Esta semana li um artigo curiosíssimo na Internet. Foi publicado no jornal «Cinco Quinas on-line» e intitula-se «Carta de Um Aldeão do Interior de Portugal». Depois de se referir à vida dura do campo, como se ainda estivéssemos nos anos 50 do século passado, o tal aldeão refere que não tem televisão a cores, só tem televisão a preto e branco, como se alguém ainda acredite nessa peta.
Depois vem, claro, o famoso e sempre habitual discurso sobre os ordenados dos políticos, os tais que falam na televisão a preto e branco, numa linguagem que o aldeão não entende.
Refere que os políticos só dizem mentiras e estão sempre a dizer que só falam verdades.
Segundo o articulista, nas aldeias as pessoas são logo temperadas na forja do ferreiro, com a têmpera certa. Com isso, continua o articulista, a força dos aldeãos vem de dentro e são tão verdadeiros quanto a existência do aço.
Mas este senhor quer enganar quem? Não se sabe que os tais políticos são de todo o lado, seja de aldeias ou cidades? Não é verdade que o Sócrates não é nada da Covilhã, mas sim de uma aldeia de Trás-os-Montes, chamada Vilar de Maçada?
Depois da lengalenga do costume sobre o facto de os tais políticos só virem pedir votos e dizerem que resolvem todos os problemas, o articulista chega à conclusão que é tempo de dizer basta.
Na parte final do artigo, o seu autor ameaça os «políticos» escrevendo que se voltarem a pedir votos na aldeia, a gente logo lhe canta.
E passa, depois, às exigências que são, grosso-modo, as habituais nos tais críticos dos «políticos»: que os deputados sejam naturais do distrito, que haja só 100 deputados, que os ordenados dos «políticos» baixem, pelo menos 50%, e mais uma série de coisas do mesmo género. Realmente, o deputado Francisco Assis não é natural do distrito da Guarda, mas alguém quer saber disso? Quando as pessoas votam, não estão sempre a dizer que votam no Sócrates ou no Passos Coelho? Então, para quê essa preocupação com os deputados terem de ser do distrito?
E, se nada disto acontecer, escusam de aparecer outra vez pela aldeia, já que chegou a altura de dizer basta, conclui o articulista.
Ora, é tempo de dizer basta mas é a esta conversa destes políticos de café (que estão sempre a dizer que não são políticos, mas muito gostam de falar de política) ou de escrita, uma vez que toda a gente sabe que é mais que certo que nas próximas eleições votem nos mesmos, ou seja naqueles que os têm enganado desde há mais de 30 anos. Salvadores da Pátria não existem, nem nunca existiram. Vai uma apostinha que votam nos mesmos?
PS, PSD e, algumas vezes CDS. É isto que o aldeão do interior de Portugal conhece. Tudo o que passe daí já é muita areia para a sua camioneta.
Se num ano foram enganados pelo PSD que prometeu mundos e fundos, nas eleições seguintes já se sabe que o voto só pode ser ou no PSD ou, quando muito, no PS. Para além disso não dá. O boletim de voto tem lá mais de dez espaços para colocar as cruzinhas, mas o que querem, o aldeão só consegue ver três!!!! E não adianta explicar. Ele lá sabe porquê…
Depois vêm com esta teoria de que é preciso mudar? Vão mas é pentear macacos!!!! Há mais de 30 anos que Portugal é governado pelos mesmos: ora do PS, ora do PSD, com ou sem o CDS, mas não adianta…
E, se fossem só os aldeãos a fazer isto… o pior é que os citadinos, apesar de saberem de tudo (ou terem obrigação de saber) continuam na mesma.
Depois, ainda se queixam? Afinal, têm ou não o que merecem?Quero dizer que eu, também sou um aldeão (nascido aldeão, que, entretanto alteraram-me o estatuto para «vilão»), do Interior de Portugal, devo ter sido temperado noutro aço no ferreiro, mas não caio na esparrela, há mais de 30 anos, de votar nesses que fecham centros de saúde, correios e escolas e só não fecham, definitivamente, o Interior porque não têm coragem. Esses não podem, nunca, contar com o meu voto. Sejam de cá da aldeia, ou sejam da cidade.
Nunca, jamais, em tempo algum… E mai nada!!!
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«Política, Políticas…», opinião de João Aristides Duarte
(Membro da Assembleia Municipal do Sabugal)
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