• O Primeiro
  • A Cidade e as Terras
  • Contraponto
  • Cronistas
  • Documentários
  • Ficção
  • História
  • Personalidade Ano
  • Ficha Técnica

Menu
  • O Primeiro
  • A Cidade e as Terras
  • Contraponto
  • Cronistas
  • Documentários
  • Ficção
  • História
  • Personalidade Ano
  • Ficha Técnica
Página Principal  /  Terras do Jarmelo  /  É no mar que a chuva descansa!
23 Novembro 2011

É no mar que a chuva descansa!

Por Fernando Capelo
Fernando Capelo
Terras do Jarmelo chuva, fernando capelo, mar 6 Comentários

Cultivo, desde garoto, este gosto, aparentemente alheado, de ver cair a chuva, de a acompanhar no seu encontro com o mundo, com as casas, as árvores e os solos. Gosto de lhes seguir o caminho por valetas e regueiros, de assistir à formação dos charcos, de observar o escorregar das gotas em desenhos rendilhados nos vidros das janelas.

Na região raiana somos da chuva que molha e encharca

Vejo-me, frequentemente, espreitando a chuva, insinuando, perante mim próprio, que a não quero pelo incómodo mas, desejando-a num desejo íntimo, na esperança de um secreto prazer.

Aqui, no nosso Interior, somos da chuva que molha e encharca, somos do frio que a enrijece, que a solidifica, que a branqueia, somos do vento que a empurra e eu sou dos que, secretamente, amam a chuva!

Gosto de sair à rua, ainda que chova, e corro como se a chuva corresse atrás de mim. Ainda que me molhe o corpo e este me estremeça em arrepios de frio e humidade confesso que, mesmo assim, a chuva não me desgosta. Se for muita procuro abrigo como quem procura refugio. Depois de homiziado, observo e vaticino quantidades, oportunidades e friezas.

Entrando em casa gosto de lançar olhares pela janela e de iniciar o prazer de uma contemplação superficial mas demorada. São olhares que me instruem o espírito. Não me importo, portanto, de demorar os meus olhos pelas imagens da chuva tão sedutoras e tão naturais. E, se for final de tarde, se o início da noite se mantiver tempestuoso posso não ousar sair para enfrentar ventos ou tempestades e optar por apenas escutar, por apenas observar. Gosto de apreciar discreta mas interessadamente a chuva. Se a escuridão da noite me impedir de a ver, ouvir-lhe-ei o cantar tamborilado e escutar-lhe-ei o correr escorregadio. Pressentir-lhe-ei o desejo de me visitar tentando entrar pelo telhado ou insistindo contra a janela transparente e impeditiva.

Assim me fala a chuva, lá de fora, a mim que já estou de dentro!

É nessa altura que ela me surge mais enigmática. Tento, então, adivinhar-lhe os locais de longínqua origem, os sítios onde se formaram as nuvens. Imagino o final dos regatos, o desaguar das ribeiras, o chegar das águas aos grandes rios que enchem o infindável mar.

Para mim o mar é feito de muita chuva e sempre será infinito, sempre será longínquo ainda que alguma vez esteja próximo.

Mesmo que visto e revisto o mar será sempre da minha imaginação e sempre será misterioso.

E é, lá, no mar, que a chuva descansa!

:: ::
«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo

Partilhar:

  • Tweet
  • Email
  • Print
Fernando Capelo
Fernando Capelo

Origens: Jarmelo (Guarda) :: :: Crónica: Terras do Jarmelo :: ::

 Artigo Anterior «Na rota das pedras» de Célio Rolinho Pires
Artigo Seguinte   Matosinhos homenageia Manuel António Pina

Artigos relacionados

  • Estranha realidade

    Quarta-feira, 13 Janeiro, 2021
  • Um feliz 2021

    Quarta-feira, 30 Dezembro, 2020
  • Dezembro – tédio ou inspiração?

    Quarta-feira, 9 Dezembro, 2020

6 Comments

  1. Avatar Mena Martins Responder a Mena
    Sexta-feira, 25 Novembro, 2011 às 8:47

    Que bela descrição da chuva , e que final tão poético!!!
    eu também gosto de ouvir a chuva bater contra a vidraça ou sentír como cai sobre o telhado ….mas já isso de andar à chuva .é que no me atrai tanto …mas depois de ler até fiquei com vontade de apanhar uma chuvada e saltar os charcos que se formam nas ruas esburacadas ……obrigada por mais uma vez deleitar-me com com a tua escrita …..espero ansiosa o proximo ….

  2. Avatar Teresa Duarte Reis Responder a Teresa
    Quinta-feira, 24 Novembro, 2011 às 14:44

    E que maravilha:…”
    é la, no mar, que a chuva descansa…”

  3. Avatar Teresa Duarte Reis Responder a Teresa
    Quinta-feira, 24 Novembro, 2011 às 14:40

    O Sr. Fernando Capelo tem alma de poeta. Gosto de ler o que escreve, como se a magia das palavras me enevoassem os olhos, num desaforo de sentimentos que nos vão invadindo a alma…
    Obrigada Sr.Capelo.

  4. Fernando Capelo fernando capelo Responder a fernando
    Quinta-feira, 24 Novembro, 2011 às 10:00

    Se a vida é como é, apesar da poesia … como seria sem ela?!!

  5. Avatar Alzira Guedes Responder a Alzira
    Quinta-feira, 24 Novembro, 2011 às 0:49

    É como a chuva,
    O amor.
    Cai na aridez dos nossos corações,
    Em grossas bátegas
    Ou
    De mansinho.

    Corre depois,
    Pelos bueiros da vida,
    Engrossa os caudais da ilusão,
    Desagua calmo,
    Num mar de beijos e abraços;

    E navegando
    Em sulcos de espuma branca,
    Na cama de sargaços

    É paixão.

  6. Avatar Antonio Emidio Responder a Antonio
    Quarta-feira, 23 Novembro, 2011 às 11:13

    Amigo Capêlo:

    Vai até à janela numa noite em que a chuva bata com força na vidraça. Pensa na vida e na morte, imagina-lhes a origem e o fim, verás que também são dois enigmas.

Leave a Reply Cancel reply

RSS

  • RSS - Posts
  • RSS - Comments
© Copyright 2020. Powered to capeiaarraiana.pt by BloomPixel.
loading Cancel
Post was not sent - check your email addresses!
Email check failed, please try again
Sorry, your blog cannot share posts by email.