Hoje o Casteleiro terá à volta de 400 e poucos habitantes. Há 10 anos tinha 504. Mas em meados do século XVIII tinha 525. Uma realidade no mínimo digna de nota. Essa e muitas outras informações constam de documentos de que tive conhecimento recentemente.
Estava-se em Abril de 1758. Os serviços da Monarquia orientados pelo Marquês de Pombal fizeram uma impressionante recolha de dados sobre as terras e as gentes de todo o País. As informações sobre o Casteleiro são muito interessantes. Constam das «Memórias Paroquiais do Castelleyro». Assina o Relatório o pároco da terra: «Manuel Pires Leal, Cura deste dito lugar».
Trago aqui alguns desses dados que considero de maior interesse para o leitor do «Capeia».
Demografia – Número de casas: 152. Habitantes: 525. Destes, 103 eram crianças muito pequenas «que ainda não se confessam» – presumo que isso significa: crianças com menos de 7 anos.
Geografia – O Casteleiro «está fundado num vale». As respostas do Cura dão imenso relevo a duas serras (Opa e Preza) – esquece a Serra da Vila, vá-se lá saber porquê – e, sobretudo, às linhas de água (uma ribeira calma e três ribeiros agitados: «A ribeira em si corre quieta mas os tais ribeiros que nela se metem correm algo tanto arrebatados»). Esta insistência nas linhas de água, quanto a mim, deve ser relacionada com a importância da água na alimentação e na produção agrícola. Outra questão relevante do ponto de vista do clima: eis uma frase que é um mimo e julgo digna de registo sobre as ditas serras: «O temperamento destas duas serras acima declaradas é frio mas saudável».
Economia – Deduzo das várias páginas de respostas do Padre Leal ao Marquês que o Casteleiro era um ninho de produtores de cereal / centeio. Nas encostas e nas baixas, longe e perto das casas: o autor das respostas refere repetidamente a produção de centeio. Pela alongada descrição das ribeiras e ribeiros, penso que toda a produção agrícola da época e da região seria muito importante: «Os frutos que nesta terra se colhem em maior abundância são centeio, vinho e azeite, castanha e linho» – afirma o Padre Leal. E mais adiante: «Criam-se nestas duas serras gado miúdo e caça de coelhos e perdizes». Há ali às tantas uma referência importante a «oliveiras» e até a ameeiros – o que ainda hoje é verdade. Uma nota: os serviços do Terreiro do Paço perguntavam «se há na serra minas de metais, ou canteiras de pedras, ou de outros materiaes de estimação». Resposta do padre: «Nada».
Mas em matéria de «indústria» o Padre Leal faz ainda uma importante referência às indústrias artesanais do Casteleiro daquela época: «Tem dentro do limite desta freguesia esta ribeira sete moinhos e três lagares de azeite, dois pizoins e algum dia teve também um tinte, porém hoje se acha demolido».
Organização religiosa – No Casteleiro havia uma igreja matriz e quatro ermidas. Havia ainda na Serra d’ Opa uma capela de Santa Ana, onde este povo fazia algumas romagens por ano. Em termos religiosos, esta terra é uma anexa da igreja de Sortelha, Bispado da Guarda.
Organização política e administrativa – Pertence ao concelho de Sortelha, Distrito de Castelo Branco, Província da Beira.
Organização judicial – O Casteleiro pertencia à comarca de Castelo Branco e «está sujeita aos juízes ordinários da vila de Sortelha». O que não admira, visto que, do ponto de vista administrativo, pertencia àquele Distrito e a este concelho. Só passou para o concelho do Sabugal e Distrito da Guarda com a Reforma Administrativa de Fontes Pereira de Melo de 1855.
Nota
Pode ler os textos escritos pelo Padre Manuel Pires Leal aqui, no sítio da Freguesia do Casteleiro.
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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