A «idade dos porquês» não deve ter idade. Apesar de ter crescido a achar que se os adultos estão a dizer que é assim é porque é assim que deve de ser, isso nunca me castrou o pensamento critico, a vontade de questionar e de ter respostas. Se possível, lógicas.
Assim, a «idade dos porquês» é uma eterna forma de estar na vida, se não questionarmos, se não quisermos procurar respostas, limitamo-nos a permanecer adormecidos numa ignorância alegremente insatisfatória. Um dia uma criança, com pouco menos de cinco anos, perguntou-me porque é que as árvores não andavam – pois se eram seres vivos deveriam andar, tal como ele andava! Que resposta lhe daria senão a mais «lógica»? Claro que não andam porque não têm pernas, nem pés que as levem, têm raízes que as prendem à terra, mas crescem para cima, para os lados também. Do mesmo modo porque nós humanos não voamos, porque não temos asas. Anos mais tarde, percebi o quanto estava errada. Sim. Mas essa foi a única resposta lógica que me ocorreu, na época. Se hoje fosse confrontada com a mesma pergunta, lhe diria que sim, que as árvores andam e que os Homens voam. Porque no «nosso» mundo tudo é possível. Existem «n» de probabilidades para um facto, existem «n» caminhos para seguir. Vivemos, quer queiramos quer não queiramos, num mundo de ilusão. Nesse mundo de ilusão construímos, com «n» ferramentas, a nossa realidade e que de facto é só nossa e vimos as coisas com as lentes que escolhemos. Assim, as árvores podem andar, os homens podem voar… as asas, as pernas são as respostas mais lógicas que a nossa realidade ilusória nos tem para dar. Mas, para isso é preciso questionar. Não há «idade para os porquês».
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«Jardim dos Sentidos», crónica de Carla Novo
É o que o petiz está a demonstrar: «Os homens podem voar»…
Adorei ………