Há tempos li um livro cuja história me deixou a pensar e que gostaria de partilhar.
Apesar de não ser um «bestseller» de autor famoso e de páginas que não acabam mais – o meu critério de escolha literária passa essencialmente pelo «tamanho», pois boas histórias podem-se contar em formatos pequenos! – o seu conteúdo era, no mínimo, intenso. Um analista reflectia sobre a sua existência e a certa altura deparou-se com a culpa e, de certa forma, com a frustração do que era – apenas um analista. Ele sabia que na corrida ao útero fora o espermatozóide vencedor e isso acarretava-lhe inúmeras responsabilidades face a todos os outros, os vencidos, que haviam ficado pelo caminho. Ele fora o mais resistente, o mais rápido, ganhou direito à vida, à sua vida. E agora… era um simples analista. Questionava-se vezes sem conta que futuro teriam tido os seus outros espermatozóides adversários? Médicos? Engenheiros? Professores? Vagabundos? Que peso trazia ele consigo mesmo… e como poderia ele falhar algum dia? Que cobranças teria de enfrentar? De facto, ele poderia ter sido mil e uma coisa… Tal como nós podemos ser o que quisermos ser. O caminho do que somos não é, por si só, mais valiosos do que aquilo que somos – ou julgamos ser? A viagem é sempre mais positiva do que a meta, apesar de nos fazerem crer que não, apesar deste mundo andar a girar ao contrário e de nos fazerem acreditar que apenas o sucesso deve ser valorizado. Porém, estudo científicos já nos provaram que a felicidade depende de nós, das nossas «lentes» para a vida e que as pessoas que traçam objectivos simples a curto e médio prazo são mais felizes do que aquelas que ambicionam ter asas de ícaro! Aproveitar um raio de sol pode ser tanto ou mais gratificante do que ter a praia toda! Assim, gostaria de sugerir que cada um olhasse com as lentes «positivas», com as lentes da gratidão e da valorização de todas as conquistas – sejam elas grandes ou pequenas são sempre vitórias. Olhar para o que se é e não para o que se quer ser, olhar ara o se consegue e não para o que ficou por conseguir – é este o caminho para dias mais satisfatórios, sem dúvida. Quando a agenda está cheia, repare bem nos itens que a preenchem, serão eles assim tão «importantes» e «urgentes», contribuirão eles para a sua felicidade de facto? Dez ou quinze minutos a meditar sobre isto irá certamente fazer repensar por onde andamos a pisar e para onde andamos a caminhar. Ficar dentro de nós por instantes diariamente é um exercício mental que traz recompensas…
:: ::
«Jardim dos Sentidos», crónica de Carla Novo
Leave a Reply