Séneca foi um filósofo hispano-romano (4 a.C. – 65 d.C.) que se destacou pelas suas obras sobre moral. Foi um dos expoentes do estoicismo (que comporta a ataraxia – tranquilidade de espírito). Ao ler a sua obra Epístolas morais a Lucílio, na Carta XIII – Da valentia que deve ter o sábio – lembrei-me da apreensão com que todos nós portugueses estamos em relação à crise económica e à destruição moral da nossa sociedade, onde gente de baixo estofo humano e ético sairá vencedora. Vamos ficar com as palavras de Séneca a Lucílio, são uma espécie de conforto e esperança.

Mais numerosas são Lucílio, as coisas que nos assustam que as que verdadeiramente nos atormentam, pois muitas vezes faz-nos sofrer mais a apreensão do que a realidade.
Há coisas que nos angustiam mais do que o devido, e há-as que nos angustiam sem absolutamente nenhuma razão.
…ou nos atormentamos pelas coisas presentes ou pelas futuras, ou por umas ou por outras. Pelo que se refere às presentes, o juízo é fácil: se o teu corpo goza de liberdade e de saúde e não sentes o aguilhão da injúria, já veremos o que acontece amanhã, pois hoje não sentimos nenhuma inquietação. «Mas chegará». Primeiro examina se são certos os indícios do mal que tem que vir, pois muitas vezes sofremos de opressões, enganados pelo boato, que na maior parte das vezes destrói exércitos, quanto mais um simples individuo.
Não sei que sucede, mas os males quiméricos alarmam mais, talvez porque os verdadeiros têm medida. Tudo quanto provém do incerto fica à mercê de conjecturas e fantasias de alma atemorizada.
…quantos males caíram sobre nós sem que os esperássemos! Quantos que eram esperados nunca chegaram! E ainda que um mal venha, não vejo porque é preciso que vamos ao seu encontro? Quando chegar dás conta dele…Numerosos acontecimentos podem determinar que o perigo mais próximo, o mais iminente, se detenha ou cesse, ou vá cair sobre outro: um incêndio abriu passo à fuga, o desabar de uma casa deixou alguns suavemente em terra, a faca retirou-se algumas vezes quando já roçava a garganta, houve quem tivesse sobrevivido a um verdugo. Também o infortúnio é volúvel. Talvez seja, talvez não seja: mas de momento não é.
…muitas coisas temidas se desvanecem, e que muitas coisas esperadas decepcionam. Pondera pois, a esperança e o medo, e sempre que o resultado seja duvidoso, inclina-te ao mais favorável, crê naquilo que preferes.
Não te esqueças que a maioria dos mortais, quando não padecem desgraça alguma nem nenhuma cegueira ou ameaça, atormentam-se agitam-se.
Para terminar direi que li num jornal a seguinte noticia: «Mais amigos no Facebook é igual a cérebro maior.» Vamos ver o que Séneca diz sobre a amizade: «Mencionar-te-ei muitos que nunca tiveram falta de amigos, senão de amizade.»
Querido(a) leitor(a), pode-se ser antigo sem se ser necessariamente antiquado. Quer um exemplo? A lei da gravidade é muito antiga, mas não está antiquada.
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«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio
Nabais, se o poder assentasse na sabedoria o mundo seria diferente, incomparavelmente diferente e melhor . Mas essa de ter muitos amigos e pouca amizade dá que pensar!!! Ainda bem que tenho alguns e… sei o que tenho.