«A História é émula do tempo, repositório dos factos, testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro», Miguel de Cervantes, in «D. Quijote».
Hoje tomo a liberdade de escrever sobre história. Ao ler o comentário fantástico, porque útil e sábio, que o mestre Manuel Freire Leal deixou no meu último texto, tomei a liberdade – como dizia – de expressar um certo ponto de vista. Talvez mais, a partilha de uma opinião. E estas não passam, em último caso, de meras hipóteses!
O que todos sabemos, e dizemos, é que a história é a ciência que estuda o homem. Assim de simples! O que quase nunca pensamos é como ou quem monta os factos da história! Como se encadeiam os factos, ou quem os montou!
Os dicionários apresentam um rol de significados para a palavra «história» – o que demonstra a riqueza desta língua lusa e que alguns tanto tentam desprezar e humilhar! – mas, atendamos a dois: «narração critica e pormenorizada de factos sociais, políticos, económicos, militares, culturais e religiosos, que fazem parte do passado», e ainda, «ramo do conhecimento que se ocupa do estudo do passado, da sua análise e interpretação». Pego em duas expressões retiradas destes dois significados da palavra história: «narração crítica» e «análise e interpretação». A história é feita pelos homens e contada pelos homens! A história é sempre um reflexo da época, do paradigma, em que se constrói. Desta forma, a visão que nos é apresentada dos factos (repito: dos factos) é sempre, não o facto, diria cru, despido, mas a sua interpretação, analisado e criticado.
A história, de sua origem grega (sempre os gregos!), significa «pesquisar», «conhecimento advindo da investigação». Implicando um trabalho árduo de investigação, de estudo, mas no final, sempre, uma análise crítica. E, por mais que o historiador tente ser imparcial, deixará sempre um «explicação» pessoal.
Tudo isto a propósito de os manuais escolares de História apresentarem a «fórmula» de Salazar resolver os problemas financeiros de Portugal nos finais da década de 20 do século passado e, há intervenção e correcção dessa mesma «fórmula», do mestre Manuel Freire Leal!
Não é pouco!
Pois a manipulação da história leva a uma visão distorcida do passado, enviusando o presente, cegando o futuro. Mas essa manipulação existe, porque a construção da história serve sempre outros interesses – e não significa que sejam interesses maléficos! Por exemplo, a nossa história, a montagem da nossa história, foi extremamente influenciada pelo romantismo e pelos nacionalismos do séc. XIX. A época proporcionava uma visão gloriosa dos feitos, das vitórias. Apelava à pátria (vide A Portuguesa, o hino nacional, escrito nos finais do séc. XIX, aquando do ultimato inglês), ao orgulho de ser português. Esta mesma visão foi, depois, aperfeiçoada pelo Estado Novo.
É, ainda muito, esta a visão da história que os manuais escolares transportam.
A opinião que quero partilhar convosco, é a de que devemos olhar para a história com espírito crítico. Questionando-a. Contribuindo para que ela seja mais transparente, de forma a que, as lições, se as há a tirar, sejam claras e não tendenciosas. No campo da história, acredito que é preciso alterar o paradigma.
Termino citando Cícero, «a História é a mestra da vida».
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«A Quinta Quina», opinião de Fernando Lopes
Sem dúvida, « a História é a mestra da vida ». E da mesma maneira que o homem muda sem deixar de ser ele mesmo, assim a história avança sem deixar atrás o passado. Conhecê-la, é prever um pouco do futuro, e compreender o que se passa no presente.