Há momentos na vida que esta devia fazer uma paragem, por diversos circunstancialismos. Assistir ao funeral do Padre Mário, no Fundão devia ser um desses momentos, mas é assim este ciclo. Senti-me comovido, emocionado e no final das cerimónias fúnebres um grande vazio.
Cedo entrei na Igreja Matriz do Fundão, depois de apresentar condolências, foi sentar-me no último banco daquele templo. Iniciou-se a recitação do terço, tendo como dinamizador o Bispo Emérito da Guarda – D. António dos Santos, que acompanhei, todos os presentes acompanharam, enchendo-me a alma ao ver esta atitude de um ex-representante da Diocese. Respirava-se um grande silêncio.
Entretanto um grupo de Irmãos da Santa Casa da Misericórdia, faz uma vigilância junto dos restos mortais do Padre Mário. A hora da Eucaristia rapidamente chegou. Pela coxia central da Igreja avançava o cortejo de mais de cinquenta sacerdotes, dois diáconos sendo encerrado pelos Bispos D. Manuel Felício e D. António dos Santos. Observei no rosto do Bispo da Guarda dor e tristeza. Enquanto se deslocavam para o altar, o Grupo Coral, sob a batuta do Maestro Geada entoava o cântico da aleluia, seguida do salmo: «os que temem o Senhor é grande a sua misericórdia e vinde benditos do meu Pai, receber a herança do meu Pai».
Os Bombeiros Voluntários do Fundão faziam a guarda de honra a um dos seus homens que há vinte e cinco anos os acompanhou como capelão, como assistente religioso.
A primeira leitura é feita pelo Presidente da Câmara Municipal do Fundão, aliás todo o executivo ali estava presente. O Diácono Francisco Lambelho fez a leitura do Evangelho de São João.
D. Manuel Felício tomou a palavra e dirigiu-se aos inúmeros assistentes. A sua intervenção sintetiza-se numa frase: «O Cónego Mário foi um grande modelo de virtudes humanas e sacerdotais.»
Realçou as diversas instituições em que o Cónego Mário se dedicou de alma e coração. Deixou-nos um testamento espiritual e humano. Contando com Jesus Cristo Ressuscitado, viveu dando-se ao serviço dos outros. Viveu com paixão a sua vocação sacerdotal. Viveu sessenta e um anos de sacerdócio em diversos serviços. A maior parte do tempo passou-o no Fundão, a sua terra adoptiva e que pediu para aqui ser sepultado. Viveu com grande amor ao Seminário onde desempenhou diversas actividades. Louvemos o Senhor por este sacerdote que teve a capacidade de dar, de ajudar, da sua prudência, do bom conselheiro, com ajuda preciosa para a Diocese da Guarda.
Todos precisamos da misericórdia de Deus e vamos pedi-la. Na fé ganha-se não se perde. Esta é a verdade de que o Cónego Mário vai continuar no meio de nós.
A Oração dos Fiéis foi concretizada pelo Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Fundão, de quem o Padre Mário era o Presidente da Assembleia Geral.
A oração dos Fiéis Defuntos foi feita pelo actual Reitor do Seminário do Fundão, que pronunciou o nome completo do Padre Mário de Almeida Gonçalves, pedindo a misericórdia divina à sua alma.
No final das Cerimónias Religiosas, o Presidente da Associação dos Antigos Alunos dos Seminários do Fundão e Guarda, que traçou o percurso do Padre Mário, que também pronunciou o seu nome completo, principalmente na Associação e na missão dos Bombeiros, salientando algumas frases chaves que durante alguns anos lhes dirigiu.
Terminou recitando um poema recolhido do seu bloco de notas: «Tenho uma viagem marcada / Quando a faço, não sei / Do que tenho, não levo nada / Só levo o que dei.»
Transcrevo as palavras que meu irmão me mandou como comentário ao artigo que lhe enviei sobre o Padre Mário: «Há mortos que vivem todos os dias vivos e há vivos que estão mortos todos os dias.»
O Padre Mário de Almeida Gonçalves está sempre vivo.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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