«Pelo S. Martinho vai à Adega e prova o Vinho» – adágio popular.
Este é a sexta homilia que faço relacionada com este Santo, Padroeiro do Fundão, mas principalmente com o Vinho. Hesitei se o devia fazer nestes tempos de crises económicas, de valores, éticas, mas como não cobro honorários por este serviço, não serei atingido por qualquer imposto. Tenho só um receio é se aquele ministro de falas mansas, a lembrar um cordeirinho, vá a qualquer TV pública ou privada a anunciar mais um imposto a quem faz publicidade ao vinho. É possível que aquela calma sonora a aprendeu nos balidos dos rebanhos de Manteigas. Também havia lobos e ouvi-os muitas vezes naquelas zonas serranas. Nestes últimos tempos terá havido alguma transumância. Como alguém escreveu «ele é o GPS do Governo». Parece um daqueles actores alemães refugiados nos Estados Unidos que faziam sempre de espiões soviéticos, nos filmes da Guerra Fria. Mansinhos, mansinhos, mas com o veneno na ponta das botas.
Caros Irmãos, segundo investigações arqueológicas, há mais de cinco séculos que a China cultiva a vinha. Passou a estender-se por todo mundo conhecido da época, como hoje fazem os seus comerciantes, com lojas abertas isentas de horários e impostos por todas as esquinas como antigamente as nossas tabernas e agora as nossas universidades. Aqueles estão a atirar para o empobrecimento e a desgraça os nossos pequenos retalhistas e até já os ciganos, vendedores ambulantes se queixam, estão a fazer-lhe desleal concorrência.
Com a histórica vinícola da China, verificamos que a Humanidade há mais de cinco mil anos anda a apanhar bebedeiras. É obra…
Caros Irmãos, na Sagrada Escritura, no Livro do Génesis, Noé também cultivou a vinha e bebia bom vinho. Não está confirmado oficialmente, mas dizem as más línguas, que à socapa levou para a sua Arca, uma grande pipa de vinho.
Rezam as crónicas recolhidas da mitologia grega que Dionísio era o Deus do Vinho.
O Povo Romano também plantava e fazia o néctar dos deuses, escolhendo-lhe o nome de Baco. O simbolismo da Adega Cooperativa do Fundão é a imitação de uma estatueta romana encontrada em Castelo Novo, representando alguém com um cesto de uvas à cabeça.
Caros Irmãos, no Evangelho de S. João 2, 1-12, há a descrição do Primeiro Milagre de Jesus Cristo, como o sinal do Reino de Deus. Aconteceu nas Bodas de Caná, na Galileia, para as quais Ele, sua Mãe e os Discípulos foram convidados. Um caso insólito, faltou o vinho. Sua Mãe, apelou ao Seu Filho, para tentar resolver o problema. E o Senhor mandou encher as talhas com água e transformo-a em bom vinho, melhor que o primeiro servido. Em Portugal também muitos taberneiros imitam muito mal aquele milagre, deitando água no vinho.
Carlos Irmãos, não é por acaso que o vinho inspirou santos, poetas, artistas e fadistas.
S. Francisco Xavier, o Grande Missionário do Oriente, em 1514, ofertou ao Rei do Japão, garrafas de bom vinho da cepa portuguesa.
Eugénio de Andrade, grande poeta português escreveu, «…a embriaguez é o leite entornado das estrelas».
O meu conterrâneo e parente Manuel Leal Freire, grande poeta, escritor, etnógrafo, jornalista, escreve, «…mais vinho, que é sangue eterno, / Mais vinho, que faço eu. / Ai se o vinho leva ao Inferno, / Primeiro nos mostra o Céu.»
Caros Irmãos, há muitas qualidades de vinho. O da Sabedoria, que inspira poetas, artista e intelectuais. O do Amor, que dá cá um entusiasmo nas aventuras amorosas… O de todos os dias, que nos dá força e alento em todas as horas de trabalho, às vezes funcionando como um verdadeiro doping. E o Vinho da Morte, que se bebe em excesso, nos leva à cirrose, à morte na estrada, no trabalho, em casa arruinando o bem-estar da família, destruindo-a…
Caros Irmãos, tendes a liberdade democrática de vos embebedar, de beber até cair. Mas, Irmãos, cuidado com as consequências. Não espereis por milagres, assumi as vossas responsabilidades. Ao soprar no balão podeis ir para a prisão. Não vos queixais, porque multas pagais e sem carta de condução ficais.
Caros Irmãos, festejemos o S. Martinho com bom vinho que bebido com moderação, faz bem ao coração, principalmente o tinto da Adega Cooperativa do Fundão. É cá uma pomada…
Se não me ouviste Caros Irmãos, irei pregar para outra Paróquia. Que S. Martinho nos dê a suas bênções e bom vinho. Assim seja. Amém.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes