Escrevo, hoje, do planalto arraiano, com vista, a perder de vista, para terras de Castela. O vento frio acaricia-nos o rosto, reconfortando-nos a alma. E liberto, sobre as suas asas, o pensamento.

Calcorreio as ruas da minha aldeia… desertas. E não evito uma sensação de angústia, muito mais do que saudade. Não há gente!
A Raia desertifica-se. Consequência dos tempos, para uns, inevitabilidade, para outros.
A verdade, é que Portugal sempre esteve desequilibrado no que respeita à distribuição da sua população. Em primeiro lugar, por razões históricas. A fundação deu-se a norte num tempo de reconquista. Esta razão levou a que a população se fixasse mais em zonas e regiões, longe da «fronteira» com os mouros. O povoamento do reino foi, por isso, uma preocupação dos nossos primeiros reis. A partir do séc. XV, com as descobertas, o mar torna-se pólo de atracção. As populações procuram fugir do campo (interior) e do ferrolho do feudalismo, procurando a sorte além – mar! Desde então, que o litoral se tornou mais habitado do que o interior.
A segunda metade do séc. XX foi, verdadeiramente, a sangria das gentes da raia! Entre os que migraram para os centros urbanos de Portugal, a maioria emigrava para terras de França, Alemanha… e por aí fora! A raia, num ápice, passava a ter uma diáspora semelhante aos que a habitavam. Nos últimos anos assistimos à partida de mais alguns. Não se nota tanto?! Pois não. Somos já tão poucos…
Contudo, a vontade, e esta espécie de cordão umbilical que nos une a estas terras, sempre foram demasiado fortes. Assim, fins – de – semana, férias e… sempre que se pode, abalava-se para cá!
Temo, que essas abaladas passarão a ser cada vez menos frequentes. A situação económica, o desemprego, as portagens… serão entraves à vontade. E quantas vezes não serão mesmo um soco no estômago! O facto, é que, a raia vai perder imenso com a mais controlada vinda dos seus às suas terras! Quer a nível económico, mas também, a nível social e, sobretudo, a nível humano!
Como não aceito fatalismos, e acredito que cada um de nós traça o seu próprio destino, estou convicto que esta situação é consequência de políticas erradas. Erradas desde o Poder Central. Que sempre só conseguiu ver o país até à saída dos ministérios. Portugal, nunca teve um plano de ordenamento do território sério. Tudo era e é feito através de compadrios e interesses particulares e, a maior parte deles obscuros. Erradas as do Poder Local que, nunca conseguiu pensar o concelho e sofre de miopia política.
Desconheço a existência de um plano de ordenamento estruturado e estruturante do concelho. Desconheço políticas que consigam ver mais longe que o imediato. E o imediato, são as intrigas e as tricas que se vão passando dentro da câmara e seus apêndices!
Culpados?! Somos todos. Porque votamos, porque não exigimos, porque assobiamos para o lado, porque somos amigos, porque… enfim!
Com os tempos conturbados que atravessamos, mais do que nunca, é necessário planear bem o caminho que queremos seguir. O contrário é o definhar anunciado da Raia.
Meto mais um ratcho ao lume e beberico mais uma jeropiga da nossa! E, por instantes, reconforto-me com o calor e o adocicado néctar. Esqueço a crise e o mundo e sinto-me um privilegiado por ser de e estar aqui.
Mas as nuvens tempestuosas ameaçam. O Orçamento de Estado que, antes de ser apresentado já estava aprovado, traça um rumo de miséria para o povo português. Se a ideia era, a de nos aproximarmos do nível de vida dos outros povos da Europa, a prática mostra que nos estamos afastar. Estamos cada vez mais longe! Este orçamento apresenta somente aumentos na receita (impostos) e nada, ou quase nada, na despesa. Verdadeiramente vai aos bolsos dos que menos têm, fazendo de conta que os que mais têm não existem. A sumptuosidade dos gastos supérfluos do estado e dos seus comensais são intocáveis!
Está aí a greve geral. Direito consagrado na Constituição Portuguesa (Artigo 57, 1). Assusta-me o ruído (e, de certa forma, até coação) que têm feito as associações patronais (governo incluído) contra greve. Os argumentos usados são confrangedores. Para alguns, que jeito dava, isto não ser uma democracia!
… Sirvo mais uma jeropiga e meto mais uns ratchos ao lume… Saio à rua, e penso que devíamos cobrar por este ar!
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«A Quinta Quina», opinião de Fernando Lopes
Concordo. E para além de cobrarmos pelo nosso ar deviamos até pensar em exportá-lo. Sempre iamos buscar mais algum em subsídos.
Boa, Prof. Fernando.
fogo… não dês ideias… já nos levaram tudo… por enquanto o ar ainda não pagamos!