Embora esta crónica não esteja relacionada, directamente, com o concelho de Sabugal, não poderia deixar de a transmitir aos leitores do blog, uma vez que se trata de um facto verdadeiramente digno de nota.

Trata-se de um concerto da Brigada Victor Jara, a que assisti, na Festa do Avante. Estávamos a 9 de Setembro de 1983.
Lá fui eu, o meu irmão e o Mestre Fernando Fernandes (aquele que produz obras de arte em ferro) à Festa do Avante. Na época a festa tinha lugar no Alto da Ajuda, em Lisboa.
Começámos por ver/ouvir a Judy Collins, os checos Olympik e, num palco pequenino, uns holandeses a tocarem e cantarem a «Grândola». Depois ainda vimos os «Cossacos de Kuban», um grupo da URSS que cantou o «Vira», em português.
Vimos a Brigada Victor Jara num palco pequeno e, mais tarde fomos para um dos palcos grandes, que ficava de costas para a Torre de Belém.
Nesse palco começaram por actuar os Roquivários («Cristina, não vais levar a mal, mas beleza é fundamental») e, talvez por erro da organização, seguiu-se a Brigada Victor Jara.
Não digo nada… Aquele público era constituído quase exclusivamente por alucinados… Tudo malta nova, só freaks, punks e assim … Muitos, muitos, uma multidão enorme… Tudo sentado… O local onde o público presenciava os concertos era tipo anfiteatro. Encontrei lá um rapaz que andou a estudar comigo no Sabugal, de Vale da Senhora da Póvoa (Penamacor), todo alucinado, também. Lembro-me de um outro com um capacete branco da Polícia Militar e muitos outros assim com esse estilo.
Tudo a queimar muitos fumos, um ambiente altamente explosivo. Antes, ainda passámos perto dos bastidores e o Mestre Fernando conhecia o baterista da Go Graal Blues Band que era o Márito de Vale de Espinho e tinha tocado, antes, nos Spartak’s, o mais famoso conjunto dos anos 70, da Guarda. O Márito convidou o Mestre Fernando e quem o acompanhava a aparecer nos bastidores, onde havia comida à disposição.
Acabámos por não aparecer nos bastidores.
A seguir aos Roquivários a organização resolveu meter a Brigada Victor Jara, no palco. Aquele público queria era Rock. Estava tudo, mesmo, à espera da Go Graal Blues Band, com o Paulo Gonzo a cantar.
Começaram a atirar pedras à Brigada e, passadas duas músicas, a banda pára. Um dos músicos da Brigada Victor Jara vai ao microfone, manda umas bocas («a Festa do Avante não se faz com pedrinhas, isto dá muito trabalho») e a maioria do público continuava na mesma: ruidoso e a não ligar à música da Brigada Victor Jara.
Até que aparece alguém da organização no palco, que vai ao microfone e anuncia «Ou páram de ter esse comportamento, ou cancelamos o concerto da Go Graal Blues Band!!» A coisa lá acalmou e a Brigada conseguiu terminar o concerto. O concerto da Go Graal foi mesmo a loucura. O público presente estava nas suas «sete quintas». Mas, não há dúvida, que colocar a Brigada ali foi mesmo um erro de «casting».
Bastante exótico…
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«Memória, Memórias…», crónica de João Aristides Duarte
(Membro da Assembleia Municipal do Sabugal)
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