«Lixo Extraordinário» é um fantástico documentário sobre um projecto do artista plástico brasileiro Vik Muniz, que conseguiu criar obras de arte com a ajuda de catadores de lixo de uma das maiores lixeiras do Rio de Janeiro.
Realizado por Lucy Walter, João Jardim e Karen Harley «Lixo Extraordinário» foi um dos nomeados ao galardão de Melhor Documentário na última edição dos Óscares e é um daqueles documentários que nos leva para dentro de uma realidade que não conhecemos.
Partindo de um projecto de Vik Muniz, que pretendeu criar fotografias artísticas com lixo retirado do Jardim do Gramacho, um dos maiores aterros sanitários do mundo, situado no Rio de Janeiro, o documentário vai muito para além de mostrar a arte. Conta as histórias das pessoas que vivem literalmente no meio do lixo, ganhando entre 40 e 50 reais por dia (entre cerca de 17 e 21 euros), segundo nos conta uma das mulheres que lá trabalham, para vender material para reciclar. As imagens daquela enorme lixeira quase que nos fazem sentir o cheiro. Mas são precisamente as pessoas e a sua grande humanidade e forma de estar na vida que nos tocam mais, com as suas histórias no meio da miséria, onde foram parar por falta de alternativas. Mais do que a o trabalho de Vik Muniz, o pretexto para o filme.
Depois de conhecermos alguns dos protagonistas e as suas filosofias («99 não são 100», diz um dos trabalhadores mais velhos, que acabou por ficar de fora dos retratos finais) vamos assistindo à criação dos retratos feitos por Vik Muniz. Primeiro as fotografias tiradas aos protagonistas e depois a sua reconstrução em estúdio, com o material recolhido no Jardim do Gramacho.
Apesar de poder ser considerado como um filme de promoção à obra do artista plástico, o que apenas se poderá notar nas cenas em que ele regressa à casa onde viveu, também numa favela, «Lixo Extraordinário» não deixa de ser um belo filme sobre pessoas e a sobrevivência em condições muito difíceis.
Não há contos de fadas no Jardim do Gramacho, mas este projecto ajudou algumas daquelas pessoas a recuperarem a sua humanidade.
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«Série B», crónica de Pedro Miguel Fernandes
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