Em honra de Teresa Duarte Reis, colaboradora do Capeia Arraiana, poetisa que domina, «em harmónica simbiose as técnicas da versificação», recebemos, em forma de «comentário», este belo texto de Manuel Leal Freire, a que decidimos dar o devido e merecido relevo.
Como antigo professor da Escola do Magistério Primário de Castelo Branco – possivelmente o único superstite do tempo em que se tratava de um estabelecimento de cariz privado da propriedade e direcção do Doutor João Folgado Frade Correia, insigne pedagogo e inspirado poeta, vibro ab imo corde com os êxitos dos alunos que saídos da famosa NORMAL espalharam e continuam a espalhar claridade e iluminar cérebros por todo esse vasto mundo onde se fixaram comunidades de raiz lusíada.
E pela minha qualidade de reformador dos ensinos da DIDÁCTICA, que abrangia as LÍNGUAS e a HISTÓRIA, mais e mais fortemente vibro quando vejo uma professora modelada no estabelecimento dominar em harmónica simbiose as técnicas da versificação e a realidade factual, magnificamente cadinhadas por uma sensibilidade verdadeiramente estremecida.
Daí a minha homenagem sentidamente vivida…e que testemunho com uma peregrinação pelos lugares sacralizados pelo quotidiano heroísmo dos vergalhudos da Raia
Cinco concelhos inteiros
Cabem no do Sabugal
Cinco castelos roqueiros
Legendas de armorial
As vilas mortas morreram
Mas os torreões resistem
Nunca os heróis se esconderam
Por onde as heras se enristem
Passado com o futuro
Assim se engavinha e enleia
O porvir será venturo
Se o vaticina uma ideia
Além dos cinco concelhos
Ia o concelho plus ultra
Aprende nos livros velhos
Quem livros velhos consulta
O limite natural
Não se queda na barreira
Dava a guarda o Carvalhal
Castelo Mendo a Cerdeira
O Trans, o Riba, o Cis-Coa
Religou-os Alcanizes
Andaram Burgos á toa
Linha em perenes deslises.
Velavam as cinco vilas
Por sobre a velha Castela
Vigias não tranquilas
Acordadas sentinelas
Vilar Maior, Alfaiates,
Sortelha, Vila do Touro
Inspiram hoje outros vates
É outro o tempo vindouro
Não são sedes de concelho
Mas conservam a glória
Que garante o Evangelho
A quem se revê na Historia
Passado rima com luz
Com o futuro se entrosa
É guia que nos conduz
É rima, mote e glosa
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«Poetando», poesia de Manuel Leal Freire
Ao Sr. Dr. Leal Freire, a minha profunda gratidão, pois quem sou eu para merecer, nem simples e muito menos, tão grandes palavras que a mim se referem, do mui digno escritor. Agradeço profundamente o elogio, que me deixa sem jeito para agradecimentos, a tão insigne poeta sabugalense. E a minha alegria por sabê-lo Professor da minha Escola, onde muito aprendi com o meu Professor Dr. Frade Correia, amante das letras e seguidor de poetas que nos colocou na alma esse amor à poesia. Com o coração a faço e com a alma a sinto. Faço-o “comigo toda” se assim posso dizer.
Obrigada por ter publicado aqui este seu escrito belo aos castelos que também aprendi a amar, pelo contacto com eles. Por eles, fico feliz também. São gigantes vivos da nossa grande alma de portugueses, presença histórica da nossa força, assumindo com eles bons feitos (e talvez também actos menos merecedores de quem é ser humano a errar). É, no entanto, essa garra de lutadores que eu leio nestes defensores dos filhos da terra, nestes símbolos grandiosos da nossa história.
Um bem-haja beirão pela força que me dá para prosseguir com este trabalho e prometo continuar a esforçar-me, embora saiba que ficarei longe do seu “calcanhar”, Sr. PROFESSOR.
Um abraço de Teresa Duarte Reis