, josé carlos mendes Deixar Comentário

Todas as terras têm aquelas figuras típicas que toda a gente conhece. Na maior parte dos casos por bons motivos. Às vezes, pelas más razões (também acontece). O Casteleiro não foge a essa regra. Trago-lhe aqui alguns desses tipos populares da minha aldeia de há 50 anos, com a minha homenagem a cada um deles.

Muitas pessoas me ficaram gravadas para sempre e recordo-as muitas vezes. Quando se é pequeno parece que as pessoas, os factos, as coisas ganham uma dimensão especial. E ficamos uma vida toda a ver como eram. Estas pessoas são figuras populares, são os nossos heróis de infância.

O médico da terra
O Sr. Narciso (meu tio por afinidade) foi uma das pessoas que mais marcou toda a minha infância, bem antes de ser da família. Foi com ele que sangrei a bom sangrar para arrancar os primeiros dentes. Eu e todos os miúdos. Era ele que nos ia ver a casa quando tínhamos sarampo, febre, dores de garganta, varicela… fosse o que fosse.

Era o curandeiro, o médico, o enfermeiro daquela aldeia. E o amigo de toda a gente.

Era um bom homem. Só para ele é que não. Era um bom malandro. Bebia tudo o que havia.

Foi também o barbeiro principal da terra durante décadas. Todos o conhecíamos. Todos gostávamos dele.

Sobre ele, que era de Alfaiates, arraiano de gema, contam-se histórias do arco-da-velha. Uma dessas passa-se em noite escura de breu. O nosso herói andava todo o dia fora de casa e ia a casa só para comer à pressa e regressar à taberna para a mesa de jogo que só largava por uns minutos enquanto comia e à pressa. Pois nessa noite, tinha havido obras e havia um grande buraco no Largo onde morava, mesmo defronte do agora Centro Cultural (na foto). A mulher, que já o conhecia distraído, deixa-lhe um candeeiro à janela (não havia ainda luz eléctrica). Ele, distraído mesmo, foi atraído pelo candeeiro e então é que não viu de facto o buraco e, claro, zás: cai lá dentro sem apelo nem agravo. Teve de ser ajudado para sair de lá. Mas nem isso o interrompeu: comeu, limpou-se e voltou para o Café, que a mesa de jogo não podia arrefecer.

Esta era a personalidade de um homem bom da minha meninice.

A primeira figura dos Carnavais
Nos dias de Carnaval, o t’ Zé Balbino e seu irmão eram únicos. Ainda hoje os recordamos. Travestiam-se, fazendo jus pleno àquela espécie de festa da maluqueira. O chefe daquela orquestra era sempre o t’ Zé Balbino.

Quando digo travestir-se era: roupa da mulher, a t’ Mari’Balbina, peitaça enorme (tipo previsão do silicone de hoje), lenço de mulher na cabeça, guarda-chuva bem estragado, com as varetas todas rebentadas, burra (coitada) todo o dia aparelhada e enfeitada a rigor (caldeiros velhos e tal) e a aturar-lhe as malandrices. O homem passava aquele santo dia a passear-se pelas ruas todas da aldeia – provocando risadas bem dispostas de toda a malta. Graúdos e pequenos, todos adoravam.

T’ Zé Balbino acho que merecia uma estátua ao bom humor e ao bom vinho (…), apesar dos apesares – que a vida de então não era nada para grandes alegrias. Mas o pessoal esquecia isso e defendia-se: era para isso que o homem se artilhava e se pavoneava.

Uma verdadeira figura típica. Nunca mais houve outra igual.

O poeta da terra
Neca Pinto: uma figura gravada no nosso imaginário. Filho do comerciante mais bem sucedido da terra, o Neca era um bom-vivant. Um boémio, sempre disposto a uma farra, um paleio com os amigos.
Quando chegou ali pelos 30, achou que tinha de escrever um livro. E escreveu. E publicou.

Eu tenho um exemplar, com dedicatória. Sou dos poucos que leram o «Nada do Meu Nada», livro de poemas minúsculos como se de uma escola poética miniaturista se tratasse. São cerca de 140 a 150 páginas, com 100 poemas de quatro a cinco linhas cada um (os maiores), com pensamentos do Neca sobre a vida em geral e as suas angústias da época em particular… Uma façanha claro, para a aldeia e para a época. Mas poucas pessoas chegaram a lê-lo…

Contam-se histórias radicais sobre ele.

Um dia, o meu pai vinha da estação da Guarda às 6 horas da manhã e, ao passar na estrada junto do lameiro enorme que existe à saída de Pega, pareceu-lhe ver a carrinha 4 L (Renault) mais famosa da zona: a do Neca.
Parou, foi lá ver. E era. Era mesmo a 4 L dele, ainda a trabalhar e lá dentro duas figuras típicas da minha aldeia: o Neca e outro compincha. Dormiam os dois a sono solto… e as rodas da frente, no ar, a rodar, a rodar…

O Neca ficou-nos a todos os adolescentes como que um herói desaparecido cedo demais.

Outra figura inesquecível dos meus anos de meninice.

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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes

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