Se há coisa que está nos «genes» do português, que nenhum ultimato, ocupação, PEC, acordo ou pacto, impostos pelo Exterior, lhe tiram, é o seu eterno espírito de humor, que mesmo em situações de crises profundas, deriva, quando muito em humor negro.
Desde o «bardamerda» com que o Almirante Sem Medo brindou o cerco à Assembleia da Republica no Verão Quente de 1975, que pessoas com altas funções utilizam o vernáculo, à falta de argumentos mais nobres.
Os exemplos são muitos e os jornalistas não se coíbem de os publicitar e florear desde o feliz desaparecimento do «lápis azul».
A propósito deste ultimo incidente, relembram-se os seguintes mimos:
«– Olhe (Jerónimo de Sousa) vá à merda! Idiota! Mandrião! Vá trabalhar, que é aquilo que nunca fez na vida!» (Francisco de Sousa Tavares, no Parlamento em 1980).
«Sendo pai de um só rebento/ lógica é a conclusão/ de que o viril instrumento/ só usou parca ração-uma vez. E se a função faz o órgão/ consumada essa excepção/ ficou capado o morgado» (Natália Correia, ao deputado João Morgado do CDS em Abril de 1982).
«Mas julgo que nesse domínio, não fiz mais que cumprir o Regimento, cujo artigo 69… curioso número! (…) Com toda a franqueza, não sei do que é que se estão a rir, não sei se é preciso, mandar evacuar o hemiciclo.» (Mota Amaral em Julho de 2002).
«V.ª Ex.ª é uma pessoa honesta e vai esclarecer já a insinuação ou V.ª Ex.ª não passa de um vulgar canalha.» (Jaime Gama para Guilherme Silva, no parlamento).
«Manso é a tua tia, pá» (José Sócrates para Francisco Louça, em debate parlamentar).
«Esses espíritos que se auto-masturbam (referindo-se à oposição). Há aqui uns bastardos da comunicação social do continente e chamo-lhe bastardos, para não lhes chamar filhos da puta. Estou-me a cagar para Lisboa; quero que a AR se foda; defeca baba e ranho (referindo-se Miguel de Sousa Tavares); ou bebeu ou está a ficar senil.» (referindo-se a Almeida Santos). (tiradas do Presidente Regional da Madeira).
Como se vê, esta linguagem, que Sócrates chama de brejeirices, expressões pouco felizes, no dizer de Passos Coelho e Excessos quando se anda acelerado, mais não é que exibição do calão português, usado correntemente, pela actual corrente dos nossos políticos. Tal como fez o ex-ministro da Economia, Manuel Pinho, com os cornos…
Neste último episódio de Eduardo Catroga em que «o desvio do debate político-económico, para o âmbito púbico-capilar» é patente, está-se a desvalorizar a força do dito que ao longo da História Antiga e Moderna, tem dado provas de grande força, mudando-lhe às vezes o seu rumo, como foi o caso de Cleópatra.
Razões têm os antigos ao dizerem que «pode mais um pentelho de gaja, que uma junta de bois».
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«Terras entre o Côa e a Raia», opinião de José Morgado
Por vezes só usando um pouco de humor conseguimos obter o destaque necessario de determinada expressão.
É verdade que, sobretudo na politica, se usa muito o faz de conta e o politicamente correcto e com isto não dizemos o que nos vai na alma mas sim o que os outros querem ouvir e normalmente só dá mau resultado.
A mim não me parece mal nenhum que de vez enquando as pessoas possam ter uns desabafos menos proprios, o que me parece genuino, mas desde que não atinja o insulto barato.
Todos nós deveriamos dar mais importancia ás coisas sérias e verdadeiramente importantes, mas infelizmente esta sociedade e sobretudo a imprensa, está muito mais interessada em tricas e mexericos, porque é isto que vende e que vai desviando as atenções das coisas sérias.
Basta ver a maioria dos programas de telvisão e quase todos os debates ou mesas redonda sobre a politica ou outros temas da actualidade, para se ficar com a ideia do que interessa é mesmo o sensionalismo barato.
Boa; Zé Morgado por todo o texto. Gostei sobretudo da recuperação que fizeste do poema de Natalia Correia.
Abraços
Zé Peca