No final dos anos 1920, antes da chegada do cinema sonoro, o período mudo deixou-nos grandes obras, com cenários grandiosos, sendo um dos mais conhecidos o fabuloso «Metropolis», de Fritz Lang. Mas apesar de ser mais conhecido, este não foi caso único na altura.
Um outro filme que se pode encaixar no mesmo estilo é «O Dinheiro», de Marcel L’Herbier. Apesar de não ser um filme de ficção científica, como o anterior, é um filme gigante (3 horas e 20 minutos, demasiado para um filme mudo) e utiliza muito bem os cenários e as centenas de figurantes. No caso dos cenários, o grande destaque são as cenas filmadas in loco na Bolsa de Paris, que dão uma sensação de confusão que são estes sítios.
«O Dinheiro», filme baseado numa obra de Emile Zola, é uma crítica ao capitalismo. E quão actual continua a ser nos dias que correm. No centro do argumento está o banqueiro Nicolas Saccard, dono do Banco Universal e um especulador nato, que só vive para fazer dinheiro, sem olhar a meios para atingir os seus fins.
No início do filme vemos os seus planos cair por terra, quando um accionista maioritário vota contra um aumento de capital no banco. Mais tarde sabemos que este accionista anónimo era um testa de ferro para um rival de Saccard, Alphonse Gundermann, dono de uma petrolífera que pretende desmascarar Saccard.
O banqueiro resolve então voltar à carga e decide apoiar um projecto de Jacques Hamelin, para valorizar as acções do Banco Universal. Mas o plano de Saccard quer ir mais longe, pois outro dos objectivos é conquistar a esposa do piloto, Line Hamelin. Esta mais tarde apercebe-se do esquema do banqueiro e acaba por levá-lo a tribunal, acusando-o de fraude.
A história de «O Dinheiro» é um excelente conto moral sobre o poder e a influência do dinheiro. Mas vai muito para além de uma simples história. O filme de Marcel L’Herbier, um dos mais caros da altura, tem excelentes cenas e está muito bem filmado.
Para a história ficam as sequências filmadas na própria Bolsa de Paris, como referido atrás. Uma das mais espantosas consiste numa montagem em paralelo onde a partida de Jacques Hamelin acontece ao mesmo tempo em que decorre uma sessão na Bolsa e à medida que o avião levanta voo, também a câmara faz a mesma trajectória, atravessando a sala da mesma forma, dando um efeito fantástico. Uma grande lição de cinema, até para muitos dos cineastas actuais.
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«Série B», crónica de Pedro Miguel Fernandes
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