A mocidade de hoje, por força da alteração das leis que regulam o serviço militar, está absolutamente carente de uma educação firme e rigorosa que a prepare para as responsabilidades próprias da idade adulta.
O fim do serviço militar obrigatório foi a maior das asneiras cometidas pelos responsáveis deste país à beira mar plantado. Ao profissionalizar o exército o governo criou uma classe poderosíssima. Os militares que temos não são verdadeiramente filhos do povo, ao contrário do que sucedia quando todos os jovens eram obrigados a ir à tropa. São antes uma classe profissional empenhada na conquista de direitos e de privilégios.
O serviço militar obrigatório teve sempre uma função formadora para a juventude. Era na tropa que o rapaz tímido e introvertido despontava para a vida, aprendendo a desenrascar-se e a lidar com os outros. Era também ali que o jovem rebelde e indomável via refreado o seu ímpeto, sendo obrigado a sujeitar-se às duras regras da vida militar e a obedecer a quem legitimamente lhe dava ordens. Aquele que se portasse mal era castigado e a punição, com a devida dose e medida, preparava-o para o devir.
O serviço militar aprestava o povo para pegar em armas e defender o país de uma agressão externa. O manejo das armas, a aprendizagem das tácticas de combate, a imposição da disciplina castrense, levam a que todo o cidadão estivesse apto a servir a Pátria.
Relembro o essencial das regras de recrutamento militar que havia antigamente. O serviço militar era «pessoal e obrigatório». E dizia-se «pessoal» porque noutro tempo mais antigo um qualquer, se fosse rico, podia furtar-se à tropa enviando alguém em seu lugar. Mais tarde passou a ser unicamente permitida a substituição entre irmãos, mas depois também esta possibilidade caiu, passando a haver regras iguais para todos.
A idade do serviço militar era os 20 anos, sendo porém admissível o alistamento a qualquer mancebo robusto e alto, que completasse os 16 anos.
Ficavam livres da tropa os inválidos ou inúteis por achaque ou lesão indicada numa tabela. O mesmo sucedia com os que tivessem menos de 1,54 metros de altura. Estes últimos ficavam, ainda assim, na chamada «reserva do exército».
O sistema tinha o instituto do «amparo», que beneficiava os mancebos de cujo trabalho e rendimentos a família dependesse em exclusivo. Nestes casos a tropa era apenas obrigatória para efeitos de instrução, sendo que, no final da recruta e logo que o militar ficasse «pronto», passava automaticamente à disponibilidade, podem regressar a casa para sustentar a sua gente.
Era um sistema justo e benéfico para a mocidade e para a defesa do País. Os jovens, ao serem compelidos a cumprirem o serviço militar, recebiam instrução física e moral, que bem necessitavam para se fazerem homens aptos a enfrentar as dificuldades da vida.
Cada moço, ao ir à tropa e assim servir a Pátria, pagava o outrora chamado «imposto de sangue», porventura a mais pesada das contribuições suportadas pelo povo, sendo por isso fundamental distribuí-lo por todos.
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«Tornadoiro», crónica de Ventura Reis
Depois de ler aqui alguns comentários ” sobre assuntos militaristas , digamos assim ” uns contra e outros pros , deixo a minha opinião de que deveria continuar o serviço militar obrigatório . Como devem aperceber se o pais , hoje , não se encontra preparado para uma eventual , ameaça ou evasão ao território , porque as ultimas gerações de jovens não têm o mínimo de conhecimento como agir perante situação, em ” campo ” . Foi para mim , o serviço militar uma experiência única , onde percebi , entendi e preparei me pro futuro , nomeadamente lidar com todo tipo de situação e mesmo com todo tipo de sociedade . Mas a evolução dos tempos leva que mais tarde , a nossa Pátria , o nosso Pais , a nossa cultura , a nossa cidania seja descolorizada e inofensiva por falta de HOMENS , foi o que aprendi a ser no meu serviço militar . Temos provas suficientes hoje , do valor destas ultimas gerações . Foi dito pelo sr. JFERNANDES , que o pais não necessite “hoje” duma estrutura militar como nas décadas anteriores . Há uma expressão popular que diz : NINGUEM SABE O DIA DE AMANHA .
As vezes que se descurou o exército, este pais viu-se em graves apuros. A guerra prepara-se em tempo de paz. Seria bom que tudo fossem “Rosas”… mas a realidade mão é. Espero que um dia, não paguemos caros estes erros que repetimos na impreparação militar.
Caros comentadores:
O serviço militar, seja obrigatório ou não, não é um mal nem um bem universal.
Como todas as tarefas de natureza cívica, têm sempre defeitos e qualidades.
A opção por ser ou não obrigatório, deve ter em conta principalmente as reais necessidades do país. Por isso concordo que, neste momento seja facultativo, pois na minha opinião o País não tem necessidade de manter uma estrutura militar da dimensão que tinha na década de 60 do século passado em que, ai havia, conflitos militares nas ex-colónias.
Quanto à formação dos cidadãos, e sem pôr em causa a instituição militar que certamente forma os que se alistam, parece-me que essa formação deve ser adquirida na sociedade civil, através da família, e da escola.
Por que o tema continua a suscitar interesse neste fórum, convido os interessados a consultar o link abaixo que, num comentário anterior não consegui introduzir:
Serviço Militar teve méritos
cumprimentos a todos
Jfernandes
È curioso, pois concordo plenamente com o tema. Talvez porque tenha cumprido o serviço militar obrigatório e o tenha feito contrariado dado que á data era um jovem recém universitário que teve de interromper o curso para pagar o tal “imposto de sangue”. Hoje, posso testemunhar a lição de vida que aprendi nesse tempo de serviço.
Preocupa-me as novas gerações de Portugueses não terem qualquer tipo de contacto com regras, valores ou princípios que não se aprendem em mais lado nenhum, pois só se aprendem numa instituição militar. Entre muitos, saliento o espírito de corpo, espírito de sacrifício, noção de colectivo, camaradagem, hierarquia, disciplina, ordem e respeito, lealdade, etc…mas mais importante que tudo aprender a viver em sociedade e a respeitar regras (militares) que mais tarde são transpostas para a sociedade civil.
Hoje, vejo uma geração de jovens excessivamente individualistas, alguns, completamente desprovidos de valores e principios, mais preocupados com a aparência e em frequentar um ginásio do que em lidarem com a adversidade, perante a qual sucumbem á primeira contrariedade!!
Percebo que o serviço militar obrigatório tenha sido erradicado, essencialmente, por uma questão de orçamento.
Contudo, o Estado tem a obrigação de formar cidadãos e deveria assim de repensar a reactivação do serviço militar obrigatório, pois os ganhos seriam amplos… inclusive ao nível da taxa de natalidade!
Não concordo com nenhuma de ambas as partes, nem consigo nem com o sr ventura reis.
Os militares que temos não são verdadeiramente filhos do povo ??? Quem vai hoje para a tropa só demonstra um grande carácter! hoje que as pessoas vão por vontade própria e por orgulho vocês dizem isso ?! Era preferível termos lá homens que não queriam nada com a tropa e que só faziam tudo porque eram obrigados ?!?!?! Vocês sabem por acaso o que é ir para a tropa e termos que aturar “burros” e aguentar quando sabemos que basta virar as cosas que deixamos de aturar aquele gajo! Virmos para a xulice? são essas as pessoas que vocês consideram verdadeiramente filhos do povo ? É por pessoas como vocês que só nos põem triste a nós militares e que nós nos questionamos em que povo é que nós temos para questionarem aqueles que dão a vida por vós em caso de necessidade!
Obrigado pelas vossas opiniões mas estão verdadeiramente errado!
Pedro Triães ( “o militar que não é verdadeiramente filho do povo!” )
Sr Pedro Triães, acho que você, pelo seu comentário não percebeu bem o essencial da questão!! Está a dizer a pessoas que provavelmente passaram nas fileiras 30 anos de si que “eles não sabem o que a tropa ??! Virar as costas, porque não está a gostar?? Talvez seja a diferença, os homens não viram as costas…é desde o momento que se da essa possibilidade…eu sou só tempo.do SMO OU SEN, ainda cá estou nas fileiras, e posso dizer que infelizmente os moços, a maior parte,não sabe sequer o que e a faZer, ao sabem sequer, o que e a instituição, o que ela representa…Acho que o SEN incúria de outra forma ao nosso papel nas FA e na sociedade
Peço desculpa pelos “erros” o telemóvel não tem uma velocidade de processamento assim tão boa.
Não sendo hoje a favor do serviço militar obrigatório, não deixo de reconhecer que o mesmo foi para muitos dos nossos jovens a primeira oportunidade de contactarem novas gentes, novas terras e eventualmente assimilarem novas ideias (para além das militares). Por isso, em texto aqui publicado reconheci isso mesmo e convido quem o quizer ler a fazê-lo no link abaixo.
capeiaarraiana.pt/2013/02/18/o-servico-militar-obrigatorio/
Por tudo isto e por tudo o que acima se escreveu, entendo que o Serviço Militar obrigatório hoje pode já não fazer sentido. Mas quando era obrigatório, teve também muitas virtudes de que destaco algumas no texto que refiro neste post.
JFernandes
Discordo com essa posição, num nação democrática e livre como a nossa acho que cada um deve ter o direito de escolher se quer ir servir ao exercito ou não. A disciplina rigorosa isso já não se aplica a estes tempos, cabe aos pais ou educadores dos jovens lhes dar uma educação correta. Não discordo da chamada “palmada” no momento certo, não mata ninguém. Agora serviço militar obrigatório é demais, cabe a cada um decidir o que quer da sua vida, ser quiser seguir melhor. Agora, só cabe ao estado Português criar condições atrativas para que os jovens se interessem por essa vida militar.
Topa não! abaixo a doutrina castrense.
Este é um assunto que merece uma reflexão mais demorada, deixando aqui apenas duas ou três achegas:
1. Em primeiro lugar, o papel que o serviço militar obrigatório teve até ao início da guerra colonial não foi idêntico ao que teve após 1961.
2. Também não se deve esquecer que até que o anterior regime necessitou de renovar os quadros, os oficiais e sargentos já eram profissionalizados, caindo deste modo por terra que naquela altura a tropa era o “povo em armas”
3. Com o fim desta guerra as necessidades de jovens para o serviço militar decresceram o que fazia com que pouco mais de 50% eram incorporados, colocando questões de desigualdade perante a lei. Uns continuavam os seus estudos ou entravam no mercado de trabalho enquanto outros viam a sua vida suspensa por o período em que permaneciam nas Forças Armadas.
4. Por outro lado os jovens que entravam não eram os mesmos de trinta ou quarenta anos antes. Eram jovens com, pelo menos, 9 anos de escolaridade, muitos estudantes universitários ou mesmo licenciados, para quem a tropa já não tinha o papel edílico que lhe querem atribuir.
5. Ao mesmo tempo, a crescente complexidade tecnológica do armamento não se compadecia com jovens que permaneciam escassos meses no serviço militar, o que conduzia a que estes jovens pouco mais eram que mão de obra barata, e, após a recruta, o que mais faziam era trabalhar de borla nas messes e bares.
A questão portanto é, quanto a mim, outra e prende-se em primeiro lugar com saber se hoje Portugal precisa de Forças Armadas e se precisa, defendendo eu que as mesmas tem de ser profissionalizadas dada a complexidade tecnológica que não se compadece com permanências de curta duração, como garantir constitucionalmente que estas se comportem como um verdadeiro esteio do regime democrático pôs 25 de Abril.
A um nível que nada tem a ver com isto, coloca-se a questão de como se cria uma sociedade que entende a Pátria, a Nação, e a sua independência como valores essenciais pelos quais, se necessário, todos dariam a sua vida.
Ramiro Matos
Muito bem explicitado Senhor Ramiro Matos, quanto ao autor do texto inicial, só posso dizer que não conhece as nossas forças armadas para dizer que “São antes uma classe profissional empenhada na conquista de direitos e de privilégios”. Os profissionais que integram as forças armadas são Portugueses iguais aos outros que escolheram “cumprir e fazer cumprir a constituição”. Esquece-se o Senhor Ventura Reis que é graças a eles que pode escrever o que lhe der na real gana.
P. S. Um forte abraço ao excelente Meu Capitão Paulo Lopes, homem de grande nível e natural do Sabugal…
Pessoalmente acho que a tropa nunca foi obrigatório, pois havia excepções: “pedido de espera” que acabava por não cumprir o Serviço Efectivo Normal por via de concluir curso superior, porque quando o terminava já tinha 25 ou 26 anos e como já tinha alguma “barriga” acabavam por ficar dispensados. “objectores de consciência” que era utilizado alegando que a religião praticada não o permitia. Claro que estou a falar do meu tempo, em que fiz a Inspecção Militar em 1992 (Setúbal).
Também nesta época, no final da Insp. eramos informados do resultado (apto ou inapto).
Na 1ª quinzena do Ano seguinte (1993), eram afixados os Editais Militares nas Juntas de Freguesia onde constava o dia e local da apresentação na Unidade Militar para os alistados, os que ficavam na Reserva Territorial ( só iam á tropa em caso de guerra ) e os que ficavam na Reserva de Incorporação ( só iam á tropa, se algum alistado faltasse por motivo de doença, falecimento, etc…durante um prazo de 2 Anos) que por sinal foi o meu caso. Mas como eu sou da opinião do Sr. Ventura Reis, fui ao D.R.M. declarar que pertendia cumprir o S.E.N., tendo então sido incorporado em 21 de Fevereiro de 1994 (R.I. 1) e ter feito Espólio em 20 de Junho de 1994 (Academia Militar), faltando um dia para os 4 Meses e ainda com 19 anos de idade.
O porquê de dever ser obrigatório, já explicou o Sr. Ventura tácitamente. No meu caso, lidei com o bom e o mau da sociedade e a sobreviver no meio de cadastrados, tóxicodependentes, ladrões, pessoas bem formadas, humildes, etc.. de tudo um pouco. Tal como existe uma Hierarquia Militar, na vida civil também há, as pessoas é que não a respeitam ( aluno-professor ) talvez seje o exemplo mais gritante, mas há imensos casos no quotidiano infelizmente. Será por já não ser obrigatório ir á tropa?? não sei até que ponto isto não possa fazer sentido.
Não queria terminar sem citar 3 pessoas ligadas ao Sabugal, com o qual lidei durante os 4 Meses inesquecíveis de Militar e deixo aqui um abraço a todos eles: 1994 – Tenente Garcia (Soito), 1º Sargento Cavaca (Freineda) e ao Civil da Messe de Cadetes Sr. Rito Dias (Soito).
Senhor Ventura Reis:
Os meus cumprimentos.
Concordo com o seu ponto de vista. Em boa verdade a nossa mocidade sentia orgulho em poder fazer o serviço militar obrigatório. Só os patetas alegres é que tudo faziam para não cumprirem esta nobre missão para com a sua Pátria. Havia alguns que até se sentiam muito infelizes por não passarem na “inspecção”, dia de grande alegria para os nossos mancebos. Ainda me recordo da festa rija que era feita nessa data memorável, onde não faltavam os foguetes e a música da concertina.
Infelizmente veio a guerra colonial e aí “mudaram-se os ventos e as vontades”.
Mas não vem para o caso falar, agora, desses tempos ainda muito pouco clarificados da nossa História Militar Ultramarina.
Atentamente.
Henrique Manuel.
pode ver mais em:
http://www.radiomonsanto.pt
Quase nunca concordo com o sr. Ventura Reis. Neste caso, porém, sou obrigado a reconhecer que tem alguma razão. Eu sou a favor do serviço militar obrigatório e não só por o ter cumprido 16 meses.
E então, quando ele escreve que “Os militares que temos não são verdadeiramente filhos do povo” ainda mais razão lhe dou. Efectivamente, quem lembrar dos “slogans” do pós 25 de Abril não pode deixar de lhe dar razão. Alguns dos mais famosos eram : “Soldados, sempre, sempre ao lado do Povo” ou “Soldados são filhos do Povo”.
Não concordando com o militarismo, sei também que um verdadeiro exército tem que ser constituído pelos “filhos do Povo” e não por elites militaristas que hoje o controlam.