Aceitei o desafio de escrever um texto semanal neste blogue numa daquelas tardes quentes de Verão e em que «el roedo quemava» na principal das capeias arraianas – o festival «ó forcão rapazes» na praça de touros de Aldeia da Ponte. Portanto, o ambiente em que todos somos arraianos, os de lá e os de cá, dessa princesa de ribeira que é a Côa ou príncipe rio Côa!

Foi nessas imensas tertúlias fugazes, algumas, outras mais longas, que o desafio me foi lançado. Pois bem, aqui estou.
Para não fugir dessa tarde de Agosto, falo-vos do que são as sensações e emoções que percorrem os seres daqueles rapazes que pegam ao forcão. E como vamos falar de sensações e emoções, obviamente, que as palavras são minhas! É uma visão subjectiva, pessoal. Minha.
Não tenciono fazer história, nem escrever uma crónica desde os tempos em que se começa a pegar ao forcão… Mas pela adolescência dá-se (ou dava-se!) a iniciação. A palavra aqui não é inocente! O pegar ao forcão representa uma certa iniciação. O adolescente/jovem apresentava-se perante a comunidade. Participava em pleno na festa, na tradição… Pois a capeia é, verdadeiramente, a actividade plenamente comunitária! Mas este é outro assunto… Dizia eu, que se começava a pegar pela adolescência, primeiro temerariamente… mas o sangue ferve e… lá estamos nós a mais um.
Depois… bem, depois afeiçoamo-nos. E torna-se quase um vicio. Pois o sangue ferve!
Reparem que pega-se, quase sempre, no mesmo sitio: à galha, em segundo, terceiro… ao rabicho (rabião n’algumas terras), no meio… temos um lugar!
E esta é uma das importantes sensações, o lugar não nos pertence, nós pertencemos àquele lugar!
Outra das sensações e emoção é o facto de, quando se pega ao forcão, deixamos de ser um para nos diluirmos com todos os outros que estão a pegar! A ideia de todos nos tornarmos um. Transformar as partes num todo, o forcão como um bloco. Dirão que isto é óbvio. Claro! Mas é importante constatar o que o torna uno: a confiança. Cada um confia no outro! Por vezes, consegue-se sentir o que os outros estão a sentir!…
Agora que já estamos no nosso lugar, agarrados ao forcão, e se abrem as portas do curro… É tempo de vos falar do medo, do receio, do que lhe quiserem chamar! O medo é o que nos mantém alerta e nos dá alguma lucidez e… até coragem! O medo aparece nesse instante, em que se levanta o forcão e se abrem aquelas portas! São segundos, fracções de segundos, até aparecerem os cornos do touro! Nesses instantes, incrivelmente, é como se houvesse um silêncio absoluto na praça e, esta estivesse, também ela em suspense. Diria, que o filme da nossa vida nos passa pela frente num instante! Ninguém fala. A adrenalina está nos níveis máximos.
…As portas do curro abrem, o touro aparece na arena como um relâmpago e, ainda que as vozes se comecem a ouvir, ainda falta o momento em que tudo flui e se esvai, também ele, num instante! Esse momento acontece com a primeira pancada no forcão! É aí, nesse instante, que toda adrenalina, o medo, a tensão, a dor e a felicidade… se unem num estrondoso berro de alivio!
Claro que não termina aí o desfiar das sensações. Elas estão ligadas ao touro. À sua forma de investir, ao seu comportamento. Quanto ao forcão, deve tornar-se o mais possível numa dança, em que os passos de desenrolam com suavidade e de forma natural. E quanto mais o touro investe, mais confortáveis nos sentimos. Emocionalmente, esquecemos tudo o resto. Ali, só somos nós e o touro. E será sempre este – o touro – o dínamo de todas as emoções!
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«A Quinta Quina», opinião de Fernando Lopes
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Fernando Lopes, natural de Aldeia da Ponte, licenciado em Filosofia, inicia hoje uma colaboração regular no Capeia Arraiana. Bem-vindo Fernando Lopes!
jcl e plb
Á laia de cumprimento deixo aqui um poema de LORCA – EL CAFÉ DE CHINITAS, transposto para ALAMEDILHA – DEL CHOPO, segundo uns, DEL AZABA, segundo outros:
EN EL CAFÉ DE CHINITAS
DIJO PAQUITO A SU HERMANO
SOY MÁS VALIENTE QUE TU
MÁS TORERO Y MÁS GITANO
LE CONTESTÓ EL HERMANO
EL JUANITO LIJERO
SOY MÁS VALIENTE QUE TU
MÁS GITANO Y MÁS TORERO
SACÓ PAQUITO EL RELÓ
Y DIJO DE ESTA MANERA
ESTE TORO HÁ DE MORIR
ANTES DE LAS CUATRO Y MEDIA
AL DAR LAS CUATRO EN LA CALLE
SE SALIERAN DEL CAFÉ
Y ERA PAQUITO EN LA CALLE
UN TORERO DE CARTEL
Obrigado… pela força!
Parabéns, que este seja um artigo semanal de sucesso, e onde os raianos possam rever-se no texto.
Parabéns Lopes por teres aceite este “desafio”! Um raiano a falar de forcão e capeia, é sempre muito agradável!
gostei…
Gostei do que li, particularmente da linguagem (e do espírito) com que um tema tão batido e rebatido foi abordado.
Com curiosidade, aguardo o compromisso semanal assumido com este blog.
victor coelho
Muito bonito!
Parabéns Fernando
José Portela / Aldeia do Bispo
Muito bom texto, eu pego ao forcão e é esse sentimento que aqui em cima traduzido por palavras. Está muito bem traduzido, no entanto quem pega ao forcão sabe que esse sentimento por mais palavras que se usem nunca chegam para o explicar. Pegar ao forcão é um sentimento único!!!