O mundo da imaginação encaixa-se, à perfeição, no mundo da escrita. Desta feita, ao anotar, na minha mente, a intenção de escrever um pequeno texto para o Capeia Arraiana, surgiram-me, de novo, imagens dos contrafortes do Monte do Jarmelo. E é convencimento meu que a escrita, como a leitura, podem ser boas formas de viajar!
A minha imaginação parte, então, ao reencontro do silêncio inerte das rochas e da solidão das fragas. Depara-se, ainda, com a quietude dos campos e das árvores, com a calada dos sítios, com o carisma dos vestígios milenares, enfim, com os lugares por onde sempre ansiei perder-me.
Ouço queixar o velho Monte da voragem do tempo que o tem feito envelhecer, envolto em vivências de história e de lendas, por entre contos de amores desabridos ou desabrigados.
Para aqui me escapei milhentas vezes. Aqui regressei, ainda adolescente, na procura do meu habitat preferencial. Agora, mais velho, para aqui me dirijo, não quando quero, mas quando posso e aqui, colho as minhas mais gostosas recordações. Assim me assola a saudade tão só porque ela existe e porque ela persiste naturalmente.
Mas sei da calma do Monte, poucas vezes perturbada. Se penso em movimento imagino apenas o voo desgarrado de algum pássaro ou a passagem sussurrante (em sonorização excepcional) do vento entre as ramagens. Seduz-me o adivinhar verde dos carvalhos e dos castanheiros. Convenço-me da infinidade de histórias que, com certeza, foram contadas sem que nunca ninguém as tenha escrito.
Tudo isto me surpreende tanto quanto me surpreenderia pela primeira vez. Tudo isto se me apresenta repetido e, paradoxalmente, tudo me parece novo. Admiro o rural, o tosco, o inculto mas nunca encontro o incultural. Respiro um inegável e denso ambiente histórico.
Entendo muito bem a razão pela qual o rural se pode impor ao urbano e compreendo-me na minha crescente necessidade de voltar, de voltar sempre. Percebo Torga (à exaustão) quando diz «o pouco que sou devo-o às fragas».
E, quando observo as alturas, revejo o marco geodésico gigante, branco, cintado de negro, picando os céus. É como se o Monte falasse. É como se ele levantasse um dedo enorme para chamar a atenção e gritasse história … contra a solidão humana.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
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este não tinha lido ….e encheu-me de melancolia , não sei bem porquê!!!deve ser bom porque tudo o que nos faz sentir é o que tem mais valor …de que serve escrever bem se nao produz qualquer sentimento ….!!?¿?? achei lindo , triste e melancolico …..
Mais um excelente texto, caro amigo Capelo!!!!
ADEUS,VILA DO JARMELO,
ADEUS,PEDRA DE MONTAR,
ENQUANTO O MUNDO FOR MUNDO
SEMPRE SE HÁ-DE GUERREAR.
Os tres primeiros versos da quadra servem de introito a um quarto fortemente diversificado no conceito
Umas vezes,privilegia-se o material,
ENQUANTO O MUNDO FOR MUNDO
O DINHEIRO HÁ-DE MANDAR
OU
O DINHEIRO HA-DE GANHAR
NOUTRAS–
TRIUNFAM OS SENTIMENTOS
O AMOR HÁ-DE MANDAR…
No meu cerebro,a ideia é multiforme
ESTAVAS LINDA INES POSTA EM SOSSEGO…
A VINGANÇA SOBRE OS MATADORES
A TERRA SALGADA OS BURGOS ARRASADOS …
Mas vem logo a paz edenica
Exatamente, a paz edenica é o que acaba por pervalecer apesar de tudo
Eu não conheço, estou aver que tu também não, melhor fonte de inspiração que os espaços abertos e os horizontes infinitos.